Uma Petrobras da diversidade: proposta para a Amazônia

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Por EDELBERTO BEHS*

Qual é a Amazônia que vai hospedar a COP30? A região é pensada no Brasil muitas vezes de forma idílica, sem conhecimento dos problemas, afirmou a economista Esther Bemerguy no evento que o PT e a Fundação Perseu Abramo organizaram em fevereiro, no Rio de Janeiro, pela comemoração dos 45 anos de fundação do partido político.

A Amazônia tem os principais rios de água doce do mundo, no entanto 40% dos amazônidas não têm acesso à água, o que é um paradoxo. Os índices de violência na Amazônia são maiores do que a média brasileira. Isso se deve também à base do negócio desenvolvido na região.

“A violência segue o curso do agronegócio, da mineração e da pecuária. Essas atividades econômicas, que hoje são preponderantes na Amazônia, levam a violência ao território pela grilagem e pela exclusão”, arrolou a economista, que foi secretária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão) da Presidência da República de 2004 a 2011.

Na maioria das cidades da Amazônia há mais pessoas recebendo o Bolsa Família do que empregadas com carteira assinada. Em Manaus, 35% da população vive em favelas, seguida do Amapá, com 25% e o Pará, com 19%. A região é fundamental, lembrou a palestrante, para o enfrentamento das mudanças climáticas, para a herança que será deixada às gerações futuras.

Bemerguy defendeu uma “Petrobras” da biodiversidade para ativar e extrapolar uma cadeia produtiva na Amazônia, o que já vem sendo produzido dentro dos territórios coletivos de povos indígenas, quilombolas, reservas extrativistas. “São mais de 75 mil famílias que sabem produzir e que estão aguardando apenas uma oportunidade” de financiamento a fundo perdido.

Os governos Lula I e II, também o governo Dilma, implantaram Flonas Florestais – Florestas Nacionais, unidades de conservação – segundo o Plano de Desenvolvimento da Rodovia BR 163. Se não fossem as Flonas, o desmatamento da região seria muito maior, garantiu.

É preciso muita ciência para fazer um desenvolvimento sustentável, diferenciado na região, uma nova matriz de conhecimento, que articule o conhecimento científico com o tradicional, “porque quem sabe o que existe de riqueza na floresta são os povos indígenas e tradicionais, que estão lá há mais de oito mil anos”, lembrou.

Ela destacou a interiorização do Ensino Superior na Amazônia. São 34 universidades, com mais de 300 campi em 166 municípios. “Fizemos a demarcação de terras indígenas e quilombolas, a moratória da soja, a Bolsa Verde, o Pronaf da agricultura familiar e o Fundo da Amazônia”, mencionou.

As Universidades com seus campi serão peça importante nos Arranjos Territoriais de Conhecimento, uma articulação do Ensino formal com as comunidades locais, integrando as iniciativas de pequenas empresas que existem na área. O projeto já foi aprovado pelo Conselhão e aguarda a sua implementação pelo governo federal.

Os problemas que estão presentes na região precisam ser enfrentados, porque tanto a Região Norte, como o Nordeste, representa grandes oportunidades para o Brasil, afirmou. Bemerguy traz como exemplo a exploração do uxi amarelo, que produz a bergenina, uma substância cujo quilo custa 95 mil reais no mercado internacional.

“Temos muitas dessas substâncias que já foram identificadas pela ciência da Amazônia”, apontou. Ela admitiu, contudo, que ainda há muito preconceito para o financiamento de atividades econômicas nos territórios coletivos. “Temos que acabar com esses preconceitos, colocar recursos, fortalecer e incentivar a produção camponesa e a agricultura famíliar, restaurar urgentemente as áreas desmatadas”, defendeu.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: Michael Dantas/AFP

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Uma resposta

  1. O maior desafio não é apenas técnico, científico ou econômico. É político. E a política se decide nas urnas.
    Mas como escolher se grande parte da população da Amazônia — e do Brasil — não tem acesso a informações de qualidade, nem consciência de que o voto pode mudar o destino da região?

    A luta pela Amazônia é também uma luta pela democracia informada, contra a manipulação midiática e o silêncio imposto às comunidades tradicionais.
    Sem povo consciente e governos comprometidos, a floresta continuará sendo saqueada.
    A COP30 será o espelho do Brasil: ou mostramos que temos força para unir natureza, soberania e justiça social, ou reforçamos o caminho da barbárie.

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