O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria pressionado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a aceitar os termos de Vladimir Putin para pôr fim à guerra na Ucrânia — sob a ameaça de que o país seria “destruído” caso não houvesse acordo. A informação foi revelada neste domingo (19) pelo jornal britânico Financial Times, que cita fontes próximas ao encontro entre os dois líderes na Casa Branca, ocorrido na sexta-feira (17).
Segundo o jornal, Trump foi direto: ou Zelensky aceitava as condições impostas por Moscou ou enfrentaria a aniquilação total de seu país. A reunião, que deveria tratar do envio de mísseis Tomahawk à Ucrânia, terminou em clima de confronto. O líder americano — descrito pelas fontes como “irritado e aos gritos” — teria repetido os mesmos argumentos que ouvira de Putin em uma ligação no dia anterior, insistindo para que Kiev entregasse a região de Donbass à Rússia.
De acordo com uma autoridade europeia citada pela reportagem, Trump afirmou que Zelensky estava “perdendo a guerra” e o advertiu: “Se Putin quiser, ele vai destruí-lo.” O ucraniano, por sua vez, teria defendido o envio de novas armas e rejeitado a rendição territorial, alertando que o “cessar-fogo” proposto por Washington representaria, na prática, uma capitulação.
Trump, Putin e o fim da política externa tradicional americana
Desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro, Trump tem se afastado da postura histórica de apoio militar a Kiev. O republicano suspendeu sanções à Rússia e bloqueou novos pacotes de ajuda à Ucrânia, alegando que quer “dar uma chance à paz”. Na prática, analistas apontam que a estratégia favorece o Kremlin, permitindo que Moscou se reorganize militarmente e consolide o controle sobre áreas ocupadas.
A conversa com Zelensky reforça essa guinada — e desperta temores entre aliados europeus. O tom adotado por Trump ecoa a lógica de realpolitik que o ex-presidente já havia defendido antes de voltar ao poder: uma política externa guiada por interesses estratégicos imediatos, sem compromisso com princípios democráticos ou direitos humanos.
Para o Financial Times, o novo posicionamento de Washington também sinaliza o desmonte do apoio ocidental à resistência ucraniana. Desde 2022, o conflito já deixou centenas de milhares de mortos, devastou cidades inteiras e empurrou milhões de civis para o exílio.
Um “cessar-fogo” que se parece com rendição
Em vez de novas armas, Trump defende a negociação de um “cessar-fogo imediato”. Mas as condições ventiladas nos bastidores seriam amplamente favoráveis à Rússia — e implicariam o reconhecimento da anexação de Donbass, algo que Kiev sempre classificou como inegociável.
O Kremlin, por sua vez, já havia advertido que o envio de Tomahawks à Ucrânia seria “o fim de qualquer chance de acordo”. Trump usou o argumento como justificativa para manter o veto à transferência dos mísseis, afirmando que a arma é “ofensiva e destrutiva demais”.
Enquanto isso, a Ucrânia enfrenta uma guerra de desgaste, com recursos cada vez mais escassos e dependente de decisões políticas em Washington.
O recuo americano e o avanço russo
A postura de Trump marca uma inflexão histórica na política dos EUA, que desde a Segunda Guerra se posicionavam como garantes do equilíbrio europeu. Ao tratar Putin como um parceiro de negociação e não como agressor, o republicano rompe com o consenso bipartidário que via Moscou como ameaça global.
Analistas ouvidos por veículos internacionais apontam que o gesto também tem valor simbólico: o retorno de Trump à Casa Branca significa o retorno de um isolacionismo autoritário, disposto a sacrificar aliados em nome de interesses estratégicos e eleitorais internos.
A Ucrânia, que há três anos resiste à invasão, vê agora seu principal patrocinador vacilar. E, como resume um diplomata europeu ouvido pelo Financial Times, “o que Trump chama de paz é, na verdade, o triunfo da força sobre o direito”.
Imagem destacada: Print da transmissão pelo canal do Youtube da Casa Branca de um dos compromissos de Trump e Zelensky na sexta-feira, 17.




