Por J. CARLOS DE ASSIS*
Não é surpresa que Donald Trump levante intrigas e insultos contra o Supremo Tribunal Federal brasileiro em defesa de Jair Bolsonaro. Os dois são bandidos da mesma laia. Trump está na Casa Branca por conta de uma falha do sistema judicial norte-americano que possibilita a criminosos comuns assumir o cargo de Presidente da República depois de uma eleição comprada por bilionários. No Brasil a Justiça, mesmo com muitas falhas, não permitiria essa absurda distorção.
O fato é que a invocação de que não apenas o sistema judicial dos Estados Unidos, mas também todo o sistema político do País é caso exemplar que deve ser seguido pelo “mundo livre”, não passa de demagogia e engodo. Na famosa “democracia” norte-americana, quem elege os dirigentes do País não é a maioria do povo, mas duas oligarquias financiadas e movidas pelo dinheiro, que trocam regularmente o poder entre si. Porém, sem muitas diferenças de fundo.
A história norte-americana, principalmente no pós-guerra, é a história de intervenções militares imperialistas em dezenas de países do planeta, em nome dessa suposta “democracia” à meia boca. São intervenções e matanças sem escrúpulos. Quando um país tenta escapar dessas garras imperiais, urde-se, desde a Casa Branca, não apenas golpes contra o governo, mas o assassinato direto dos dirigentes, como aconteceu, sob as ordens de Nixon e Kissinger, com Salvador Allende.
A felicidade do mundo é ter surgido, como contrapeso da hegemonia norte-americana, a força conjunta de China, na economia, e Rússia, como superpotência nuclear. Agora os Estados Unidos já não podem violar sem risco a soberania dos países nuclearizados, ou seus aliados, sem medir as consequências para seu próprio povo. De alguma forma, tem que curvar-se à diplomacia, mesmo diante de uma minipotência nuclear como Coreia do Norte, por causa do potencial de danos que ela pode causar.
A bomba atômica é um bom antídoto contra pretensões hegemônicas de qualquer país. É Xi Jinping, com seu conceito de “mundo multipolar”, e não Trump e sua assessoria belicista, que está com as chaves futuras da história. Países como o Brasil, que voluntariamente abriram mão de construir e armazenar armas nucleares, a meu ver deveriam proteger-se dos Estados Unidos mediante pactos de proteção recíproca, como fizeram os países europeus na OTAN, diante dos fantasmas de uma invasão russa que perturbam as cabeças de seus líderes.
Creio que foi Marco Rubio, o secretário de Estado norte-americano, que desafiou a América Latina a escolher um lado no atual cenário geopolítico. Que não percamos tempo. Com sua pretensiosa intervenção na política brasileira, Donald Trump nos dá uma boa chance de estabelecer com China e Rússia relações que vão além das comerciais e econômicas. Isso pode ser sacralizado no ambiente do BRICS, de que participam três potências nucleares, que também está sob ataque feroz dos Estados Unidos.
Ao contrário do que pensa e tenta fazer Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro da Indústria, é inútil buscar negociação com Donald Trump e seus assessores. Eles não querem acordo, conforme está à vista. Querem subordinação e rendição incondicional na área comercial. Busquemos, portanto, alternativas que temos na Ásia e que, do ponto de vista econômico e comercial, a médio prazo compensarão largamente o que estamos perdendo no mercado norte-americano agora.
O acordo que acaba de ser feito entre China e Brasil para a construção da ferrovia que vai ligar Atlântico ao Pacífico, passando pelo centro do País, é um marco estratégico para o desenvolvimento brasileiro. Esse projeto, que pode oferecer aço e alumínio para a construção de trilhos, substitui o mercado perdido nos Estados Unidos e atropela preconceitos descabidos. É que, se esses preconceitos ainda prevalecem no Brasil contra países com sistemas de governo que as oligarquias ocidentais chamam de “não democráticos, eles estão se amainando, diante do fato concreto dos benefícios de nossa relação com a Ásia.
O fortalecimento do BRICS, que vai na direção contrária ao que muita gente supôs como uma inevitável queda de sua importância econômica e política, tornou-se um imperativo para o Sul Global depois que Trump iniciou a guerra comercial contra o mundo. Eles são nosso porto seguro. A busca de uma moeda única do bloco, raivosamente repelida pelo presidente norte-americano, deve ser perseguida como alternativa para um dólar cada vez mais inconfiável, conforme defendeu Lula.
Entretanto, à falta de boas novas que possa entregar ao povo de seu País, o oligarca presidencial não deixará de fazer intrigas políticas para alavancar sua popularidade, já em aguda queda. É nisso que se encaixa seu apelo impertinente em favor de Bolsonaro e contra o Supremo. Não terá consequências, porém. O povo brasileiro, antes das eleições, não aceitará perdão para os chefes da tentativa de golpe de estado de 8/1.
As eleições do próximo ano, porém, serão um ponto crucial na política brasileira. Gostei do apelo que Lula fez ao povo, ontem, para escolher bem em quem votar. Isso de uma certa forma antecipa o discurso no qual será centralizada sua campanha para o quarto mandato. Em lugar de apenas pedir votos para aliados nem sempre confiáveis, como muitos dos que ocupam hoje cargos em seu ministério, será mais útil orientar o povo a não votar em políticos que o traem, e traem os interesses do Brasil.
É nessa linha, sintetizada no lema do movimento “Vamos Fazer o Brasil Grande de Vez”, que a Tribuna da Imprensa vai atuar no próximo ano. Como não estamos comprometidos com partidos políticos ou ideologias, especialmente as extremistas, agiremos em nome do nacional desenvolvimentismo, que se refere à busca de soluções concretas para os problemas do País de baixo para cima, através dos APLs. Claro que não seremos omissos diante do risco da volta do fascismo no Brasil, como é o desejo explícito de Trump. Mas, nesse caso, enfrentaremos seus ideólogos com os resultados objetivos que estaremos promovendo com a expansão em todo o território nacional de uma rede de APLs sem vinculação direta com políticos.
*J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.
Foto de capa: Imagem gerada por IA
Respostas de 2
VIVA O BRICS !
FORA TRUMP E O IMPERIALISMO DOS EUA, BOLSONARO MILICIANO BABA OVO NA CADEIA.
VIVA O BRASIL SOBERANO !
Parabéns a postura do nosso Presidente. Somos, livres e independentes e temos que preservar essa soberania. Aqui, não é mais o quintal dos EUA.