Todos Contra Lula: Trump, o Front Conservador e a Ameaça Existencial à Democracia Brasileira

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Troupe conservadora - Imagem gerada por IA ChatGPT

Por BENEDITO TADEU CÉSAR*

A eleição presidencial de 2026 no Brasil será um dos momentos mais decisivos da história republicana recente. Em disputa não estará apenas a cadeira presidencial, mas o próprio destino da democracia, da soberania nacional e do projeto de desenvolvimento com justiça social. Lula, mesmo com três mandatos às costas, continua a encarnar esse projeto — e por isso tornou-se o principal alvo de uma frente ampla e articulada de forças conservadoras e autoritárias, nacionais e internacionais.

No centro desse cerco está Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em aliança direta com Jair Bolsonaro e seus operadores políticos. O objetivo é claro: impedir, a qualquer custo, a continuidade do ciclo democrático-popular no Brasil.

1. Trump: O Comando Externo do Golpe em Marcha

Desde que voltou à presidência dos EUA, em janeiro de 2025, Trump tem conduzido uma política hostil ao governo brasileiro. Já impôs sanções contra ministros do STF, elevou tarifas sobre exportações brasileiras e ameaça aplicar embargos setoriais, à semelhança do que fez com Cuba e Venezuela. Seu governo atua com todos os instrumentos de poder — diplomáticos, econômicos e informacionais — para enfraquecer Lula no plano externo e sabotar sua possível reeleição.

Mais grave ainda: Eduardo Bolsonaro afirmou publicamente que Trump não reconhecerá uma eventual vitória de Lula em 2026, caso Jair Bolsonaro esteja inelegível ou preso. Trata-se de uma ameaça real à legitimidade do processo eleitoral brasileiro. Não se trata de teoria conspiratória, mas de um plano golpista internacionalizado, com base em experiências anteriores do trumpismo, no Brasil e fora dele.

Trump vê o Brasil como peça-chave de seu projeto de reconstrução da extrema direita global. E para isso, está disposto a intervir diretamente no processo eleitoral brasileiro — com alianças políticas, recursos estratégicos e um discurso que prepara o terreno para contestar o resultado das urnas.


2. O Front Conservador: Fragmentado na Forma, Coeso no Conteúdo

Internamente, Lula e o campo progressista enfrentam uma frente conservadora e ultradireitista composta por diversos nomes, todos unidos por um mesmo propósito: impedir a continuidade de um projeto baseado na soberania, na justiça social e na democracia substancial.

Michelle Bolsonaro: A Fé Como Estratégia de Poder

Michelle encarna o arquétipo da evangélica redimida: de família marcada por criminalidade, com trajetória nebulosa antes de se casar com Bolsonaro, construiu sua imagem de mulher salva por Deus. Essa narrativa a transforma em figura messiânica para o eleitorado neopentecostal.

Sua candidatura seria mais do que simbólica: ela é o canal direto para garantir a anistia de Jair Bolsonaro, e o retorno pleno do bolsonarismo ao poder, sob um novo figurino. Mas seu conteúdo é o mesmo: autoritarismo, moralismo punitivista e desprezo pela diversidade e pela democracia.

Eduardo Bolsonaro: O Embaixador do Golpismo

Eduardo é o elo entre o bolsonarismo e o trumpismo. Opera como agente da desinformação e da sabotagem institucional. Sua função é clara: preparar o terreno para deslegitimar as eleições, caso a extrema direita seja novamente derrotada. Não é um nome viável para disputar a presidência, mas é peça central da engrenagem golpista.

Tarcísio de Freitas: O Fantoche Tecnocrático

Com ar de gestor técnico, Tarcísio serve aos interesses do bolsonarismo militarizado. Sua eventual candidatura representa a continuidade da lógica de desmonte do Estado e de submissão a interesses externos. É funcional ao projeto de Trump e Bolsonaro, mesmo quando tenta se apresentar como alternativa moderada.

Romeu Zema e Eduardo Leite: Liberais de Fachada

Zema representa o liberalismo radical antissocial. É o gestor que despreza o Estado e os direitos sociais. Leite, por sua vez, tenta ocupar o centro político, mas sua atuação à frente do governo do Rio Grande do Sul revelou insensibilidade, alinhamento com o ultraliberalismo e ausência de compromisso popular. Ambos servem à lógica do capital, não à soberania nacional.

Ratinho Jr. e Ronaldo Caiado: Oportunismo Puro

Sem densidade ideológica ou projeto nacional, apostam em aderir ao bolsonarismo para manter relevância eleitoral. São personagens acessórios num jogo maior, mas que, sob determinadas circunstâncias, podem ser utilizados como vice-presidentes ou pontes regionais.

Ciro Gomes: Do Avanço ao Ressentimento

Ciro já foi referência de centro-esquerda, mas hoje é o cavalo de troia da extrema direita. Sua retórica agressiva contra Lula, recheada de rancor pessoal, o tornou peça útil à estratégia de dispersão do campo democrático. Sem alianças relevantes e isolado politicamente, ajuda mais a extrema-direita do que a democracia.


3. O Que Está em Jogo: Soberania, Direitos e o Direito de Votar

A eleição de 2026 será, sem exagero, a mais perigosa desde a redemocratização. Lula e o projeto petista não enfrentam apenas adversários eleitorais. Enfrentam uma aliança entre poderes imperiais, interesses rentistas, fundamentalismo religioso e autoritarismo digital.

Trump, como chefe de Estado estrangeiro, age como inimigo da soberania brasileira. Michelle, Tarcísio e os demais pré-candidatos da extrema-direita, como opções internas, representam o risco real de reversão autoritária institucionalizada. E todo esse arranjo é sustentado por uma base mobilizada, radicalizada e disposta a confrontar a ordem democrática.


Não estamos diante de uma eleição comum

Estamos diante de um ataque frontal ao projeto democrático e soberano de país. Lula representa hoje a principal barreira à avalanche autoritária que se prepara — interna e externamente — para capturar o Estado brasileiro, silenciar vozes dissidentes e destruir os direitos sociais, trabalhistas e ambientais conquistados com décadas de luta.

O front conservador é barulhento, disperso e vaidoso, mas perigosamente alinhado com interesses internacionais autoritários. O campo democrático precisa entender que não basta vencer nas urnas. Será preciso defender a vitória com organização, mobilização e unidade de propósito. Para viabilizar a vitória, será fundamental a construção de uma aliança democrática ampla, que reúna todo o arco ideológico comprometido com a democracia e a soberania nacional.

Não se trata de alarmismo. Trata-se de ler os sinais do tempo e compreender que, em 2026, o Brasil decidirá não apenas seu futuro político — mas seu destino como nação.

*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.

Ilustração da capa: Troupe conservadora – Imagem gerada por IA ChatGPT


Tags: Trump, Lula, eleições 2026, BTG Pactual, bolsonarismo, Michelle Bolsonaro, Tarcísio, Zema, Eduardo Leite, Ciro Gomes, guerra híbrida, soberania, antipetismo, democracia.

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Respostas de 4

  1. Temos que ser uma esquerda mais realista na disputa da cultura politica da população não so fazendo festinha esquerda festiva

  2. Preocupante. Realmente, não podemos nos enganar. A própria natureza do jogo democrático é utilizada de forma suja por quem não tem escrúpulos. Mais do que nunca será necessário o combate firme às investidas antidemocráticas. A maioria só tem a perder e seu voto precisa ser urgentemente conquistado.

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