Sobre bandeiras e a fins

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Todo primeiro domingo do mês, ocorre a cerimônia de Troca da Bandeira Nacional na Praça dos Três Poderes

De CÁTIA CASTILHO SIMON*

“Perdoar não significa esquecer”

Umberto Eco

Na Copa de 2010 conheci a Alemanha e ouvi de amigos que moravam lá e tinham em média 40 anos, que pela primeira vez eles estavam sentindo orgulho ao contemplarem a bandeira do país. Não tinham memória de vê-las assim tremulando pelas ruas. Até então, não se sentiam à vontade para apreciá-la ou exibi-la, muito antes pelo contrário. A vergonha pelo nazismo foi difícil de ser superada. Para sermos mais exatos, foram necessários 66 anos para que houvesse alguma superação em relação ao uso da bandeira da Alemanha. E eles não foram econômicos no que se refere a condenação do nazismo, proliferam museus que tratam do tema lembrando os horrores aos quais seres humanos submeteram outros seres humanos em nome da superioridade racial, para dizer o mínimo.

A apropriação dos símbolos nacionais é sempre uma estratégia do fascismo que bebe na fonte do conservadorismo. Para Umberto Eco, em O fascismo eterno, ainda que faltassem bases filosóficas ao movimento, “do ponto de vista emocional era firmemente articulado a alguns arquétipos.” O herói é a figura preferida por eles, e a forma como desdobram suas convicções são múltiplas e inesperadas, uma vez que a base do heroísmo é surpreender a qualquer preço.

É por essa linha de raciocínio que a cultura nesses regimes é sempre suspeita, pois pressupõe um pensamento crítico e visão de mundo plural. Assim que o culto à bandeira tem servido a gregos e troianos. Evidente que em uma competição mundial como a Copa do Mundo, as bandeiras não só tremulam como exibem grandezas, muitas vezes fantasiosas.

Quando era criança, nos anos setenta, não entendia a ojeriza que adultos sentiam pela bandeira do Brasil e achava lindo cantar, “eu te amo, meu Brasil’. Assim que precisamos olhar para o momento atual e enfrentar os símbolos apropriados, ressignificando-os, pacificando. Os fascistas não buscam a paz, alimentam-se da beligerância e de teorias esdrúxulas conspiratórias.

Urge olhar para a história sem subestimar os estragos e a capacidade de se reinventar do fascismo. Temos de buscar rapidamente alternativas que nos garantam o direito de torcer e viver por um país de diferentes e plural. Sim, eu te amo, meu Brasil, em toda a sua diversidade.


*Doutora em estudos de literatura brasileira, portuguesa e luso-africanas; e escritora.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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