Por PAULO CANNABRAVA FILHO*
Reconhecimento europeu da Palestina e isolamento de Israel expõem Washington como pivô do conflito e forçam uma reconfiguração geopolítica.
A grande novidade revelada pelo plano de paz para a Palestina apresentado por Donald Trump é que ele escancara aquilo que há muito tempo já se sabia: os Estados Unidos não são apenas aliados de Israel — são os verdadeiros protagonistas dessa guerra.
Ao longo de décadas, Washington tem financiado, armado e dado cobertura diplomática para que Israel mantenha sua política expansionista e violenta contra o povo palestino. Mas o que antes era feito com alguma dissimulação, agora aparece às claras. O plano de Trump evidencia que a paz depende, essencialmente, de uma decisão dos Estados Unidos. Sem o apoio estadunidense, Israel não tem condições de sustentar sua máquina de guerra.
Essa constatação muda o foco do debate: não se trata apenas de pressão sobre Tel Aviv, mas sobre Washington. Os radicais sionistas levaram a violência a um ponto que preocupa até o próprio presidente estadunidense, temendo o impacto político e geopolítico de uma destruição tão brutal. Gaza foi reduzida a escombros, com uma tragédia humanitária sem precedentes recentes.
Além disso, os sucessivos fracassos de cessar-fogo revelam um elemento central: ninguém confia que Israel cumpra acordos. Ao longo de toda a história do conflito, todas as tentativas anteriores de paz foram sistematicamente violadas por Israel, muitas vezes com apoio direto dos Estados Unidos.
Fica evidente, portanto, que qualquer perspectiva de paz real passa antes por uma mudança de postura de Washington. Retirar o apoio militar, financeiro e diplomático a Israel não é apenas uma possibilidade — é uma condição necessária para que cesse a guerra.
A escalada da violência foi tão extrema que até países europeus, historicamente alinhados aos Estados Unidos, passaram a reconhecer formalmente a Palestina como Estado e a declarar apoio político e diplomático aos palestinos. Esse movimento isolou Israel e pressionou Washington. Certamente, pesou também na decisão de Trump de tentar encerrar a guerra: os Estados Unidos não podem sustentar indefinidamente um conflito que perde legitimidade internacional a cada novo massacre.
Esse reposicionamento da Europa representa mais do que um gesto simbólico. Trata-se de um cálculo geopolítico: ao reconhecer a Palestina, diversos países europeus sinalizam que não estão dispostos a arcar com o custo político e moral de apoiar uma guerra impopular perante suas próprias sociedades. A pressão da opinião pública, o desgaste das instituições internacionais e o enfraquecimento da imagem dos EUA como “defensores da democracia” abalaram o consenso que Washington costumava impor no Ocidente.
O isolamento diplomático de Israel se acentuou, e os Estados Unidos foram obrigados a reavaliar sua postura para não perder influência sobre seus próprios aliados. Ao buscar um cessar-fogo, Trump não está agindo por solidariedade ao povo palestino, mas para preservar a posição geopolítica dos EUA e conter a fragmentação do bloco ocidental. É um gesto de poder — não de paz.
O mundo observa. E cada vez mais, a máscara do império cai: não se trata de mediador, mas de protagonista ativo da destruição.
Publicado originalmente em Diálogos do Sul.
*Paulo Cannabrava FilhoIniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul Global, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.
Foto de capa: Trump e Netanyahu, durante encontro na Casa Branca em 29 de setembro de 2025 (Foto: Daniel Torok, Casa Branca / Flickr)





Uma resposta
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