Sem Trump, mas com resistência: líderes locais dos EUA assumem protagonismo na COP30

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Belém (PA), 10/11/2025 - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de abertura da 30a. Conferência das Partes da Convenção-Quaadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Com o governo de Donald Trump ausente da COP30, realizada em Belém, a maior conferência climática da ONU vive uma contradição simbólica: enquanto a Casa Branca se cala diante da emergência planetária, representantes de estados, cidades e instituições americanas desembarcam na Amazônia para reafirmar ao mundo que parte dos Estados Unidos ainda acredita na ciência, na diplomacia e na urgência climática.

A delegação informal norte-americana, composta por governadores, ex-integrantes do governo Obama e lideranças estaduais, tenta preencher o vácuo diplomático deixado por Trump — que, novamente, retirou o país do Acordo de Paris e desmontou políticas ambientais federais.

Entre os nomes confirmados em Belém estão Michelle Lujan Grisham, governadora do Novo México; Jay Inslee, ex-governador de Washington e referência na pauta ambiental; e Todd Stern, que chefiou a equipe americana nas negociações do Acordo de Paris durante o governo Obama. Também participa Gina McCarthy, ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e ex-conselheira de clima da Casa Branca sob Joe Biden.

Eles integram coalizões como a America Is All In e a Aliança Climática dos EUA, que reúnem mais de 20 estados e centenas de cidades e empresas, representando cerca de dois terços da população americana e três quartos da economia do país.

“Os países sabem distinguir o governo federal da nação. Estados e cidades continuarão participando dos debates e cumprindo as metas climáticas”, afirmou Todd Stern, ex-negociador do Acordo de Paris.

“O resto do mundo não pode desistir dos EUA”

O ex-governador Jay Inslee, que está em Belém após participar de eventos preparatórios no Rio, disse que “os Estados Unidos não se retiraram do Acordo de Paris — apenas o governo federal o fez”. Segundo ele, é essencial impedir que “um narcisista negacionista destrua o que a sociedade americana construiu”.

A governadora Michelle Lujan Grisham reforçou a mensagem de continuidade: “Mostramos que a liderança local pode sustentar o que o governo central abandona. Seguimos no caminho de reduzir emissões e construir energia limpa.”

Os estados participantes afirmam já ter reduzido 24% das emissões em relação a 2005, ao mesmo tempo em que aumentaram o PIB em 34% — um contraponto direto ao discurso trumpista de que a ação climática “sabota o crescimento econômico”.

Newsom: “Estamos dobrando a aposta na estupidez”

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, também está no Brasil, onde participou nesta segunda-feira (10) do Global Investors’ Symposium São Paulo 2025, evento do Milken Institute que discute sustentabilidade e inovação em sintonia com a COP30.

O democrata, crítico feroz de Trump, não poupou palavras:

“É uma guerra ideológica a nível federal. Estamos dobrando a aposta na estupidez nos EUA”, declarou.
“É inacreditável que o governo americano não tenha mandado sequer um observador a Belém. Nenhum representante, nem para tomar notas. Isso é um desrespeito ao Brasil e ao planeta.”

Newsom afirmou ainda que a ausência americana reflete “um vácuo moral” e acusou o governo Trump de “ver a crise climática como uma conspiração”.

Trump ataca e é rebatido do Pará

Mesmo ausente da COP30, Trump manteve a retórica provocadora nas redes sociais. No domingo (9), o republicano criticou a construção da Avenida Liberdade, via que atravessa uma área de floresta no Pará, acusando o Brasil de “devastar a Amazônia para agradar ambientalistas”.

A resposta veio do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB):

“No mínimo, o senhor poderia seguir o exemplo do governo brasileiro e investir mais de R$ 1 bilhão para salvar florestas no mundo. Ainda dá tempo de passar na COP30, presidente Trump. Esperamos você com um tacacá. É melhor agir do que postar.”

Pressão à distância e diplomacia tarifária

Embora o governo Trump não esteja oficialmente presente, analistas temem interferência indireta nas negociações. Segundo a pesquisadora Maha Rafi Atal, da Universidade de Glasgow, a Casa Branca tem usado políticas tarifárias para pressionar países e inviabilizar acordos multilaterais, como o imposto global sobre carbono no transporte marítimo e o tratado da ONU sobre poluição por plásticos.

“O recado de Washington é claro: os EUA podem penalizar comercialmente os países que adotarem medidas climáticas mais duras”, afirmou Atal.

Gina McCarthy, por outro lado, minimiza o impacto dessa hostilidade. “Temos poder, temos capacidade de ação, temos autoridade — e vamos usá-la”, declarou em discurso no Fórum de Líderes Locais da COP30.

Esperança de baixo para cima

As coalizões estaduais acreditam que os EUA ainda podem reduzir suas emissões em até 56% até 2035, mesmo sob a atual política federal, graças às iniciativas locais em energia limpa, transporte sustentável e redução de metano.

“Trump fala muito, mas não pode nos impedir de seguir em frente”, disse Inslee. “Ainda temos o poder de controlar nosso destino.”

A resistência climática americana, agora articulada “de baixo para cima”, tenta provar em Belém que o negacionismo não fala por todo um país — e que a transição ecológica, mesmo fragmentada, segue viva nos estados e cidades onde a democracia ainda se traduz em responsabilidade ambiental.


Imagem destacada: Bruno Peres/Agência Brasil

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Uma resposta

  1. O Brasil soberano está de parabéns todo s convidados eles estão fazendo o dever de casa.porque nós estamos chegando com muitas certeza se não cuidar do nosso planeta vai ser muito triste .A natureza vai se resolver fazer uma guera sem procedência . Nos Rio grande do Sul já passamos por este momento foi triste.

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