Por SÉRGIO ARAÚJO*
A condenação de Jair Bolsonaro e dos demais integrantes da chamada cúpula golpista é apenas o prefácio de um livro de terror que ainda não foi concluído. Algo como: cortaram a cabeça da serpente, mas restaram muitos filhotes, tão peçonhentos quanto aquela que os concebeu.
Diante da ameaça à democracia que perdura, os discursos dos que pregam a moderação, como solução para a polarização política, tentam passar a ideia de que com o perdão do lobo mau, o enterro da vovozinha e a entrega do chapeuzinho vermelho para adoção, todos os problemas estarão resolvidos. Mas a realidade mostra que quando se lida com autoritarismo não existe final feliz.
Democracia é um bem inegociável, que não permite meio termo. Menos ainda a suavização das penas para aqueles que atentam contra ela. Tergiversar sobre isso é manter a espada do radicalismo sobre a cabeça da sociedade.
Não existe acordo quando o inimigo é violento, cruel e obstinado. Enquanto perdurar essa ameaça a melhor estratégia é adotar o provérbio latino “Si vis pacem, para bellum” (Se queres paz, prepara-te para a guerra).
Daí a importância das eleições do próximo ano. De um lado, os extremistas de direita, com suas retóricas de defesa da família, do patriotismo, do conservadorismo, do autoritarismo, de elementos neofascistas, do anticomunismo, do negacionismo científico, do porte de armas, do desprezo ao meio ambiente, da rejeição aos direitos humanos e da aversão à esquerda.
Do outro, a esquerda progressista, que se preocupa com igualdade, inclusão social, justiça econômica, valorização da diversidade, preservação do meio ambiente e tantas outras pautas comunitárias.
Neste cenário de dicotomia, tentar despertar no eleitor desinformado o sentimento de que a moderação – a chamada terceira via – é a solução para pacificar o país é querer tapar o sol com a peneira.
Exemplo disso é o chamado “Centrão”, que com seu dissimulado comportamento de mediador, atua como um mercador que vende ilusões em troca de poder (cargos) e dinheiro (emendas orçamentárias).
Sim, o país precisa aplacar os ânimos acirrados que predomina no cenário político e econômico, mas como buscar a conciliação quando o que está em jogo é a soberania popular?
O inimigo já não esconde mais as suas intenções. Quer eleger maioria no Senado e na Câmara dos Deputados para anistiar golpistas, destituir ministros do STF, impedir o presidente legitimamente eleito de governar e outras atrocidades mais.
Com tanto ainda a ser feito para erradicar o extremismo golpista, imaginar que o discurso de bom mocismo será a vacina para apaziguar o país é pretender que o eleitor acredite em conto da Carochinha.
Não existe caminho alternativo quando o horizonte é o caos. E isso precisa ser dito com todas as letras e alto e bom som na campanha eleitoral.
Expor as maldades praticadas e as más intenções do bolsonarismo e seus apoiadores, e alertar para a inutilidade das promessas fantasiosas dos que se portam como abençoados pela neutralidade ativa, é um dever, mais do que uma estratégia, para impedir o retrocesso do país ao patamar de servidão estrangeira e submissão à tirania.
*Sérgio Araújo é Jornalista e Publicitário.
Foto de capa: Sérgio Lima – AFP




