Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
Um cenário indefinido e desafiante
As eleições de 2026 no Rio Grande do Sul se desenham como um ponto de inflexão para a centro-esquerda. As mais recentes pesquisas dos Institutos Real Big Data e Methodus apontam um cenário de indefinição e equilíbrio instável na disputa pelo governo estadual. Os dados não apenas revelam empate técnico nas disputas pelo governo estadual, como também escancaram para a centro-esquerda a urgência de uma articulação política ampla, em torno de um projeto democrático, e enraizada socialmente.
Para o Senado, os cenários apontam lideranças distintas a depender do instituto. O Methodus mostra Pimenta e Manuela à frente, enquanto o RealTime/Big Data aponta Eduardo Leite com ampla vantagem. As diferenças entre os levantamentos reforçam a incerteza do quadro e exigem leitura crítica dos dados.
Três candidaturas em empate técnico
Para o governo do estado, no campo progressista, Edegar Pretto (PT) e Juliana Brizola (PDT) são nomes que aparecem bem-posicionados. Colocados em concorrência eles fragmentam uma mesma base, enquanto unidos constituiriam uma candidatura capaz de largar com vantagem. Segundo o levantamento do Methodus realizado entre 21 e 22 de setembro, Pretto lidera com 19,2%, seguido de perto por Luciano Zucco (PL), representante da extrema-direita, com 18,8%, e Juliana Brizola, com 18,7%.
É importante observar, neste levantamento, o significativo percentual daqueles que não responderam (15,5%) e dos que declaram intenção de voto branco ou nulo (14,3%).

Os números do Instituto RealTime/Big Data, levantados durante os dias 2 e 3 de setembro, são divergentes, como se vê nas tabelas abaixo, mas, ainda que apontem a liderança de Zucco e incluam o nome de Sebastião Melo, eles também reforçam a necessidade para a centro-esquerda de uma ampla articulação que inclua todos os partidos do campo progressista e democrático.
| Intenção de voto para o Governo do Rio Grande do Sul – Setembro 2025 – Menção estimulada % – Real Time Big Data | |
| Cenário 1 | |
| Zucco (PL) | 26 |
| Juliana Brizola (PDT | 20 |
| Edegar Pretto (PT) | 19 |
| Gabriel Souza (MDB) | 12 |
| Paula Mascarenhas (PSDB) | 4 |
| Covatti Filho (PP) | 4 |
| Branco ou nulo | 6 |
| Não responderam | 9 |
| Total | 100 |
| Intenção de voto para o Governo do Rio Grande do Sul – Setembro 2025 – Menção estimulada % – Real Time Big Data | |
| Cenário 2 | |
| Zucco (PL) | 24 |
| Sebastião Melo (MDB) | 21 |
| Juliana Brizola (PDT | 20 |
| Edegar Pretto (PT) | 18 |
| Paula Mascarenhas (PSDB) | 3 |
| Covatti Filho (PP) | 3 |
| Branco ou nulo | 5 |
| Não responderam | 6 |
| Total | 100 |
A posse de Valdeci Oliveira na presidência estadual do PT reacendeu o discurso da unidade, com participação ativa do ex-governador Tarso Genro nas articulações. Surgiram rumores sobre a possibilidade de o PT ceder a cabeça de chapa a Juliana Brizola, o que provocou resistências internas. No PSOL, Luciana Genro é nome natural, embora sofra com a lógica do voto útil frente à polarização.
No caso de Juliana Brizola (PDT) vir a compor uma chapa com um candidato do MDB, como Gabriel Souza, tal movimento, ainda especulativo, teria o potencial de deslocar o centro de gravidade da disputa, favorecendo os interesses da direita. Uma aliança desse tipo poderia esvaziar o projeto de uma frente democrática com base programática comum, ao privilegiar uma solução de conveniência eleitoral sem compromissos sólidos com a transformação social.
Senado: força dispersa ameaça vitória
Chama a atenção a disparidade entre os dados divulgados pelos institutos RealTime/Big Data e Methodus no que se refere às intenções de voto para o Senado. Enquanto o primeiro aponta Eduardo Leite com expressivos 45% e Pimenta com apenas 15%, o segundo mostra um cenário invertido, com Pimenta e Manuela D’Avila liderando com 32,8% e 30,7%, respectivamente, e Leite com 17%. Essa discrepância levanta questionamentos sobre a credibilidade metodológica dos levantamentos e exige uma análise mais cuidadosa sobre amostragens, períodos de coleta, formulação de cenários e vínculos institucionais de cada instituto. As pesquisas não são neutras: são construções que refletem escolhas e contextos.

| Intenção de voto para o Senado – Rio Grande do Sul – Setembro 2025 – Menção estimulada % – Dois votos – Real Time Big Data | |
| Cenário 1 | |
| Eduardo Leite (PSD) | 45 |
| Manuela D’Ávila (sem partido) | 24 |
| Marcel Van Hattem (NOVO) | 17 |
| Sanderson (PL) | 16 |
| Paulo Pimenta (PT) | 15 |
| Luiz Carlos Heinze (PP | 13 |
| Osmar Terra (MDB) | 8 |
| Marco Biolchi (MDB) | 3 |
| Branco ou nulo | 7 |
| Não responderam | 4 |
| Intenção de voto para o Senado – Rio Grande do Sul – Setembro 2025 – Menção estimulada % – Dois votos – Real Time Big Data | |
| Cenário 2 | |
| Manuela D’Ávila (sem partido) | 28 |
| Marcel Van Hattem (NOVO) | 22 |
| Paulo Pimenta (PT) | 20 |
| Sanderson (PL) | 19 |
| Luiz Carlos Heinze (PP | 15 |
| Osmar Terra (MDB) | 13 |
| Marco Biolchi (MDB) | 5 |
| Branco ou nulo | 9 |
| Não responderam | 7 |
O Senado terá duas vagas em disputa e o dado mais eloquente não é a posição dos nomes, mas o alerta: o campo de centro esquerda soma mais de 60% das intenções de voto ao Senado, o que lhe garantiria a conquista das duas vagas em disputa, caso os dados do Instituto Methodus sejam os corretos e a tendência se mantenha.
Os dados do levantamento RealTime/Big Data, no entanto, apontam para um cenário diferente em que a centro-direita, com Eduardo Leite, ocupa importante espaço na disputa de uma vaga ao Senado e a extrema-direita também se faz presente. Na ausência de Eduardo Leite, a extrema-direita passa a ocupar significativo espaço na disputa. A somatória das intenções de voto de van Hatten (22%), Sanderson (19%), Heinze (15%) e Terra (13%) atinge 69%, de acordo com o cenário 2 da pesquisa.
Confirmado este cenário como uma tendência, o campo progressista precisará concorrer unido para a conquista de uma das vagas, para não correr o risco de repetir o desempenho de 2022, quando a única vaga em disputa foi conquistada pela direita, devido à forma de composição da chapa.
Naquele pleito, o ex-governador Olívio Dutra concorreu ao Senado numa chapa puro sangue da esquerda, sem composição mais ampla: ele (PT) encabeçava a chapa, tendo Roberto Robaina (PSOL) como primeiro suplente e Bruna Rodrigues (PCdoB) como segunda suplente. A opção por não formar uma aliança estratégica e ampliar a base eleitoral acabou por dificultar a consolidação de uma candidatura competitiva o suficiente para derrotar o general Hamilton Mourão, que foi eleito mesmo sem vínculos políticos com o estado. A lição permanece atual: sem articulação mais ampla, a fragmentação das forças de centro-esquerda pode custar caro.
Importa destacar, ainda, a decisão do senador Paulo Paim (PT) de não concorrer à reeleição. Figura histórica da luta pelos direitos sociais e da resistência democrática, Paim declarou publicamente que é hora de renovar as lideranças e abrir espaço para novas vozes no Senado. Apesar das pressões internas para que reconsiderasse sua decisão, ele manteve sua posição, reiterando o compromisso com a renovação política e com a construção de uma frente unificada.
Lula lidera e projeta força no RS
A performance de Lula nas pesquisas presidenciais reforça esse diagnóstico. O petista lidera tanto na sondagem estimulada quanto na espontânea no estado. Com 23,6% na estimulada, ele aparece à frente de Michele Bolsonaro (17,2%), Eduardo Leite (15,3%) e Tarcísio de Freitas (14,9%). Na espontânea, a vantagem se mantém: Lula marca 18,3% contra 12,5% de Jair Bolsonaro. Esses números indicam uma base sólida no eleitorado gaúcho, que pode irradiar força para as candidaturas locais se houver articulação eficaz.

Hegemonia ou aliança?
Entretanto, não há vitória possível sem enfrentar o problema da fragmentação. O PT precisa abandonar qualquer resquício de pretensão hegemônica. Seu tamanho e capilaridade eleitoral não justificam, por si só, a liderança automática de uma frente ampla. Liderar, neste contexto, é ceder quando necessário, articular com generosidade e reconhecer a legitimidade de outras forças políticas.
O PDT, por sua vez, precisa abandonar antigas alianças à direita que o tem levado a ambiguidades programáticas em relação a sua história política. É hora de retomar o fio histórico do trabalhismo democrático, que sempre se fez em diálogo com os interesses populares. O PSOL, com Luciana Genro, tem um papel relevante, mas precisa ponderar entre o valor da afirmação de sua identidade e a efetividade da disputa eleitoral.
O PSB precisa reencontrar sua coerência política. Sua trajetória, marcada pela defesa da justiça social, da educação pública e do desenvolvimento sustentável, e sua atuação hoje em nível nacional não autorizam ambiguidades, nem alianças oportunistas. O partido tem responsabilidade estratégica na construção da frente democrática e precisa se posicionar com clareza ao lado das forças progressistas.
Uma frente democrática por projeto
A construção de uma frente democrática precisa partir de critérios de viabilidade e compromisso programático, e não da simples soma de legendas. Precisa incluir mecanismos transparentes de definição de candidaturas, com base em dados, pesquisas e pactos partidários. Não se trata de apagar diferenças, mas de organizá-las em torno de um horizonte comum: barrar o avanço autoritário e disputar o poder com projeto, coragem e responsabilidade.
Bancadas são parte da equação
Também não se pode negligenciar a importância das bancadas legislativas. A transformação social e econômica que o quarto mandato de Lula exige passa, necessariamente, por uma base parlamentar sólida e comprometida. A Assembleia Legislativa do RS e o Congresso Nacional seguem dominados por forças conservadoras que bloqueiam reformas, impõem retrocessos e inviabilizam políticas públicas estruturantes. É preciso eleger deputadas e deputados alinhados com um projeto de soberania, justiça social e democracia.
Cinco passos para a construção da unidade
Diante disso, cinco movimentos se impõem:
- Criação de instâncias de deliberação compartilhadas entre partidos democráticos;
- Formulação de um programa mínimo com eixos estratégicos claros;
- Cessão estratégica de protagonismos para garantir unidade;
- Mobilização imediata das bases e lideranças;
- Disputa direta dos indecisos e abstencionistas, que ainda representam um contingente decisivo.
Unidade ou derrota
As pesquisas não oferecem certezas, mas pistas. E todas apontam para o mesmo sentido: a vitória do campo progressista no Rio Grande do Sul depende, essencialmente, de sua capacidade de construir unidade com método, inteligência política e compromisso democrático. Fragmentado, será derrotado. Articulado, tem todas as condições para vencer, governar e transformar.
*Colaborou Maria da Graça Pinto Bulhões, Dra. em Sociologia, Professora aposentada da Universidade Federadl do Rio Grande do Sul e integrante da Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito – Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.
Ilustração da capa: Imagem gerada por IA ChatGPT
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Respostas de 2
Excelente. O resumo é: SABER UNIR ou marchar, inexoravelmente, para perder! Com tudo o que isso significa.
Parabéns para os autores e que os protagonistas estejam à altura!
Por que não tentar, pela primeira vez, colocar o PDT na cabeça de chapa para o Governo do RS e o PT como vice? Acredito que desse modo uniremos a centro-esquerda. E o PT faz o exercício de inverter o processo: sempre o PDT ajuda o PT a vencer.