Por MARIA LUIZA FALCÃO SILVA*
A extrema-direita brasileira construiu uma caricatura do país: um Brasil em ruínas, sitiado por impostos, afugentando investidores e marchando rumo ao colapso. É uma narrativa de conveniência, repetida à exaustão para deslegitimar o governo e alimentar o ressentimento de suas bases. Mas, enquanto seus porta-vozes fabricam o caos, os indicadores reais — crescimento do PIB acima da média mundial, inflação controlada, desemprego em queda e reservas cambiais robustas — desenham outro retrato: o de um país que se reergue com racionalidade e responsabilidade.
O banqueiro que não comprou o apocalipse
É nesse contexto que entra André Santos Esteves, fundador e presidente do BTG Pactual, o maior banco de investimento da América Latina e símbolo incontornável do capitalismo financeiro brasileiro. Autodidata, com trajetória meteórica desde o antigo Banco Pactual nos anos 1990, Esteves é a própria personificação do “mercado” que a direita diz representar. Suas palavras, portanto, têm o peso de quem entende o jogo do capital global — e o que ele disse recentemente desmonta a farsa da decadência brasileira.
Em entrevista ao Financial Times (30 de abril de 2025), Esteves afirmou:
“Brazil has a strategic importance which goes beyond its GDP or its military presence.”
“O Brasil tem uma importância estratégica que vai além do seu PIB ou de sua presença militar.”
E completou:
“Brazil is the key provider of food security to the world.”
“O Brasil é o provedor-chave da segurança alimentar do mundo.”
O jornal britânico resumiu o espírito da conversa: “The ‘Goldman of the Tropics’ wants to help Brazil feed the world… by capitalising on Brazil’s position as a leading exporter of agricultural produce.”
“O ‘Goldman dos Trópicos’ quer ajudar o Brasil a alimentar o mundo, aproveitando sua posição de grande exportador agrícola.”
Essas frases, pronunciadas por quem dirige o maior banco de investimento do país, não são retórica patriótica — são leitura estratégica. O banqueiro que mede riscos e lucros aposta no Brasil como potência de longo prazo, como centro de estabilidade num planeta em transição energética e alimentar.
A aposta de quem entende de risco
Esteves não fala por entusiasmo ideológico, mas por cálculo racional. Sua visão implica reconhecer que o Brasil, sob a liderança de Lula, consolidou um ambiente previsível, com fundamentos sólidos e respeito institucional — raridades num cenário global de incertezas. Ele chega a citar, com admiração, a maturidade institucional do país:
“The alarm, in Brazil, when inflation expectations rose to 5.5 per cent, shows an enormous institutional evolution compared to the era of hyperinflation.”
“O alarme, no Brasil, quando a expectativa de inflação subiu para 5,5 %, mostra uma enorme evolução institucional em relação à era da hiperinflação.”
Traduzindo: até o mercado reconhece que o país aprendeu a se proteger de si mesmo, e que a democracia econômica voltou a funcionar.
A caricatura e a realidade
Enquanto isso, a direita insiste em vender um Brasil imaginário com uma realidade paralela — o Brasil do caos. É a farsa que move suas redes: inflação fora de controle, fuga de capitais, desconfiança internacional, ameaça de comunismo. Nada disso resiste aos números ou às análises de quem investe bilhões com base em dados, não em ressentimento.
O contraste é gritante: de um lado, o histerismo político; de outro, o realismo econômico. O elogio de André Esteves desmonta, por dentro, a retórica da destruição. Se até o “banqueiro dos trópicos” aposta no Brasil sob Lula, o que resta à extrema direita senão o desespero retórico?
A caricatura desaba diante da realidade: um país que volta a crescer, a gerar empregos, a negociar e presidir em 2025 o G20, o BRICS e a COP-30; um Brasil que atrai investimento verde, fortalece instituições e assume papel central na transição ecológica global.
O paradoxo da direita órfã
A ironia histórica é que a direita, que se apresentava como voz da “livre iniciativa” e guardiã do “mercado”, perdeu o próprio mercado como aliado. O capital financeiro, pragmático por natureza, reconheceu antes dela que pessimismo não rende dividendos.
A aposta de Esteves — e de tantos outros que observam o Brasil com olhos desarmados — é na normalidade, na previsibilidade e na reconstrução da confiança. Em vez de torcer pelo fracasso, ele vislumbra o país como ativo estratégico global.
Eis o paradoxo final: o banqueiro que sempre representou o sistema financeiro é hoje quem desmente, com fatos e resultados, o discurso apocalíptico da direita fascista. O “mercado”, afinal, aprendeu o que o bolsonarismo jamais compreenderá — que o Brasil real é muito maior que o Brasil da fantasia e do ódio.
*Maria Luiza Falcão Silva é PhD pela Heriot-Watt University, Escócia, Professora Aposentada da Universidade de Brasília e integra o Grupo Brasil-China de Economia das Mudanças do Clima (GBCMC) do Neasia/UnB. É membro da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED). Entre outros, é autora de Modern Exchange Rate Regimes, Stabilisation Programmes and Co-ordination of Macroeconomic Policies, Ashgate, England/USA.
Foto de capa: Luiz Prado/Luz – Wikmedia Commons




