Por LÉA MARIA AARÃO REIS*
*O governo atual de Israel começou a anexar, ocupação à força das armas e da contínua e indizível violência e crueldade, os terrenos já devastados do sul da faixa de Gaza, Palestina. E amplia operações violentas e cruéis na Cisjordânia, também Palestina, região ocupada ilegalmente desde 1967 embora seja conhecida pelo eufemismo de Autoridade Palestina.
*Em Jabalia, Gaza, um hospital foi novamente alvo de ataques. A clínica administrada pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) abrigava mais de dois mil civis palestinos deslocados. A bomba caiu enquanto as crianças jogavam futebol e as mães cozinhavam com lenha. Vinte duas pessoas, incluindo pelo menos treze crianças, foram mortas.
*”Isto é um filme de terror ou um pesadelo? Infelizmente, essa é a realidade de um genocídio para o qual não encontramos mais palavras”, registra a agência Europalestine.
*Manifestações e marchas de protesto denunciando o genocídio cometido contra palestinos pedem o embargo de armas (batizadas de ‘bombas de Trump’) vendidas ao atual governo israelense, e prosseguem esta semana em muitas cidades do planeta. Em Nova Iorque, no Times Square; na Indonésia, na Córsega, em Estocolmo. Nas feiras de Paris, abacates importados de Israel estão sendo vendidos com as falsas etiquetas de made in Marrocos para não encalhar (CAPJPO – EuroPalestine).
*O programa é visitar o novo prédio do Masp, em São Paulo. Suas obras de ampliação foram inauguradas e o museu passou a contar com um espaço maior para suas exposições. O edifício Pietro Maria Bardi tem novas galerias climatizadas, iluminação de última geração e uma estrutura mais adequada para receber mostras, oficinas, seminários, cursos e palestras.
*Da ex-presidente Dilma Rousseff e exitosa atual presidente do Novo Banco do Desenvolvimento, o Banco dos Brics, reportando-se ao tempo da ditadura civil-militar de 1964, quando esteve presa e foi torturada no presídio Tiradentes, em São Paulo: ”Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida. (…) ”Uma das coisas que me aconteceu naquela época é que meu dente começou a cair e só foi derrubado posteriormente pela Oban. Minha arcada girou para outro lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor”. (Entrevista ao Brasil de Fato).
*De João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: ”A sociedade brasileira precisa debater e decidir se continuará dependente do modelo agroexportador ou se vai optar por outro, que priorize a produção de alimentos e garanta acesso a todos os brasileiros com preços justos. (…) ”Precisamos estimular a produção por meio da agricultura familiar e da organização de agroindústrias cooperativas em todos os municípios brasileiros. Cada região dos estados deveria ter uma rede de produção que garantisse a soberania alimentar e não dependesse do abastecimento controlado por algumas empresas e pelo transporte rodoviário. É um absurdo que caminhões saiam de Chapecó com carne de frango e suína para abastecer Belém. É um absurdo que caminhões levem tomates e verduras da Ceagesp, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo para Rondônia” (Em A Terra É Redonda).
*O chamado Ano Brasil na França foi reeditado e será realizado como uma temporada durante os meses de maio e dezembro deste ano, com eventos produzidos do lado brasileiro e na França. Voltam às boas as relações culturais entre os dois países para além do ex-governo do hoje inelegível.
*Bom programa da quaresma: assistir filmes da programação do Museu do Ipiranga. Chama-se Cinema no Museu e está começando amanhã (dia 5/4). A edição de estreia é dedicada ao filme Tava, a Casa de Pedra, de 2012, produzido pela ONG Vídeo nas Aldeias fundada pelo indigenista Vincent Carelli. No debate após o filme, Patrícia Ferreira Pará Yxapy e o cineasta Ariel Ortega Kuaray Poty, ambos diretores do documentário (Entrada gratuita).
“Alguma coisa está fora da ordem, fora da Nova Ordem Mundial”. Os versos se referem ao momento geopolítico pós Guerra Fria com os Estados Unidos dando ordens de única superpotência emergente. Agora, 34 anos depois, a História se repete? Ao contrário? Superpotência submergente?
*Uma boa leitura: A Coluna Prestes, de Anita Leocádia Prestes, volume relançado em comemoração aos cem anos da Coluna Prestes, e fruto da tese de doutorado da autora defendida em 1989, na Universidade Federal Fluminense. Durante 2025 e até maio próximo serão realizadas diversas atividades para celebrar o centenário da Coluna, de 1924 a 1927. Prefácio de Maria Yedda Leite Linhares, texto de orelha de Geraldo Barbosa e texto de quarta capa de Carlos Scliar e Oscar Niemeyer (Ed. Boitempo e disponível também em e-book).
*É tempo de entrar em cartaz o documentário O Nascimento de H. Teixeira, de Roberta Canuto, em memória e homenagem a Heloísa Teixeira (ex-Buarque de Holanda). Foi exibido em 2024 no Festival do Rio com a promessa de estrear este ano.
*De Lejeune Mirhan, sociólogo, professor, escritor, colaborador da revista Escala e arabista membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, sobre a omissão da comunidade internacional, em especial da mídia ocidental, que trata a questão palestina com parcialidade. “O mundo finge que não vê. Não se fala mais em negociação, não se fala em resgate dos reféns, não se fala em cessar-fogo. O que estamos vendo é um extermínio planejado e sistemático”, ele lamentou. “O projeto sionista é o extermínio do povo local, como aconteceu com os indígenas na América. Essa é a lógica: limpar o território para colonizar. Quem não enxerga isso está iludido”.
*No próximo dia 10 sobe nas telonas o doc Antônio Bandeira – O Poeta das Cores, de Joe Pimentel, narrado e conduzido pelo sobrinho do pintor cearense, Francisco Bandeira. “Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura”, dizia Bandeira, um ícone das artes plásticas brasileiras nos primórdios dos anos 60, um artista reconhecido internacionalmente.
*Grande novidade no Festival de Cinema de Gramado desse ano: a 1ª Mostra Nacional de Cinema Estudantil do Educavídeo que reunirá filmes produzidos em escolas por alunos do Ensino Médio e do Ensino Fundamental. O evento abrirá a programação de Gramado, dia 13 de agosto. As inscrições podem ser feitas entre 7 e 25 de abril no site do festival onde estará disponível o regulamento.
*O tradicional Festival É Tudo Verdade se estende até o próximo dia 13/04, e é incrível ver o impulso que o filme Ainda Estou Aqui deu e ainda está proporcionando ao cinema brasileiro. Apenas um exemplo: os docs Ritas e Viva Marília, sobre Rita Lee e Marília Pera abrem a festa do É Tudo Verdade.
*De olho nos filmes brasileiros que estão chegando este mês e nos próximos: Virgínia e Adelaide, Manas; Lan, o caricaturista, Noel Rosa – Um Espírito Circulante, Serra das Almas.
*Ainda Estou Aqui estreia no streaming neste fim de semana, domingo, dia 6, na Globoplay. Até agora, no Brasil, o filme faturou 112 milhões de reais. Duzentos milhões no mundo, em 12 países.
*Da psicanalista Cauana Mestre, mestre em Literatura da Universidade Federal do Paraná sobre a série Adolescência e o protagonista Jamie: (…) ”O que significa ser uma menina e ser um menino hoje? Como é possível desejar sem invadir? Como encontrar um lugar no discurso quando não há mais discurso, há apenas a falação? E a pergunta derradeira de Jamie, tão cortante e desesperada: afinal, entre todas essas cartilhas, o que preciso fazer para ser amado? Jamie denuncia essas questões, e quando digo que a série constrói um tratado sobre todos nós é porque escancara nossa cegueira coletiva. Ainda não aprendemos a ouvir os adolescentes, e continuamos caindo no perigoso senso comum da aborrecência” (GGN).
Publicado originalmente no Fórum 21.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
lustração de capa: Marcos Diniz
