Por LÉA MARIA AARÃO REIS*
*Atenção à carta enviada por dezenas de políticos, artistas e movimentos sociais solicitando ao governo do presidente Lula o rompimento de relações diplomáticas e comerciais, e o intercâmbio de material e tecnologias militares com o estado israelense de Benjamin Netanyahu que já matou, em 600 dias de massacre, mais de 53 mil palestinos: “O Brasil reconhece o Estado Palestino e trabalha internacionalmente para que tenha seu lugar na Organização das Nações Unidas. É urgente deter o massacre. Não se pode conviver com um Estado genocida. O Brasil deve romper relações com Israel”.
*A iniciativa é do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções/BDS e pede o isolamento econômico e político de Israel. Na lista de assinaturas, além da CUT e de vários outros coletivos, constam as de Carol Proner, Chico Buarque, Emir Sader, Manuela D’Ávila, Milton Hatoum, Paulo Sérgio Pinheiro, Chico Diaz, Vladimir Safatle, Guilherme Boulos.
*“Destaque para as palavras do general Yair Golan, ex-vice-chefe das Forças Armadas de Israel e atual presidente do Partido Democrático, da esquerda israelense: “Um país com sanidade não mata bebês como hobby”.
*Paulo Sérgio Pinheiro, professor de Ciência Política da USP e ex-ministro dos Direitos Humanos, em texto recente: “É com profunda indignação que manifestamos nosso repúdio à decisão do Senado Federal brasileiro, que, por unanimidade, declarou o dia 12 de abril data oficial de celebração da ‘amizade Brasil-Israel’. Trata-se de um gesto inaceitável, de insensibilidade extrema, especialmente em um momento em que o Estado de Israel intensifica uma campanha sistemática de extermínio contra a população palestina na Faixa de Gaza”.
*De 02 a 04 de junho, reunião de cúpula organizada pela França e Arábia Saudita, na ONU, com representantes de Teerã, da Rússia e da Índia para tentar aprovar (mais uma vez) a solução de dois estados – o palestino e o israelense -, exigindo que Israel “ponha fim à sua presença ilegal no Território Palestino Ocupado”.
*Grande patriarca do pensamento francês, o sociólogo e filósofo Edgar Morin, aos 103 anos de idade, em vídeo cancelado no YouTube, porém republicado no site Europalestine no dia 20 de maio, denunciando o genocídio em Gaza e “de todos aqueles seus cúmplices” (…). “O silêncio do mundo dos Estados Unidos, protetores de Israel, o silêncio dos países árabes, dos países europeus que se dizem defensores da cultura, da humanidade e dos direitos do Homem. Vivemos uma tragédia horrível; e somos impotentes diante dela. Olhemos as coisas de frente e continuemos testemunhando os acontecimentos não nos deixando esquecê-los ou nos iludirmos com eles”.
*Este ano, a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, com sede na Coreia do Sul, terá como campanha central a convocação de ações coletivas para o combate da poluição causada por artefatos e utensílios de plásticos.
*Com o objetivo de trabalhar a educação em companhia da literatura e enriquecer o ensino oferecido pelas escolas promovendo o debate sobre meio ambiente, foi lançada a série de livros Turma do Planeta, da educadora e escritora Silvana Gontijo, ilustrada por Mirella Spinelli. Os livros reúnem 14 personagens viajando no tempo através da música e vivenciando desafios ambientais, éticos, científicos e estéticos. (Ed. Yellowfante/Grupo Autêntica).
*Um outro importante lançamento de abril último: o livro Brevíssima história do conflito Israel-Palestina, de Ilan Pappe, traduzido por Alexandre Barbosa de Souza. O autor observa: “O conflito não começou em 7 de outubro de 2023. Suas raízes remontam a muito antes, mergulham mais fundo no passado, e são anteriores a 1948, ano da fundação do Estado de Israel. Seus primórdios podem ser encontrados no final do século XIX”. No texto de apresentação do volume, Pappe continua: “Espero que as injustiças infligidas aos palestinos por mais de um século inspirem os leitores onde quer que eles estejam a se solidarizar com sua luta e a se posicionar contra sua opressão”.
*Pappe, 71 anos, nasceu em Haifa, filho de judeus alemães fugidos da perseguição nazista. Historiador respeitado foi professor na Universidade de Haifa até ser demitido por aderir a um boicote cultural às universidades israelenses. Mudou-se para a Inglaterra e lá assumiu a direção do Centro Europeu de Estudos Palestinos da Universidade de Exeter. Entre seus livros traduzidos para o português, Dez mitos sobre Israel (Tabla, 2022), A limpeza étnica da Palestina (Sundermann, 2012) e História da Palestina Moderna (Caminho, 2007).
*O filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho, O agente secreto, recebeu o Prêmio da Crítica, Art et Essai, em Cannes, além de Melhor Interpretação Masculina, de Wagner Moura, e de Melhor Diretor.
*O prêmio Palma de Ouro ficou com Um Simples Acidente, do iraniano Jafar Panahi, um dos diretores mais audaciosos do cinema contemporâneo, preso diversas vezes em seu país. Panahi já brilhou em Cannes e nos festivais de Veneza, Berlim e Locarno onde recebeu os prêmios principais.
*O excelente argumento de Um Simples Acidente é este: um homem dirige à noite pela estrada, em companhia da mulher grávida e da filha pequena quando atropela um cachorro. O carro quebra e ele estaciona em uma oficina no meio do nada, de propriedade de um mecânico. De repente, ele acredita que o mecânico é o seu torturador na prisão. Mas uma dúvida surge na sua cabeça: o mecânico é realmente o seu agressor ou ele está apenas descontando a sua frustração em outra pessoa?
*As dúvidas em relação à memória de um passado doloroso é outro ótimo argumento desenvolvido no filme argentino coproduzido pelo Uruguai, A Procura de Martina, de Márcia Faria. O longa segue a jornada no Rio de Janeiro de Martina tentando encontrar o neto sequestrado durante a ditadura militar, mas já sentindo os primeiros sinais da doença de Alzheimer. Inspirado em histórias reais das Avós da Praça de Maio, o drama estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 5. Imperdível.
*Relembrando mais um filme brasileiro que obteve grande sucesso no Festival de Berlim de fevereiro. O Último Azul ganhou o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri, é de autoria do excelente cineasta pernambucano, Gabriel Mascaro, e traz no seu elenco Denise Weinberg e Rodrigo Santoro. O tema do filme de Mascaro: em um futuro distópico pessoas com mais de 75 anos de idade são despachadas para colônias. Prestes a ser exilada, a protagonista Tereza se rebela e tenta uma fuga pelos rios amazônicos.
*Já o doc Vai pra Cuba, Eduardo, de Juliana Baroni, produzido pelo Instituto Conhecimento Liberta, ganhou o prêmio de Melhor Documentário do Ano no Los Angeles Brazilian Film Festival. Retrata a vida em Cuba livre de preconceitos, apresentando verdades inéditas e imagens históricas do país. “Não é possível dizer que vivemos em um mundo democrático enquanto não for resolvida a questão do bloqueio econômico a Cuba”, é a observação da diretora e do produtor do filme, o empresário Eduardo Moreira, um dos fundadores do Instituto Conhecimento Liberta, o ICL. Vai pra Cuba, Eduardo, completo e gratuito, está no site icl.com.br.
*Anotação precisa da atual ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República, a deputada Gleisi Hoffmann: “É simplesmente admirável que a nossa indústria tenha resistido à era Paulo Guedes, marcada por uma política externa entreguista e pelo desmonte deliberado da economia produtiva nacional. Com Lula, o Brasil renasceu como potência industrial e os resultados dessa produtividade nos mostram que estamos no caminho certo”.
*Programa cinematográfico que vai até 11 de junho: a 14ª Mostra Ecofalante – cinema socioambiental, gratuita, iniciada esta semana, com filmes, vídeos e debates sobre cerca dos 125 trabalhos de 33 países. Entre eles, Rússia, Noruega, Hungria e EUA. Uma das grandes atrações é A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.
*A ordem do ano da Ecofalante é esta: “Resistir contra o esfacelamento de democracias liberais, o extrativismo estruturante do capitalismo e as práticas agrícolas predatórias”. E mais: “A constatação de que a militância, o ativismo e a resistência são como um elástico que se estica e contrai de forma contínua. Onde há sociedade, há luta”. Toda a programação, com datas, horários e locais de exibição, está disponível no site oficial do evento.
*A partir de hoje, sexta-feira, 30/05, programa imperdível: visitar a bela mostra Trabalhadores, com 149 fotos de Sebastião Salgado, que se encontrava agendada antes do falecimento do eminente fotógrafo. Até 20 de setembro, na Casa Firjan, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
*Justiça e História. A antiga Casa da Morte, em Petrópolis, Rio de Janeiro, será transformada em espaço dedicado à memória, à educação e aos direitos humanos. “É para entrar na história da luta por memória, verdade, reparação e Justiça, no nosso país: a antiga Casa da Morte, centro clandestino de torturas e assassinatos na ditadura de 1964 será transformada em memorial do povo brasileiro”, anuncia o professor e deputado federal Reimont, presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial. Trata-se de uma homenagem a Inês Etienne Romeu, que lá foi presa e torturada durante 96 dias.
*Apoiada pela Netflix na restauração de seus filmes, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, inicia a reestruturação da sua Sala Oscarito, parte do projeto de restauração geral, modernização e ampliação do complexo arquitetônico da instituição.
*Há cerca de 20 meses, aqui, em Programas, todas as semanas priorizamos o noticiário sobre o massacre da população palestina na Faixa de Gaza, maior tragédia do nosso tempo; assim como a perseguição e os assassinatos ocorridos na Cisjordânia, território ilegalmente ocupado. Só agora, com o uso da fome como arma de guerra por parte do governo de Tel-Aviv, os estados ocidentais parece que se deram conta desse genocídio e lançam campanhas de boicote e sanções econômicas a Israel. Depois de 600 dias de massacre. Antes tarde do que nunca.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
lustração de capa: Marcos Diniz