Por LÉA MARIA AARÃO REIS*
*O programa é não esquecer o genocídio dos palestinos de Gaza. Resistir às manobras das narrativas que convêm e são úteis ao governo do Estado de Israel, denunciando um sentimento de antissemitismo após o atentado terrorista, esta semana, em Washington. Lembrar a continuação do massacre em Gaza e conclusão da fase final de limpeza étnica. Hospitais destruídos, tendas de campos de refugiados – campos de concentração – atingidos. População joguete do governo de Tel-Aviv, deslocados do sul para o norte e vice-versa. Crianças, bebês, mulheres, idosos e idosas, jornalistas, diplomatas, bombardeados diariamente.
*Falta de transporte para carregar feridos (para onde?), cirurgias urgentes que não são realizadas porque não há mais salas de cirurgia em Gaza. Paramédicos impedidos de resgatar corpos feridos que se espalham pelas ruas. Cem feridos apenas em uma noite em Jabalia, um dos campos mais atingidos. Tulkarém, outro local chacinado. Segue o massacre nas terras da Cisjordânia. Fome, fome, fome. Bebês morrem com fome.
*Só agora governos europeus se preparam e se apressam prometendo sanções econômicas e boicotes para pressionar ao menos um cessar-fogo. (Informações de CAPJPO-Europalestine).
*O mundo, cada vez mais violento, segue em frente. O programa é acompanhar o encerramento do 78º Festival de Cinema de Cannes, no qual o cinema brasileiro, este ano, foi um dos protagonistas.
*O mais recente filme do diretor e roteirista pernambucano Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, foi expressivo sucesso de crítica e de público quando estreou na festa francesa do cinema. Concorreu na competição oficial, é estrelado por Wagner Moura e tem no elenco Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho e Carlos Francisco. Sua história: no Recife de 1977, o personagem de Marcelo, especialista em tecnologia e marcado por um passado que insiste em assombrá-lo, retorna à sua cidade natal em busca de paz. Ele encontra um Brasil dilacerado pela ditadura civil-militar, no qual os traumas da repressão política se confundem com suas cicatrizes pessoais.
*O Agente Secreto já está comprado para os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Índia, México e países da América Latina. Ainda não tem data para estreia no Brasil.
*Já O Riso e a Faca é uma coprodução Portugal, Brasil, Romênia e França, e estreou na mostra Un Certain Regard, de Cannes. Dirigido pelo português Pedro Pinho, seu título se refere à música homônima do baiano Tom Zé. Seu cenário é a Guiné-Bissau e o deserto da Mauritânia, e a trama traz a história de um engenheiro ambiental português que viaja para a África Ocidental para trabalhar em um projeto rodoviário entre o deserto e a selva.
*Uma das imagens mais divulgadas de Cannes, este ano, foi a de Julian Assange vestindo uma camiseta com os nomes impressos das 4.986 crianças palestinas mortas, e a inscrição “Pare Israel” nas costas. O filme sobre a vida de Assange, sua trajetória e perseguição política, intitulado Six Billion Dollar Man, estreou na telona do cinema da Croisette.
*A mostra Cinema de Resistência: Um Olhar sobre um Brasil Invisível é imperdível, começa no próximo dia 28 e vai até 23 de junho. Nela serão exibidos filmes da cineasta Lucia Murat, que há 40 anos retrata as injustiças e opressões vividas no Brasil. Murat dá voz às chamadas “existências mínimas”, excluídos e marginalizados, e aborda temas como ditadura, desigualdade social e a luta dos povos indígenas.
*A programação de Cinema de Resistência é organizada em quatro blocos: Povos Originários, Problemas Sociais, Questões Femininas e Memórias da Ditadura Militar. Filmes como Brava Gente Brasileira e A Nação que Não Esperou por Deus exploram a resistência indígena. Obras como Maré, Nossa História de Amor abordam desigualdades sociais. Filmes como Em Três Atos discutem o envelhecimento das mulheres, e Quase Dois Irmãos (2004) e A Memória que Me Contam (2012) refletem sobre a repressão política. A diretora revisita experiências vividas durante o regime militar, explora lembranças e traumas por meio de personagens femininas, e as narrativas misturam realidade e ficção. A curadoria é de Denise Costa Lopes.
*O filósofo sul-coreano de nacionalidade alemã, Byung-Chul Han, criticado por alguns como um rock star da filosofia, volta às listas de autores mais procurados no primeiro trimestre deste ano. Os livros A Expulsão do Outro e Infocracia, de 2002, estão entre os mais lidos. Um tema recorrente de Han é o conceito de cérebro “pipoca”: a incapacidade de concentração prolongada, típica da sociedade moderna bombardeada por informações e estímulos contínuos. Um cérebro incapaz de se aprofundar em pensamentos e emoções porque está sempre hiperestimulado pela cultura da informação instantânea.
*Volume com coletânea de textos publicados desde 40 anos atrás, Uma Teoria do Poder Global, do professor José Luis Fiori, e relançado há poucos meses, foi atualizada para “compreender a conjuntura política moderna marcada pela crise do capitalismo e a disputa pela permanência na hegemonia global pelos Estados Unidos”, afirma o autor. Apesar de conter textos das décadas de 1980/1990, Fiori destaca que conectou esses escritos ao contexto atual. São quatro décadas de produção intelectual com o tema do poder e da influência dos Estados Unidos nas economias do mundo. (Ed. Vozes).
*O Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ produziu o evento da apresentação do livro de Sérgio Costa, da Universidade Livre de Berlim, Desiguais e Divididos: Uma Interpretação do Brasil Polarizado, onde é estudada a relação entre desigualdades sociais e a vida política no Brasil, nas últimas duas décadas. O autor, que é professor titular de Sociologia do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Instituto de Sociologia da Universidade Livre de Berlim, expõe debates recentes e propõe uma interpretação articulada dos processos em curso no país. (Ed. Todavia).
*O programa é festejar os 91 anos do ator Othon Bastos, que retorna aos palcos para celebrar momentos de sua vida e mais de 70 anos de carreira com a peça Não Me Entrego, Não!, em turnê por várias cidades. O título é em homenagem à frase-ícone de Corisco, o personagem de Othon em Deus e o Diabo na Terra do Sol, o filme de Glauber Rocha. “Eu não estou fazendo uma biografia no palco; eu falo de momentos que aconteceram comigo, da minha vida e do que eu acho que deveria ser dito. Não estou ali para me exibir, com ego. Eu não vivo de passado; o que eu fiz, eu fiz e a história só está aí para mostrar.”
*“A infância está desaparecendo em meio a uma degradação espiritual e cognitiva.” Esta é a afirmação do livro Caminhos e Equívocos da Escola Brasileira, do doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ronai Rocha, que focaliza a proposta da escola como um lugar onde a formação espiritual convive com a tecnologia. “Foi preciso acontecer uma epidemia de ansiedade e depressão para nos obrigar a ver a escola como um espaço que pode contribuir decisivamente para a restauração da saúde mental das crianças degradada pelo uso intensivo das tecnologias de virtualização da vida.” Ronai Rocha é também autor de Quando Ninguém Educa: Questionando Paulo Freire; Escola Partida: Ética e Política na Sala de Aula; Filosofia da Educação e Caminhos e Equívocos da Escola Brasileira. Venda do livro a partir da próxima terça-feira, dia 27. (Ed. Contexto).
*O programa para o carioca é denunciar a utilização do terreno da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, para a construção de um novo prédio da casa de shows do Canecão. E outra: denunciar a instalação inaceitável da construção de um shopping, com estacionamentos de carros, lojas e lojinhas, no histórico parque do Jardim de Allah, no bairro do Leblon, abandonado pelo atual e pelas mais recentes prefeituras da cidade. Um crime.
*Mais uma perda lastimável, a do fotógrafo e ativista ambiental mineiro Sebastião Salgado, que morreu em Paris, aos 81 anos, nesta sexta-feira, dia 23. Um dos grandes de uma geração iluminada, Sebastião fotografou o trabalho, a migração e o meio ambiente em mais de 120 países, e fundou o projeto de reflorestamento da Mata Atlântica. Você encontra o filme na Glob Play.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
lustração de capa: Marcos Diniz