Professores estaduais voltam às ruas por reposição salarial e denunciam sucateamento do IPE Saúde

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Cpers lidera ato em Porto Alegre e relembra década de perdas salariais e ataques ao serviço público sob o governo Leite

Com bandeiras amarelas, faixas e palavras de ordem, centenas de educadoras e educadores da rede estadual tomaram as ruas do centro de Porto Alegre nesta terça-feira (11) em mais um capítulo da longa história de luta da categoria gaúcha. Convocados pelo Cpers Sindicato, os trabalhadores marcharam da sede do IPE Saúde até o Palácio Piratini, exigindo reposição salarial de 15,2% para professores e funcionários — da ativa e aposentados — e denunciando o arrocho imposto pelo governo de Eduardo Leite (PSD).

Faz mais de dez anos que eu não recebo absolutamente nenhum aumento salarial”, contou a professora aposentada Maria da Graça Souza, resumindo o sentimento de uma geração que viu o salário perder valor ano após ano. Segundo ela, a política salarial do Estado “roubou o que foi conquistado ao longo da vida” e tornou difícil manter a dignidade e garantir o básico para a família.

A manifestação também marcou o Dia de Luta pela Educação Pública, com paralisações em escolas de todas as regiões do estado. A categoria exige que a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026 inclua as emendas apresentadas pelo Cpers, prevendo recursos específicos para a valorização salarial e a melhoria das condições de trabalho.

Uma década de perdas e promessas não cumpridas

Os educadores denunciam que, embora o governo Leite tenha promovido ajustes para adequar o Estado ao Piso Nacional do Magistério, as medidas não representaram aumento real de salário para a maioria. Isso ocorre por causa da chamada parcela de irredutibilidade, criada após a reforma da previdência de 2020.

O mecanismo, que impede a redução de vencimentos de aposentados, acabou servindo como brecha para o governo compensar reajustes, em vez de incorporá-los efetivamente à remuneração. Na prática, docentes com vencimentos acima do piso recebem reajuste no salário-base, mas veem descontos proporcionais na parcela, sem ganho real no contracheque.

Para o Cpers, o discurso de “reestruturação da carreira” esconde um congelamento disfarçado e a continuidade de uma política de desvalorização que já dura mais de uma década. “O governo investe em propaganda para parecer moderno e eficiente, enquanto o funcionalismo segue pagando a conta”, resume nota do sindicato.

IPE Saúde: o outro front da luta

Além do salário, a crise no IPE Saúde foi outro tema central do protesto. O Cpers denuncia o desmonte e a precarização do atendimento, especialmente no interior do estado.

“Em Salto do Jacuí, temos apenas um médico credenciado pelo IPE. Não há pediatra, nem ginecologista. Cirurgia, então, nem se fala”, relatou Elenice da Rosa, secretária de escola e segurada do plano.

Durante o ato, Glaci Weber, representante do sindicato no conselho administrativo do Instituto, cobrou explicações sobre o programa “Mais Assistência”, que prometia o credenciamento de 10 mil novos médicos, mas até agora não saiu do papel. “Encaminhamos ofício no dia 9 de outubro e seguimos sem resposta. O atendimento à categoria está em colapso”, afirmou.

Meritocracia e municipalização preocupam a categoria

Os protestos também criticaram o Programa de Reconhecimento da Educação Gaúcha, projeto de lei do Executivo que prevê bônus por desempenho com base em índices como o Ideb e o Iders.

Para o Cpers, a proposta aprofundará desigualdades, premiando algumas escolas e profissionais enquanto ignora realidades mais difíceis — com estruturas precárias, turmas superlotadas e falta de apoio pedagógico. “Chamar isso de valorização é perverso. O que o governo propõe é meritocracia excludente”, declarou a presidente do sindicato, Rosane Zan.

Outro ponto de tensão é a municipalização do ensino fundamental em Porto Alegre, que prevê a troca de turmas entre as redes estadual e municipal. A medida preocupa os trabalhadores pela possibilidade de redução de postos de trabalho, já que cerca de 60% dos docentes da rede estadual são contratados em caráter emergencial.

“E depois de dois anos, quando termina o período de manutenção, o que acontece com esses professores? Onde eles serão lotados?”, questiona Rosane.

A tradição de resistência

O ato desta terça-feira reforça uma tradição histórica: a da resistência dos educadores gaúchos. Desde as grandes greves dos anos 1980, o Cpers tem sido símbolo de mobilização e defesa da escola pública, enfrentando diferentes governos e políticas de austeridade.

A luta vale a pena”, afirmou Rosane, durante o ato em frente ao Palácio Piratini, ao lado de representantes da Frente dos Servidores Públicos (FSP) e parlamentares aliados. “Seguiremos pressionando para que a educação volte a ser prioridade no orçamento do Estado.”

Enquanto a multidão ocupava a Praça da Matriz sob o sol forte, um coro ecoava entre faixas e tambores: “Sem valorização, não há educação pública que se sustente.”


Imagem destacada: Divulgação CPERS

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