Polícia desarticula quadrilha que usava deepfakes de figuras públicas para aplicar golpes — prejuízo supera R$ 1,3 milhão

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Operação “Plano de Contingência” cumpriu mandados no RS, MG e SP; alvo era população idosa e fraudes eram operacionalizadas por gateways de pagamento e serviços de anonimato

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul anunciou, na manhã desta quarta (12), a desarticulação de um esquema criminoso que usava deepfakes — vídeos e áudios sintéticos gerados por inteligência artificial — com rostos e vozes de figuras públicas, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para atrair vítimas a sites falsos e cobrar “taxas” por liberação de indenizações inexistentes. A ação, batizada de Plano de Contingência, envolveu a Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos (DRCPE/DERCC) e cumpriu nove mandados de busca e apreensão, além de ordens de bloqueio de contas e indisponibilidade de bens em Minas Gerais e São Paulo, com apoio de policiais desses estados.

Segundo o delegado Eibert Moreira Neto, diretor do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos, o grupo simulava páginas governamentais patrocinadas (com tráfego pago) que apareciam no topo das pesquisas. Nesses portais falsos, eram exibidos vídeos manipulados em que autoridades “anunciavam” o direito a uma suposta indenização — normalmente em torno de R$ 6 mil — por um vazamento de dados. Para receber o valor, a vítima deveria primeiro pagar uma pequena taxa via Pix. O mecanismo garantiu ao grupo um prejuízo estimado em pelo menos R$ 1,3 milhão.

Como a fraude funcionava

  • Anúncios patrocinados nas redes direcionavam as pessoas a sites que copiavam a aparência de portais oficiais.
  • Deepfakes de figuras públicas e jornalistas eram usados para dar verossimilhança à oferta.
  • Usuários eram instruídos a informar o CPF para “verificação”; então, surgia a exigência de uma taxa para liberação do crédito.
  • O pagamento era processado por um gateway de pagamento controlado pelo grupo — estrutura criada para ocultar o beneficiário final.
  • Em seguida, valores eram dispersos entre contas de “laranjas” ou transferidos a outros estados, dificultando o rastreamento.

A investigação identificou que o gateway utilizado era formalmente registrado em Mato Grosso, mas operado por um jovem de 24 anos de Conselheiro Lafaiete (MG). O pilar técnico do esquema, um operador de 25 anos, também de Conselheiro Lafaiete, gerenciava serviços de proxy e VPN para mascarar endereços IP e proteger a infraestrutura de anonimato.

Público-alvo e escala

A polícia identificou vítimas em todos os estados brasileiros, com foco deliberado em idosos: dezenas de pessoas com mais de 70 anos foram vítimas do golpe. A estratégia de explorar grupos mais vulneráveis — com menor letramento digital e maior confiança em anúncios que evocam autoridade — foi considerada central para o sucesso das fraudes.

Investigação e prova material

A apuração começou em abril, quando campanhas online suspeitas foram detectadas. O avanço ocorreu ao rastrear o fluxo financeiro: da vítima → gateway de pagamento → conta intermediária → beneficiário final. O cruzamento de dados telefônicos e telemáticos permitiu apontar quem, de fato, operava as contas e a infraestrutura de anonimato. Mandados em MG e SP resultaram em apreensões e na indisponibilidade de bens relacionados ao esquema.

O que significa “Plano de Contingência”

O nome da operação faz referência ao serviço oferecido no mercado criminoso por esses grupos: “planos de contingência” — venda de contas de anúncios e perfis “aquecidos” (verificados e com tráfego) que são reutilizados para contornar bloqueios e fiscalizações das plataformas digitais. Em outras palavras, trata-se de um mercado que profissionaliza fraudes em escala.

Recomendações às possíveis vítimas

A polícia e especialistas em cibersegurança reiteram cuidados básicos:

  • Desconfie de mensagens e anúncios que prometem indenizações sem processo formal ou comunicação prévia por canais oficiais.
  • Verifique URLs e procure o portal oficial do órgão público antes de fornecer dados pessoais.
  • Nunca efetue pagamentos antecipados para “liberação” de benefícios governamentais. Benefícios oficiais não exigem taxa para liberação.
  • Use autenticação em dois fatores, mantenha antivírus atualizado e reporte páginas e perfis suspeitos às plataformas e à polícia.

Consequências e perspectivas

A ofensiva demonstra que golpe por deepfake já atingiu dimensão financeira relevante no país e evidencia a profissionalização do crime digital: uso de provedores de pagamento, serviços de anonimato e “produtos” no mercado clandestino para facilitar fraudes em larga escala. Para as autoridades, o desafio agora é acelerar a responsabilização judicial dos envolvidos, desmantelar a infraestrutura que permite a repetição dos golpes e cobrar das plataformas digitais maior rapidez na derrubada de páginas e anúncios fraudulentos.

A investigação segue e a Polícia Civil informou que novas fases da operação podem ocorrer à medida que o material apreendido for periciado e as linhas financeiras forem aprofundadas.


Imagens: Divulgação Polícia Civil

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