Pobreza no Brasil atinge menor nível da série histórica, mas desigualdades seguem estruturais, mostra IBGE

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Rio de Janeiro (RJ), 28/10/2025 - Durante operação policia contra o Comando Vermelho, trabalhadores andam pelas ruas após serem liberados mais cedo pela situação de violência. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os indicadores de pobreza, extrema pobreza e desigualdade de renda recuaram em 2024 e atingiram os menores níveis desde o início da série histórica do IBGE, em 2012. Os dados fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada nesta quarta-feira (3). A melhora reflete a recuperação do mercado de trabalho após a pandemia e o reforço de políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Apesar dos avanços, o retrato segue marcado por fortes disparidades regionais, raciais, de gênero e faixa etária, compondo um mosaico persistente de desigualdades estruturais no país.

48,9 milhões ainda vivem na pobreza; 7,4 milhões em extrema pobreza

A taxa de pobreza caiu para 23,1% da população em 2024 — o menor valor da série. Em números absolutos, são 48,9 milhões de brasileiros, quase 8,6 milhões a menos que em 2023. É a primeira vez desde 2012 que o contingente fica abaixo dos 50 milhões.

A extrema pobreza também recuou, atingindo 3,5% da população, o equivalente a 7,4 milhões de pessoas. Ambas as taxas estão em queda desde 2022, após atingirem níveis recordes em 2021, durante a pandemia.

Sem os programas de transferência de renda, o cenário seria drasticamente pior: a pobreza seria de 28,7% e a extrema pobreza, de 10%, segundo simulações do IBGE.

Nordeste e Norte seguem com índices mais altos

Mesmo com redução nacional, a pobreza permanece concentrada nas regiões mais vulneráveis:

  • Nordeste: 39,4% pobres e 6,5% em extrema pobreza
  • Norte: 35,9% pobres e 4,6% em extrema pobreza
  • Brasil: 23,1% (pobreza) e 3,5% (extrema pobreza)

Sul, Sudeste e Centro-Oeste ficaram abaixo da média nacional em ambos os indicadores.

Desigualdade cai, mas Brasil ainda está entre os piores do mundo

O índice de Gini — que mede desigualdade de renda — caiu de 0,517 para 0,504, menor nível da série. Ainda assim, o Brasil segue no topo da desigualdade entre países analisados pela OCDE.

Em 2022, os 20% mais ricos recebiam 11,2 vezes mais que os 20% mais pobres — segunda maior disparidade entre 40 países avaliados, atrás apenas da Costa Rica.

Quando calculado sem os programas sociais, o Gini brasileiro subiria para 0,542, evidenciando o peso das políticas de transferência de renda na redução da desigualdade.

Desigualdade racial se mantém: brancos ganham 64% a mais por hora

O estudo mostra que a desigualdade racial continua estruturante no país. Em 2024:

  • Brancos: R$ 24,60 por hora
  • Pretos ou pardos: R$ 15,00 por hora

Uma diferença de 64%, que persiste mesmo entre pessoas com escolaridade semelhante. No ensino superior completo, brancos ganham 44,6% a mais que pretos ou pardos.

Mesmo ocupando os mesmos grupos de ocupação, a diferença segue evidente. Em cargos de direção e gerência:

  • Brancos: R$ 9.831
  • Pretos ou pardos: R$ 6.446

Nenhum grupo ocupacional apresentou rendimento maior para pretos ou pardos em relação aos brancos.

Gênero: mulheres em cargos de chefia ganham 32,7% menos

A desigualdade salarial de gênero também avançou. Em 2024, mulheres em cargos de direção e gerência receberam:

  • Mulheres: R$ 6.776
  • Homens: R$ 10.073

Ou seja, 32,7% a menos — diferença maior do que a registrada em 2023.

No conjunto do mercado de trabalho, a renda média feminina foi de R$ 2.778, contra R$ 3.533 dos homens. A lei de paridade salarial, em vigor desde 2023, ainda enfrenta resistência e questionamentos jurídicos.

Envelhecimento e trabalho: 1 em cada 4 idosos está ocupado

O estudo também mostra um fenômeno crescente: o aumento do número de idosos que continuam trabalhando.

Em 2024:

  • 24,4% das pessoas com 60 anos ou mais estavam ocupadas — maior nível da série.
  • Isso representa 8,3 milhões de idosos, 752 mil a mais que em 2023.

O IBGE relaciona o avanço à recuperação econômica, ao envelhecimento populacional e aos efeitos da reforma da Previdência, que elevou idade mínima e tempo de contribuição.

Entre os idosos ocupados:

  • 43,3% são trabalhadores por conta própria
  • 55,7% estão na informalidade
  • Renda média: R$ 3.561, um valor 14,6% superior ao da população geral

Educação: pobres são maioria na pré-escola e minoria na universidade pública

A SIS também evidencia como a desigualdade socioeconômica se reproduz no acesso à educação.

Em 2024:

  • Na pré-escola da rede pública, estudantes de famílias de menor renda eram a maioria absoluta.
  • Na universidade pública, representavam apenas 3,6% dos matriculados.
  • Já os estudantes de maior renda eram 28% dos alunos do ensino superior público.

O ensino superior é o único nível educacional em que a rede privada possui mais matriculados do que a pública.

Um país que melhora, mas segue desigual

Os avanços registrados em 2024 — queda da pobreza, da extrema pobreza e da desigualdade — refletem políticas públicas e um contexto de recuperação do emprego. Mas os números também deixam claro que as desigualdades brasileiras estão longe de ser conjunturais.

Elas seguem marcadas:

  • pelo território,
  • pela cor/raça,
  • pelo gênero,
  • pela renda familiar,
  • e agora também pela idade.

A redução da pobreza é um sinal positivo, mas a desigualdade estrutural — racial, regional, educacional e de gênero — continua sendo um dos maiores desafios do país.


Imagem destacada: Fernando Frazão/Agência Brasil

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