Por EDELBERTO BEHS*
Me empresta a palavra! Bancar o macho e dizer impropérios ele trouxera da caserna, de onde teve que sair pela porta dos fundos. Nem procurou esfregar um brilho no seu vocabulário, pois aquele linguajar atraía eleitores. E foi assim que ele chegou lá aonde sequer sonhara um dia vir a sentar-se na cadeira da presidência.
Mas para fazer esse caminho buscou alguns apoios. Pediu palavras emprestadas. Da área militar ele já conhecia muita coisa, mas contou com a ajuda do ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, a quem chegou a agradecer pela vitória nas urnas. Villas Boas ameaçou o STF com recado às vésperas da condenação de Lula pela Lava Jato.
Mas o capitão precisava bem mais de palavras para galgar o Alvorada. Camaleão como sempre foi, católico de batismo deixou-se rebatizar no rio Jordão pelo presidente do Partido Social Cristão, pastor Everaldo Dias Pereira, em maio de 2016, e foi procurar palavras junto a evangélicos, como Silas Malafaia. E daí viu que era interessante trazer Jesus e a Sagrada Escritura para a campanha política. Tomou emprestado “e a verdade vos libertará”.
Jamais explicou que verdade era essa. Mas não importava, porque ele se juntou aos “homens bons” (e aos homens de bens) para travar o embate entre os do bem contra eles, do mal. E aí ganhou palavras de empréstimo da super evangélica Michelle Bolsonaro, que o via sentado na cadeira da presidência. Tomou emprestado até mesmo o slogan “Deus, Pátria, Família”, que vem a ser uma variante do lema da Tradição, Família e Propriedade (TFP).
Na campanha de 2018, ele teve que inclusive inventar símbolos, como o kit gay, banheiros unissex e mamadeira de piroca, na maior cara de deslumbrado. O que não se faz em nome de “Deus, Pátria e Família”! E o que o gado acredita em nome de “Deus, Pátria e Família”!
Quantas outras palavras não pegou emprestadas? Mandou até seu filho, Eduardo, para o States com o fito de pedir emprestada a palavra do presidente Trump. Até os 50% de sobretaxa aos produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, ele conseguiu manter o empréstimo. Mas depois Trump cedeu, talvez tenha sentido que estava entrando numa fria.
O capitão, que podia morrer, mas jamais seria preso, colocado em cela ao lado de vagabundos escória da sociedade, emprestou palavra a seu filho Flávio, para dizer: ele é o meu candidato. Desagradou boa parte da ala direita, que quer o governador de São Paulo como candidato. Então, a candidatura do Flávio poderia ser negociada, no dia seguinte já não tinha mais negócio.
Difícil será para o deputado, pastor (pastor!) evangélico Sóstenes Cavalcante, pegar uma palavra emprestada que justifique os 430 mil reais encontrados em apartamento que lhe pertence. Por enquanto falou por si: o dinheiro veio da venda de um apartamento. O dinheiro, desvalorizado, ficara esquecido em sacos de lixo. Isso é que é ser “do bem”!
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados




