Por JORGE ALBERTO BENITZ
O Chico é tão grande
Que fico sem ter
O que dizer
Para definir
Para abranger
O que ele representou
O que ainda representa
Para a minha geração
Chico cronista
Da vida carioca
Do malandro com charme
– Que hoje não usa navalha
Trabalha lá longe e chacoalha
No trem da Central –
Ao malandro sem caráter
Com gravata e capital
Do menino da favela morto
Pranteado em “O Meu guri”
Do Brasil profundo
Da canção Bye Bye, Brasil
Chico político
Que assisti aqui
Em tempos tenebrosos
Ele cantando
Metáforas duras
Contra a ditadura
Com dignidade
Sem perder a candura
Chico feminino
Revelando conhecer
A alma de ser mulher
Desde a apedrejada Gení
A Carolina da janela
A ainda apaixonada
A esperar seu amado
De Olhos nos Olhos
Às Penélopes de Atenas
Que no gineceu
Ficam a esperar seus maridos
Tecendo longos bordados
Mil quarentenas
A mulher universal
Daqui………….de lá
De qualquer lugar
Chico cantor
Que não tem um vozeirão
Mas ninguém canta
Como ele suas canções
Tem a voz perfeita
Para executar
Suas composições
Para representar
Com sua multidão
De alteregos
Múltiplas emoções
Paro por aqui
Tem muitos outros
Chicos
Chico escritor
Chico irmão de Miúcha
E do irmão alemão
Do pai intelectual
– De monóculo
Retratado em crônica
De Lima Barreto
E Ribeiro Couto –
Que vivia no seu escritório
Com porta e janelas fechada
De quem ele só ouvia
O tec tec tec da sua
Máquina de escrever
Até crescer
Virar adulto
O grande Sérgio Buarque
Da ilustre galeria dos
Intérpretes do Brasil
Que depois dizia
Humilde, orgulhoso
Aos seus alunos
Sou o pai do Chico
Chico isso
Chico aquilo
São tantos
– Uma plêiade –
Que confesso
Sou incapaz
De tudo abarcar
Com o meu
Míope olhar
*Engenheiro, escritor e poeta.
Foto da capa: Bruna Prado/UOL
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.




