Por ANTONIO CARLOS ALKMIM*
Com a detenção de Silas malafaia pela PF, o país volta a se defrontar sobre esta força social e política emergente nas últimas 5 décadas. A construção do texto se deu a partir da utilização de seis IAs (Perplexity, GPT5, Claude, Deepseek, Manus, NotebookLM/Google e Napkin). A interação, edição síntese, consolidação e revisão é do autor.
27% da população brasileira é evangélica
Um dos maiores fenômenos estruturais no Brasil foi a ascensão do denominado movimento evangélico, que em um país colonial católico, sequer eram estatística formal, até, a partir da década de 1970 alcançarem uma força, que segundo o Censo Demográfico de 2022 alcançou 27% da população brasileira, segundo o Censo de 2022.
- hiperindividualização e desinstitucionalização da fé
Muitos demógrafos apostam em uma maioria evangélica nas próximas décadas, o que é questionável, pois sua curva de crescimento chegou um declínio. Mais do que isso a diversidade religiosa e o aumento daqueles que não tem religião (tenham ou não alguma crença) aumentou nesta última década. Igualmente importante, segundo indicações de diferentes fontes da literatura, com a nova revolução tecnológica em curso, há uma espécie tendência de hiperindividualização e desinstitucionalização da fé.
- 17% dos norte-americanos nunca frequentaram um templo religioso
Um maior número de pessoas residem sós e de acordo com estudos norte americanos, especialmente dados do Pew Research, a frequência menor à cultos e reuniões à estas instituições religiosas vem diminuindo. A participação em serviços religiosos diminuiu significativamente: hoje, 17% dos americanos dizem nunca frequentar serviços religiosos, um aumento em relação aos 11% de uma década atrás.

Fonte: IBGE/Censos Demográficos, elaboração do autor
Perfil da população evangélica: mulheres, jovens, ensino médio, perfil similar aos católicos, o que muda são os valores
Ao contrário do estereótipo, o eleitor evangélico não é necessariamente pobre ou pouco escolarizado. Pesquisas mostram que o perfil socioeconômico dos evangélicos é similar ao de católicos e adeptos de religiões afro-brasileiras, com 75% tendo concluído o ensino fundamental. A maior proporção (35,2%) está no nível médio e superior incompleto, e há uma tendência crescente de investimento familiar em educação.
O que diferencia esse eleitorado é o perfil demográfico: são mais jovens, com a maior concentração (31,6%) na faixa de 10 a 14 anos, e há predominância feminina (55,4%). Geograficamente, concentram-se no Norte (36,8%) e Centro-Oeste (31,4%), regiões de fronteira agrícola e crescimento urbano acelerado.
“A religião evangélica tem mais penetração entre os jovens da população”, confirma pesquisa do IBGE. “Os católicos têm maior proporção entre pessoas com mais de 40 anos, decorrente de gerações formadas em períodos de hegemonia católica.”
Boa parte dos que não tem religião apresentam alguma crença
Em 2018, uma pesquisa com estudantes da PUC-Rio (Perfil da Juventude) mostrou que entre aqueles sem religião, uma significativa parte demostrava uma crença em algum tipo de energia, força superior ou deus, enquanto outra parte pode ser gnóstica ou agnóstica. Isto muda a perspectiva de avaliar este grupo como homogêneo.
Necessidade de novas abordagens conceituais
O entendimento do fenômeno religioso no Brasil hoje, além do entendimento sobre o mundo evangélico, feito por muitos estudos, ainda mostra-se frágil quando se trata das pesquisas de opinião. As categorias poderiam mudar para Católicos, evangélicos, outras religiões, sem religião crentes e sem religião não crentes. Evidentemente, uma tal ou mais detalhada desagregação exigiria um tamanho de amostra maior, pois como sabem os especialistas, maior a desagregação, maior a margem de erro.
No último artigo aqui escrito propus uma metodologia de simulação das bases de pesquisas originais, a partir de relatórios dos Institutos de Opinião. Alguns nem consideram a religião como variável importante em suas divulgações, da mesma forma que não dão atenção devida à variável cor. Os negros, por exemplo, são a etnia que mais apoiou Lula nas últimas eleições, segundo poucas das pesquisas divulgadas, principalmente pelo Datafolha e 2022. Percentuais maiores que o Nordeste.
O Bolsonarismo Evangélico 69% votaram em Bolsonaro em 2022
Nas eleições de 2022, 69% dos evangélicos votaram em Bolsonaro, contra 31% em Lula. Atualmente, 48% consideram o desempenho do governo petista ruim ou péssimo, enquanto apenas 21% avaliam como ótimo ou bom. Esses números explicam por que Lula tem feito movimentos de aproximação com líderes evangélicos, publicando cartas dirigidas ao segmento e participando de cultos durante a campanha.
“O Bolsonaro foi o primeiro presidente de direita que teve uma relação de afinidade ideológica com a bancada evangélica”, analisa o pesquisador André Ítalo, autor do livro “A Bancada da Bíblia”. “Historicamente, ela era pró-governo independentemente da orientação política, por conveniência de manter privilégios como isenção tributária.”
A Máquina Eleitoral Evangélica – irmão vota em irmão
Os evangélicos são um dos poucos segmentos no Brasil que votam por princípios coletivos e se sujeitam à liderança dos pastores”, explica pesquisa da SciELO sobre o comportamento eleitoral desse grupo. “Isso os torna um eleitorado passível de mobilização caso as denominações se unifiquem em torno de uma plataforma política comum.”
A organização política evangélica teve seu marco inaugural na Assembleia Constituinte de 1987-1988, quando 32 parlamentares dessa confissão foram eleitos com o slogan “irmão vota em irmão”. A estratégia, coordenada principalmente pela Assembleia de Deus, nasceu do temor de que a Igreja Católica pudesse restabelecer privilégios durante a elaboração da nova Constituição.
Bancada evangélica tem cerca de 35% da bancada de deputados federais e mais de 30% no senado
Hoje, a chamada bancada evangélica conta com 199 deputados federais e 26 senadores na Frente Parlamentar Evangélica – embora especialistas estimem que cerca de 90 a 100 deputados sejam “efetivamente” evangélicos. O grupo se reúne semanalmente para definir estratégias e tem assessoria parlamentar especializada que mapeia as pautas sensíveis para o segmento.
Nos anos 1990, a Igreja Universal do Reino de Deus, ligada ao bispo Macedo profissionalizou essa atuação, criando o que pesquisadores chamam de “plano político estruturado”. O modelo foi replicado por outras denominações, transformando templos em verdadeiras máquinas eleitorais. A conquista de concessões de rádio e TV tornou-se moeda de troca política, criando um círculo vicioso: mais mídia gera mais fiéis, que produzem mais recursos e influência política.
Malafaia o pastor bolsonarista mais eminente
Nos bastidores do enorme fenômeno está uma das figuras mais polêmicas e influentes do país: o pastor Silas Malafaia, de 66 anos, que construiu um império midiático e se tornou o principal articulador político dos evangélicos brasileiros. Com mais de 1,3 milhão de seguidores no Twitter e um programa de TV que está há 29 anos no ar, Malafaia exemplifica como líderes religiosos se transformaram em peças-chave do jogo político nacional.
Malafaia exemplifica essa nova postura. Em áudios recentes, o pastor aparece pressionando lideranças do PL por cargos e travando embates com Eduardo Bolsonaro, a quem chamou de “babaca”. O episódio revela como líderes religiosos migraram dos bastidores para o centro do poder, influenciando diretamente composições partidárias e estratégias eleitorais.
“Eu sou um líder religioso. Eu não sou um bandido nem um moleque”,
Frase declarada pelo pastor em coletiva de imprensa na semana passada, após ser alvo de mandado de busca e apreensão determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A investigação faz parte do inquérito sobre atos antidemocráticos relacionados ao 8 de janeiro de 2023.
Desafios para a Democracia
O crescimento da influência evangélica na política levanta questões sobre os limites entre fé e poder numa democracia laica. A agenda conservadora do segmento inclui oposição ao aborto, resistência aos direitos LGBTQIAP+ e ao que denominam “ideologia de gênero”, além de defesa da “família tradicional”.
“Estamos assistindo evangélicos envolvidos em mentiras. Isso é assustador porque uma das advertências das Escrituras é que a mentira é filha do diabo”, criticou o pastor Ariovaldo Ramos, da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, referindo-se às fake news disseminadas por Malafaia durante a campanha de 2018.
O próprio segmento não é monolítico. Existe uma resistência interna de evangélicos progressistas, que defendem pautas como direitos humanos e justiça social. Pesquisa do Datafolha de 2024 mostrou que 55% dos evangélicos paulistanos consideram “pouco” ou “nada” importante o apoio das lideranças para definir seu voto.
O Futuro Político do Brasil Evangélico
Com o crescimento projetado para 35,8% da população até 2026, os evangélicos consolidam-se como força eleitoral decisiva. A questão não é mais se terão influência, mas como essa influência será exercida numa democracia que precisa equilibrar representação religiosa com direitos de minorias.Malafaia, que já anunciou não temer prisão após criticar publicamente o STF, representa a ala mais combativa desse movimento. Sua trajetória – do jovem pastor da Penha ao líder de um império com 149 templos e milhões de seguidores – ilustra como o Brasil mudou nas últimas décadas.
“O pastor Silas Malafaia é uma das maiores lideranças evangélicas do país, com reconhecimento internacional”, declararam 26 líderes religiosos em nota de apoio após a operação da Polícia Federal. A defesa coletiva mostra como Malafaia transcendeu sua denominação para se tornar símbolo de um movimento que transformou a política brasileira.
Enquanto católicos envelhecem e evangélicos se multiplicam, o Brasil caminha para uma reconfiguração religiosa sem precedentes. E no centro dessa transformação está um pastor de 66 anos que, das torres de sua igreja na Penha, ajuda a decidir os rumos de uma nação de 215 milhões de habitantes.

Dados utilizados: Censo IBGE 2022, pesquisas Mar Asset Management,| Elaboração do autor utilizando e editado pelo Napkin | Fontes utilizadas a partir das IAs
Datafolha, SciELO Brazil e fontes jornalísticas diversas. Reportagem baseada em levantamento de 15 fontes acadêmicas e jornalísticas atualizadas até 21 de agosto de 2025.
*Antonio Carlos Alkmim é Cientista Político. Pesquisador senior aposentado do IBGE, ex-professor da Puc-Rio, FGV e UERJ.
Foto de capa: Rodrigues Pozzebom




