Por ANGELO CAVALCANTE*
O governo dos Estados Unidos retoma, reacende a Doutrina Monroe e sem peias, cerimônias ou mediações, segue emparedando, enquadrando desde as maiores economias latinoamericanas como a mexicana e a brasileira, passando por todo o Caribe e seguindo pleno e resoluto até a Terra do Fogo.
É a já assumida parte do pacote da restauração imperial e que marcou, sobretudo, os anos noventa e dois mil.
Nesses termos, os territórios do subcontinente latino-americano são realçados como de importância tática e estratégica.
Esse cenário tem clara e destacada justificativa; por sinal, o que, ao fim, é o atual e improrrogável debate sobre as assim ditas terras raras ou críticas?
Sem tergiversar, esse é tema que garante centralidade para os minerais mais definitivos para, por exemplo, a produção de imãs permanentes para carros elétricos; para condutores ou semi-condutores a serem utilizados do mesmo modo, em veículos modernos visando a feitura do acionamento à distância mas não só; o “chão raro” é imprescindível para turbinas eólicas, satélites hiper-modernos, submarinos nucleares, telas de alta resolução para tablets , telefones celulares ou notebooks ou os já badalados computadores quânticos.
Em síntese, a explosão de tecnologias digitais que apetece todos os dias se realiza se e, somente se, insumos advindos dessas referidas terras forem de fato, disponibilizados.
Paralelamente, os interiores desses países ganham olhares, interesses especiais e não se exagera quando se afirma que uma nova e grave onda de refeitura, redefinição do rural, notadamente, do rural brasileiro, está em pleno curso.
Aliás, no dia de ontem, 4ª feira, 20 de agosto, o Senado Federal deu forma para a Frente Parlamentar em Defesa das Terras Raras Brasileiras (PRS 31/2025) por iniciativa do Senador Nelsinho Trad (PSD/MS) e sob a relatoria do Senador Hamilton Mourão ( Republicanos/RS), não por menos, ativos e destacados representantes do agronegócio brasileiro.
A tendência desse movimento é que todo o rural seja revisto e repensando para o serviço, prestimo e busca dessas terras raras; sempre é válido dizer que o Brasil ocupa a segunda posição mundial na concentração dessas modalidades de terras.
Uma observação deve ser feita… É que esse “raras” das “terras raras” não quer dizer que tais tipos de terras não possam ser encontrados no Caribe, no Uruguai ou na África Subsaariana; sua “raridade” está bem mais na dificuldade de extração do que na sua exiguidade.
Terras raras, vejamos, são um conjunto de dezessete elementos químicos e que, como dito, apresentam grandes desafios em sua prospecção e, sobretudo, em seu beneficiamento.
O Ministério das Minas e Energias (MME) cita que as reservas de terras raras no Brasil chegam a 21 milhões de toneladas; a China é a líder mundial, contando com 44 milhões de toneladas.
Outro grande desafio brasileiro para essa economia do futuro é que o Brasil não possui tecnologias adequadas para a busca das “raras”; a esse respeito, imaginem vocês, a fábrica da BYD, em Salvador (BA), utiliza imãs especiais e advindos da China.
Por fim e sem firulas, o rural brasileiro será, de novo, refeito!
Precisamos olhar para as miúdas e resistentes sobras de nosso povo indígena, para ribeirinhos, quilombolas, coletores, caçadores, catadores e para toda a cartografia social e humana que vive e sobrevive sobre imensas reservas dessas ditas terras raras.
Pode ser o fim!
E isso pode se realizar, em primeiro, pela histórica e proposital ausência de justa e definitiva política de distribuição de terras aos campesinos patreos; em bom vernáculo se diz que sempre faltou uma reforma agrária justa, séria e viável e; por fim, o rural brasileiro caminha para se afirmar como o principal mote da própria soberania brasileira considerando, principalmente, sua ainda pouco dimensionada riqueza.
Nessa dura conjugação de eventos globais, regionais e locais que os brasileiros consigam se ver e se enxergar a partir dos reais e efetivos interesses nacionais.
*Angelo Cavalcante é economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
E-mail : angelo.cavalcante@ueg.br
Foto de capa: Reprodução




