Por EDELBERTO BEHS*
Agora com tornozeleira, o pedágio americano – aquela sobretaxa anunciada de 50% – deverá aumentar. Mesmo assim, temos sorte. Afinal, o imperador do mundo mandou apenas uma carta ao presidente Lula, informando que os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos sofrerão a sobretaxa. Ora, ao invés da carta, ele poderia enviar tanques e soldados! Em tempos idos, quiçá o fizesse, ou, como já ocorreu, deixassem porta-aviões à espreita na costa brasileira.
Para ver o tamanho da sorte do Brasil, basta dar uma olhadela nos países que receberam bombas ou soldados ianques depois da II Grande Guerra. A lista é grande: Coreia, Guatemala, Indonésia, Vietnã, Camboja, Líbano, Síria, Líbia, Irã, Iraque, Kuwait, Bósnia, Afeganistão, Iugoslávia, Paquistão, Gaza…
A carta de Trump é um dispositivo explosivo sem detonador, recheada de interferências indevidas, desde a patética defesa do capitão até os supostos “ataques” – as plataformas de redes sociais – do governo brasileiro às atividades de comércio digital de empresas americanas, até “outras práticas comerciais injustas”. Inclusive o Pix foi incluído, após a carta, como uma prática antiamericana.
O imperador exige que o julgamento do capitão – uma “caça às bruxas” – acabe IMEDIATAMENTE, sim, assim mesmo digitado na carta, em letras maiúsculas! Ele talvez espere que a Justiça brasileira feche os olhos, como o fez com os processos contra Trump, que não poderia assumir a presidência dos Estados Unidos como cidadão condenado. Um “democrata” defendendo tentativa de golpe contra a democracia, contra uma presidência e vice-presidência eleita pelo povo!
O imperador recorre à balança comercial para justificar os tarifaço de 50% sobre produtos importados do Brasil, o que, alega, é necessário “para corrigir as graves injustiças do regime atual” que levaram a um suposto déficit comercial dos Estados Unidos com o Brasil. Nem na matemática Trump se acerta. Dados oficiais do governo brasileiro indicam que entre 2014 e 2024 o saldo comercial entre os dois países foi positivo para os Estados Unidos em 51 bilhões de dólares! Trump não apresentou qualquer dado!
Essa mistura de argumentos aparece, coincidentemente, logo após o encontro dos países do BRICS no Rio de Janeiro, encontro presidido pelo Brasil. O BRICS, ao que tudo indica, está tomando tal volume que começa a ameaçar o grande império, como se o mundo não pudesse ter outros centros decisórios, autônomos, independentes do “grande irmão do Norte”.
Não bastassem as ameaças e mentiras de Trump, ele esticou sua bazófia para combater o Pix. Nesse sistema de transferências, o dinheiro sai de um CPF ou NPJ para outro CPF ou CNPJ, sem taxas extras cobradas por cartões de crédito de bancos e investidoras. Não pode, viu! – comanda Trump. Já pensaram se esse sistema for adotado mundo afora?
Como sintetizou Nelson Rodrigues: “O grande acontecimento do século (passado) foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”, que continuam se reproduzindo aos borbotões. Vejamos se as ameaças de Trump, indicada para entrar em vigência no primeiro dia de agosto, realmente se concretizará. A seu estilo, o imperador já falou tanto besteirol que teve de voltar atrás. Bem como fazem os mandatários vinculados à extrema-direita: ladram, ladram, ameaçam morder, mas depois miam como um gatinho encolhido. Foi o que o capitão fez quando estava em frente ao Xandão.
Em bilhetinho enviado a Putin, Trump prometeu acabar com a guerra na Ucrânia em questão de dias. O mundo aguarda até hoje. Como não ocorreu, o Trump “pacificador” agora diz que vai enviar armamento à Ucrânia – bem a propósito de alguém que busca a paz – e vai cobrar a conta da Europa. O mais absurdo é a indicação de Trump para o Nobel da Paz, proposta por Netanyahu, outro “pacificador”. Parece que o conflito em Gaza não existe.
O mais interessante dessa confusão toda iniciada por Trump em relação ao Brasil é que ele botou a extrema-direita nas cordas do ringue. A sobretaxa teve até aplausos de parlamentares gaúchos, entre eles Zucco, Osmar Terra e Marcel van Hattem. E o culpado, claro, o governo Lula. Mas o tiro saiu pela culatra, porque a sobretaxação mostrou quem são os patriotas… dos Estados Unidos, pois são contra o Brasil.
O patriotismo da famiglia Bolsonaro também fica explícito: que a economia do Brasil afunde, desde que salvemos o capitão que, ao peticionar perante as câmaras de TV contra o STF, diz que o faz pelos pobres coitados que estiveram na Praça dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro.
Preocupa e dá medo, medo internacional, que um maluco como o Trump é eleito para a presidência do país mais poderoso (ainda) do mundo. Com todo o poderio bélico que tem em mãos, quantos ovos da serpente poderá chocar até o fim do seu mandato? E em quantas guerras ainda poderá se meter? Cautela!
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: O presidente dos EUA, Donald Trump | David Ramos/Getty Images/AFP
Respostas de 2
Muito bom! Texto excelente.
Excelente!!