Por DANIEL AFONSO DA SILVA*
Sem contar que 70% dos franceses desejam a destituição de Macron. Voluntária ou não. E mais de 90% da classe política requer o mesmo.
A realidade política francesa admite apenas o qualificativo “alucinante” como síntese. Nada traduz melhor a agonia generalizada desse belo país que vive sob tormentas agudas que foram pioradas com o anúncio da demissão do sétimo primeiro-ministro do presidente Emmanuel Macron na última segunda-feira, 6 de outubro de 2025, apenas vinte e sete dias após assumir a função.
Adicione-se a isso a controversa e inimaginável condenação do presidente Nicolas Sarkozy a cinco anos de prisão em regime fechado sem um veredicto completamente convincente. A fúria de Jean-Luc Mélenchon no fomento de movimentos de contestação à ordem em todo o país. O entusiasmo de Marine Le Pen para impor novas eleições legislativas para ver o seu partido, o Reagrupamento Nacional, enfim, chegar à dianteira da representação parlamentar. Sem contar a pressão de todas as partes para a realização de eleições presidenciais antecipadas, subentendendo-se uma vacância da presidência a partir da demissão voluntária presidente Emmanuel Macron.
Impressiona, constrange e assusta esse empilhamento de crises. Nem a penúria da pandemia causou tamanho mal-estar. Menos ainda a assertividade dos Coletes Amarelos chegou a condenar tão fortemente a atuação do governo e do presidente impondo à França tamanha angústia.
Tempos difíceis, tempos horríveis, tempos macronianos. Que parecem chegar à exaustão. Pois, imediatamente após a reeleição de 2022, a aceitação popular do presidente Emmanuel Macron já figurava em apenas 32%. Chegando a 17% em meados de 2025. E podendo tornar-se negativa em breve.
Sem contar que 70% dos franceses desejam a sua destituição. Voluntária ou não. E mais de 90% da classe política requer o mesmo. Muita vez, sem, claramente, dizer. Somente tornando irrespirável o ambiente no Élysée.
Apenas o rei Luis XVI, o marechal Philippe Pétain e o general De Gaulle receberam tamanho nível de desafeição.
Mas é bom lembrar do resultado.
O rei foi conduzido à guilhotina.
O marechal Pétain, à prisão perpétua.
O general De Gaulle, após o referendum de 1969, a abandonar tudo e partir.
Ainda não se sabe qual o destino da presidência de Emmanuel Macron tampouco do próprio Emmanuel Macron.
Seguro é que, agora, qualquer movimento virou arriscado.
Dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições parlamentares nessa ambiência de anomia vai simplesmente abrir caminhos seguros para extremos à direita e à esquerda ancorados em Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon ampliarem as suas margens de decisão no poder.
Destituir-se o presidente Emmanuel Macron do Élysée em favor de eleições presidenciais antecipadas tende a tornar a situação ainda pior pois existem dezenas – perto da centena – de candidatos virtuais a presidente da França, cada qual com uma saída simples para problemas insolúveis de um país à beira da falésia.
Que fazer?
Ninguém na França nem algures parece saber.
Só se sabe que vai piorar muito antes de talvez melhorar.
Publicado originalmente em GGN.
*Daniel Afonso da Silva é Pesquisador no Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e professor na Universidade Federal da Grande Dourados.
Foto da capa: Emmanuel Macron por Jeso Carneiro – Flickr





Uma resposta
Muy interesante artículo. Permite “sentir” el clima político de Francia