Netanyahu reafirma ofensiva em Gaza na ONU; comitivas se retiram e Brasil faz gesto simbólico

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Em discurso inflamado e prolongado na Assembleia-Geral da ONU, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira que Israel manterá os ataques contra a Faixa de Gaza até “terminar o trabalho”. A fala, de mais de 40 minutos — bem acima do limite recomendado pela ONU de 15 minutos — provocou vaias no plenário e o abandono da sessão por grande parte das delegações, entre elas a do Brasil.

Netanyahu sustentou que o objetivo é aniquilar o Hamas e neutralizar outras “ameaças” na região, rejeitou a criação de um Estado palestino e acusou países ocidentais que reconheceram a Palestina de fomentar o terrorismo. Ao mesmo tempo, negou que o Exército israelense esteja matando civis ou provocando fome em Gaza, atribuindo a crise humanitária a ações do próprio Hamas.

Mensagem, imagens e tática de palco

O premiê usou recursos visuais e retóricos: apresentou um mapa do Oriente Médio rotulado com a expressão “A maldição” e foi riscando, com um marcador, as áreas que, segundo ele, Israel teria “incapacitado” — entre elas o Hezbollah, alvos na Síria e no Iêmen e, em suas palavras, instalações que representavam “armas atômicas do Irã”. “Nós incapacitamos o Hezbollah, derrubamos milhares de terroristas na Síria e no Iêmen. Também devastamos as armas atômicas do Irã”, disse, acrescentando que “o trabalho ainda não acabou”.

Em vários momentos Netanyahu buscou ampliar seu apelo: disse estar “lutando uma batalha” pelo Ocidente e agradeceu de forma explícita ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, a quem chamou de parceiro na ação contra o Irã.

Isolamento diplomático no plenário e exceções

Antes de o pronunciamento começar, a maioria das delegações abandonou o plenário como gesto de protesto — atitude repetida em relação ao ano anterior. Permaneceram, segundo relatos, as delegações dos Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, França, Itália, Espanha, Finlândia, Suíça e uma comitiva da União Europeia. Ao longo do discurso, houve aplausos vindos do setor da plateia reservado a convidados.

A comitiva brasileira, composta por sete diplomatas, saiu do salão antes do início do discurso. Os representantes trajavam keffiyeh (lenço palestino) em gesto simbólico — o mesmo tipo de protesto institucional que o Itamaraty fez no ano passado.

Críticas a reconhecimentos do Estado Palestino e declarações fortes

Netanyahu criticou a “onda de reconhecimentos” do Estado Palestino por países ocidentais (entre os exemplos citados figuram Reino Unido e França), classificando a iniciativa como “vergonhosa” e afirmando que tal decisão “irá encorajar o terrorismo contra os judeus, contra pessoas inocentes em todo lugar”. Em termos mais duros, comparou a ideia de um Estado Palestino “a um quilômetro de Israel” à criação de um “Estado da Al-Qaeda a um quilômetro de Nova York após 11 de setembro”.

Em referência ao antissemitismo, disse: “O antissemitismo nunca morre. Pelo contrário, sempre volta”.

Megafones, reféns e a narrativa da operação militar

Em um episódio que mesclou comunicação e intimidação, Netanyahu afirmou que altas-falantes instalados pelo Exército israelense na Cidade de Gaza transmitiam a sessão da Assembleia-Geral, e relatou ter se dirigido diretamente a reféns mantidos pelo Hamas — em hebraico: “Nossos heróis, aqui é Netanyahu, falando com vocês ao vivo direto da ONU. Nós não esquecemos vocês. Nós traremos vocês de volta para casa”. Ele exigiu a entrega de armas pelo grupo: “Se vocês não fizerem isso, Israel caçará vocês”.

Ainda no plano da narrativa, o premiê negou que Israel esteja promovendo fome em Gaza e responsabilizou o Hamas por desvio de ajuda e roubo de mantimentos, enquanto autoridades e organizações humanitárias documentam escassez aguda e estimativas de dezenas de milhares de mortos na Faixa de Gaza.

Protestos externos e contexto bélico

Enquanto Netanyahu falava, milhares de pessoas protestavam nas ruas de Nova York contra a ofensiva israelense em Gaza — cenas de rua que ecoaram o clima de repúdio no plenário. O conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023 após ataque do Hamas ao sul de Israel (que deixou cerca de 1.200 mortos e centenas de sequestrados, segundo registros da época), já provocou perdas massivas na Faixa de Gaza: autoridades e contagens citadas no discurso apontavam para mais de 65 mil mortos desde o início da guerra.

O que o episódio significa em termos diplomáticos

O pronunciamento e as reações destacam alguns vetores cruciais:

  • Isolamento político: o abandono coletivo do plenário evidenciou o desgaste diplomático de Israel em amplos setores da comunidade internacional, ainda que mantenha apoios relevantes.
  • Ruptura do diálogo multilateral: a comparação feita por Netanyahu entre reconhecimento de Estado e ameaça terrorista, e sua ênfase em ações unilaterais de segurança, tensionam canais de negociação sobre cessar-fogo, ajuda humanitária e possíveis soluções políticas.
  • Narrativas concorrentes: enquanto Israel afirma combater terrorismo e proteger reféns, grandes organizações humanitárias sustentam relatos de crise humanitária grave e levantam dúvidas sobre proporcionalidade e proteção de civis — pontos centrais para a análise jurídica e política internacional.

Foto destacada: Frame da transmissão do canal oficial da ONU no Youtube.

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