Não Seja Cúmplice da Devastação

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Por SOLON SALDANHA*

Espinilho é o nome dado a um tipo de vegetação de características de savana-estepe, que não é encontrada em nenhuma parte do Brasil, além do Rio Grande do Sul, na sua fronteira oeste. Ameaçado seriamente de extinção, ele tem um parque estadual que o tenta preservar, localizado no município de Barra do Quaraí. Esta unidade de preservação do bioma Pampa tem grande importância para o ecossistema da região, fazendo fronteira com os vizinhos Uruguai e Argentina.

A vegetação daquela área específica é caracterizada pela presença de árvores espinhosas, entre elas a Vachellia caven (nome científico do próprio espinilho), como também o algarrobo e o quebracho branco, isso além de um conjunto de fauna adaptado a este ambiente e paisagem de campos abertos. As ameaças à sobrevivência se devem principalmente à expansão agropecuária, que causa a supressão da vegetação nativa e a destruição da biodiversidade.

Pois a rede Zaffari, a maior entre os supermercadistas no nosso Estado, um conglomerado fundado em Passo Fundo décadas atrás – hoje tem ainda administração de cartões de crédito e um braço imobiliário –, vende nas suas lojas lenha confessadamente dessa mata nativa, sem que se saiba de quaisquer ações de reposição. Se tem informações de que algumas pessoas já registraram sua inconformidade quanto a isso, junto à Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul sem, no entanto, terem obtido resposta satisfatória. Foram apenas informadas que isso agora depende de licenciamento municipal. E que, supostamente, se trataria de “manejo de vegetação”, sem detalhar o que exatamente viria a ser isso.

Considerando que nenhuma árvore se abate sozinha, se transforma em achas de lenha e se empacota em sacos plásticos, alguém está fazendo isso. E lucrando. Ações essas que foram facilitadas, nos últimos tempos, pela “flexibilização” – palavra multiuso essa – da legislação ambiental. O que não deveria ser razão suficiente para que um grupo empresarial da dimensão de um Zaffari embarcasse nessa canoa furada. Se toda a sua publicidade tem se voltado para uma declaração de orgulho de pertencer ao Estado, ajudar na preservação de suas riquezas também naturais, se enquadraria na confirmação do que é alardeado.

O Parque Estadual do Espinilho foi criado em 12 de março de 1975, se tornando um marco na proteção de espécies endêmicas e ecossistemas raros. O local antes sofria com exploração agrícola desenfreada e caça predatória, afetando seus banhados que alimentam rios e lagoas da região, garantindo sustentabilidade hídrica. Com uma área de cerca de 1.617 hectares, além das espécies vegetais, abriga aves como a ema, o cardeal-amarelo e o joão-grande; mamíferos, como o veado-campeiro, o tatu e o graxaim-do-campo; e répteis, como serpentes, sapos e lagartos. A própria vegetação rasteira, com gramíneas principalmente, ajuda na estabilização do solo e proporciona alimentação para os animais.

Localizado no quilômetro 643 da BR-472, o parque fortalece o turismo sustentável, com observação de pássaros migratórios e caminhadas guiadas por trilhas, promovendo renda para as comunidades locais. A melhor época do ano para visitação é entre os meses de outubro e março, quando o clima é mais ameno e as espécies da fauna são mais facilmente observadas. A própria vitalidade se revela maior, com flora em pleno florescimento e mais atividade dos animais.

Isso posto, fica a minha sugestão: se for comprar lenha, tente escolher outra que esteja sendo oferecida. Não encontrando, busque em um supermercado diferente. A menos que você também queira contribuir com a devastação.

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*Solon Saldanha é jornalista e blogueiro.

Texto publicado originalmente no Blog  Virtualidades.

Foto de capa: Parque Estadual do Espinilho | Divulgação/Sema

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Respostas de 2

  1. Nossos biomas estão em falência. Sou da Região da Mata Atlântica, mudei pro Cerrado em 74. Dele, restam manchas num mar de cana, laranjais e pastos. Temos 2 estações: calor c/chuva e canícula c/seca, essa última cada ano mais intensa e insuportável.

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