Por ANTONIO CARLOS ALKMIM*
A polarização política brasileira continua dando o tom dos embates entre instituições, líderes e cidadãos. Em um país ainda marcado por cicatrizes da pandemia, por incertezas econômicas e por investigações judiciais que miram diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, a imagem pública de duas figuras centrais ganhou relevo nos últimos meses: o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o próprio Bolsonaro.
Pesquisa recente do instituto Genial/Quaest, realizada entre os dias 10 e 14 de julho de 2025, mostrou um dado raro em tempos de extremos: 41% dos brasileiros apoiam a postura de Moraes, enquanto 41% concordam com as críticas contra ele. Os 18% restantes permanecem neutros ou indecisos. É uma fotografia perfeita do Brasil rachado – não há maioria clara, mas um campo polarizado que transforma cada decisão do Judiciário em arena de batalha política.
Do outro lado, Bolsonaro enfrenta um cenário bem diferente. Dados agregados de diferentes institutos (Datafolha, Ipespe, AtlasIntel) mostram que a aprovação do ex-presidente gira entre 30% e 35%, enquanto a rejeição permanece elevada, entre 55% e 60%. A diferença é importante: ao contrário de Moraes, cuja imagem ainda é disputada no debate público, Bolsonaro enfrenta rejeição consolidada.
Essa diferença se torna ainda mais clara ao observar a distribuição de sentimentos nas redes sociais. Durante a repercussão das sanções dos Estados Unidos contra o ministro Moraes, 60% das menções no Facebook e no X criticaram as sanções, o que demonstra que, mesmo sob ataque internacional, o magistrado preserva um núcleo de apoio significativo – algo que Bolsonaro não desfruta com a mesma intensidade.
Mas o que explica essa diferença? Alexandre de Moraes tornou-se símbolo de resistência institucional ao avanço do autoritarismo bolsonarista, especialmente após sua atuação no combate às fake news e aos atos golpistas de 8 de janeiro. Para uns, é um guardião da democracia. Para outros, um censor togado. Já Bolsonaro, cuja base permanece ruidosa, carrega o peso de escândalos, investigações e uma condução de governo que deixou marcas profundas, especialmente nas áreas da saúde, meio ambiente e relações exteriores.
No gráfico elaborado com base nas pesquisas mais recentes, Moraes aparece com um equilíbrio entre apoio e crítica, enquanto Bolsonaro desponta com ampla rejeição. A visualização reforça o que a narrativa política já antecipa: o Brasil pode até estar dividido em relação ao STF, mas parece já ter julgado Bolsonaro com mais severidade.
A disputa entre as instituições e o bolsonarismo continua sendo o campo simbólico mais relevante da política nacional. E os dados da opinião pública são o termômetro mais fiel dessa tensão – que deve permanecer acesa até as eleições
Podemos chegar a uma primeira hipótese. A desconstrução do judiciário brasileiro, a partir da carta de Trump fracassou. Principalmente no que diz respeito ao nacionalismo. Ser americanista ou israelita não parece ser uma opção nacional. Inclusive, do ponto de vista econômico parece confuso para os protagonistas da direita, leia-se governadores candidatos ao posto presidencial. Defender interesses americanos claramente é uma contradição
Segunda hipótese: o bolsonarismo a despeito de tudo, como o trumpismo permanecem forças vivas no Brasil, do ponto de vista eleitoral. Não há porque subestimar esta força. Até porque não aparece opção à direita sem o encosto do bolsonarismo. Nenhuma força coloca camisas amarelas nas ruas e nem mobiliza de forma contundente as novas forças virtuais e evangélicas. E nada trivial, as big techs tem lado.
O gráfico a seguir foi construído com o uso da inteligência artificial .

*Antonio Carlos Alkmim é Doutor em Ciência Política Professor da PUC-Rio.
Foto de capa: Antonio Augusto – 16.ago.2022/Secom/TSE





Uma resposta
Estou divulgando para meus amigos.