Da REDAÇÃO
Ministro do STF defende investigações contra Bolsonaro, responde a sanções dos EUA e se define como “vacina” contra o autoritarismo
Em entrevista exclusiva ao The Washington Post, publicada no dia 17 de agosto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, falou sobre os ataques que tem sofrido de lideranças da extrema direita no Brasil e no exterior, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, Elon Musk e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Não há a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, afirmou Moraes, que conduz investigações sobre tentativa de golpe e ataques à democracia. Para ele, o papel da Justiça é claro: “Receberemos a acusação, analisaremos as provas e quem tiver que ser condenado, será. Quem tiver que ser absolvido, será”.
“Não se trata de uma perseguição política. Trata-se de proteger a Constituição, proteger o Estado Democrático de Direito. O Brasil não pode permitir que a história se repita com novos ataques ao regime democrático”, disse.
Bolsonaro sob vigilância
Segundo Moraes, ele decidiu colocar Bolsonaro em prisão domiciliar após receber mensagens indicando que o ex-presidente teria violado a proibição de usar redes sociais. “A Corte não permitirá que o réu a transforme em chacota”, escreveu o ministro na decisão de 4 de agosto.
“A justiça não pode ser ridicularizada, especialmente por quem já demonstrou desprezo pelas instituições democráticas. O processo é legal, é baseado em provas, com mais de 179 testemunhas ouvidas. E se há provas, haverá responsabilização”, declarou.
“Não se trata de calar vozes, mas de impedir que se utilize a liberdade de expressão como escudo para práticas criminosas e golpistas”, acrescentou.
Conflito com Trump e sanções dos EUA
A postura de Moraes levou a retaliações do governo Trump. O Departamento do Tesouro dos EUA aplicou sanções contra o ministro sob a Lei Magnitsky. Moraes também teve seu visto norte-americano revogado, e Trump impôs tarifa de 50% sobre produtos brasileiros em resposta à sua atuação.
Mesmo assim, Moraes disse manter admiração pelos EUA: “Todo constitucionalista tem grande admiração pelos Estados Unidos. Eu mesmo mantenho no meu gabinete três documentos simbólicos: a Declaração de Independência, o Bill of Rights e o preâmbulo da Constituição americana”.
“Essas sanções não me intimidam. Elas fazem parte de uma narrativa que tenta desacreditar o sistema judicial brasileiro, mas nós seguiremos firmes. O Brasil é uma democracia e deve ser defendido”, completou.
“Temos que esclarecer ao mundo que o Brasil não está perseguindo ideias, mas sim combatendo ações concretas contra a ordem democrática”, concluiu.
Reação dos EUA após entrevista
No dia seguinte à entrevista, o governo dos Estados Unidos elevou o tom contra Moraes. Em postagens no X (antigo Twitter), o Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental e a Embaixada dos EUA no Brasil classificaram o ministro como “tóxico para todas as empresas legítimas e indivíduos que buscam acesso aos Estados Unidos e seus mercados”.
A publicação oficial também alertou que “nenhum tribunal estrangeiro pode anular as sanções impostas pelos EUA ou proteger alguém das severas consequências de descumpri-las”. O aviso estende o alerta a estrangeiros: “Quem oferecer apoio material a violadores de direitos humanos também pode ser alvo de sanções”.
A resposta veio no mesmo dia em que o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que leis estrangeiras só têm validade no Brasil após homologação judicial — reação à tentativa de imposição extraterritorial das sanções.
De procurador municipal a figura global
Moraes relembrou sua trajetória: filho de empresário e professora, iniciou a carreira como promotor em São Paulo, destacou-se em investigações de corrupção e ocupou cargos no governo estadual antes de chegar ao STF. Em 2019, foi escolhido para comandar o inquérito das fake news, após ameaças ao Supremo e à democracia.
“O Brasil foi infectado pela doença do autoritarismo, e cabe a mim aplicar a vacina. Essa é uma missão institucional. Temos o dever de proteger a democracia com os instrumentos que a Constituição nos fornece”, afirmou Moraes.
“É natural que haja resistência. Toda vez que se tenta desmontar estruturas antidemocráticas enraizadas, os ataques surgem. Mas não é com medo que se constrói justiça”, disse.
Críticas internas e apoio popular
Apesar de contar com o apoio da maioria dos ministros do STF, Moraes também enfrenta críticas por suposto excesso de poder. O ex-ministro Marco Aurélio Mello declarou: “Fico triste com a deterioração da instituição”, alertando para os riscos de um poder concentrado.
Moraes rebateu: “Você sabe quantas decisões minhas foram revertidas no STF? Nenhuma. Todas as mais de 700 decisões que proferi foram analisadas pelos colegas, e nenhuma foi revertida. Isso demonstra que estamos no caminho certo”.
“A democracia exige coragem institucional. Estamos vivendo um momento em que é preciso escolher entre omissão e ação. Eu escolhi agir”, afirmou.
Sobre a continuidade das investigações, ele concluiu: “Enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar. Não se trata de vontade pessoal, mas de dever institucional”.
A entrevista completa pode ser lida no site do The Washington Post.
Foto da capa: Ministro do STF Alexandre de Moraes – Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Tags: Alexandre de Moraes, STF, Jair Bolsonaro, Donald Trump, Elon Musk, democracia, fake news, redes sociais, investigação, Washington Post





Respostas de 2
Discurso agressivo, medidas violentas, mentiras e campanhas de ódio ou vitimização não podem influenciar Julgador cônscio de seu papel. Cabe a ele conduzir o processo e julgar. Mas é importante a comunicação na imprensa estrangeira com a atuação de cada um dos atuantes nos processos e dos atuantes no golpe e outros crimes. O Juiz não julga para ir a praias americanas (as nossas são satisfatórias) ou levar netos à Disney! A invasão estrangeira se dá também pelas armas das palavras e dos decretos…
Bravo e heroico cidadão que apenas vê o mundo com a lente da verdade e defende o direito Universal da liberdade como ela é. Única. Os outros….são apenas os outros, como dizia Sartre os outros representam um inferno…