Por SOLON SALDANHA*
Na noite desta terça-feira, 25 de março, também conhecida como ontem, foi aberta a exposição de cartuns Minha Gaza Minha Vida, no Clube de Cultura, em Porto Alegre. Os trabalhos dos 18 cartunistas participantes seguirão expostos até 19 de abril, na sede localizada na Rua Ramiro Barcelos, 1.853, no Bairro Bom Fim. A realização é do Grifo, “o jornal que ri, seriamente”, conforme se apresenta, publicação da Grafar – Grafistas Associados do Rio Grande do Sul. A temática da mostra, como fica bem evidente no seu nome, é a delicada questão do atual conflito entre Israel e o Hamas, iniciado ainda em 7 de outubro de 2023.
Esta exposição é quase que a continuação de outra que esteve no local em janeiro de 2024: Sinta-se em Gaza. Eram 20 os cartunistas no ano passado. Daqueles, nove estão outra vez expondo agora, na companhia de outros nove que fazem sua “estreia” não na carreira, mas no tema proposto coletivamente. As obras são individuais, exceto por uma que é uma espécie de painel – este, ao estilo da mostra itinerante Nau dos Insensatos, sobre os responsáveis pela tragédia que foi a enchente de maio passado, no Rio Grande do Sul. Os nomes de ambas as que tratam de Gaza foram sugeridos por Edgar Vasques, 75 anos, que entre outros feitos foi o criador do impagável Rango.
O Clube de Cultura foi criado em maio de 1950. Fará 75 anos em breve, portanto. Sua inauguração ocorreu na sala de uma casa na Av. Protásio Alves. Não muito depois foi alugada uma casa antiga no atual endereço, sendo ela mais tarde adquirida em esforço de cotização. Depois ainda foi erguido no local o prédio que hoje o abriga. Ao longo dos anos, acolheu a Frente Gaúcha de Música Popular, a Cooperativa dos Músicos de Porto Alegre, o Clube de Cinema e outras associações que basearam nele por algum tempo as suas atividades. A exemplo da Grafar, atualmente. Ainda manteve um departamento de teatro, com elenco próprio e importantes encenações. Grandes personalidades nacionais se apresentaram e fizeram palestras nas suas dependências, como Vinícius de Moraes, Cyro Martins, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Dyonélio Machado.
Curiosamente, para quem não conhece a capital gaúcha, o Bom Fim foi um reduto de judeus do Século XIX ao início do Século XX. Conhecido hoje em dia por sua diversidade, abriga espaços culturais que incluem o Auditório Araújo Viana, galerias de arte, livrarias e centros comunitários, além de alguns cafés e boas opções de gastronomia. Existem cinco sinagogas no bairro: Centro Israelita, Linat Hatzedek, Beit Lubavitch, Sociedade Maurício Cardoso e União Israelita. E duas delicatessens, ambas localizadas na Rua Fernandes Vieira, são tradicionais em termos de culinária judaica. Cosmopolita e extremamente acolhedor, suas vias são movimentadas e têm uma atmosfera vibrante.
A exposição Sinta-se em Gaza, depois de aberta no Clube de Cultura, visitou sete Estados ao longo do ano passado. Para a atual, Minha Gaza Minha Vida, se espera sucesso e repercussão semelhantes. A qualidade dos cartunistas envolvidos, bem como a questão sensível e humanitária abordada, merecem a visita.
*Solon Saldanha é jornalista e blogueiro.
Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades.
Foto de capa: Reprodução /Cartum de Edgar Vasques na exposição Minha Gaza Minha Vida