Mensagem de Natal de Zinka e Flávio

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De FLÁVIO AGUIAR*, de Berlim

De comum acordo, decidimos que eu  (Flávio) escreveria esta mensagem de  Natal no final de 2023. 

Esta mensagem evoca um filme que  assisti há muitos anos, cujo nome não  lembro mais.  

É um filme franco-vietnamita cujo  protagonista é um menino de sete ou  oito anos, na antiga Saigon (hoje cidade  Ho Chi Minh), durante a guerra e a  intervenção dos Estados Unidos no  Vietnã.  

O pai do menino é perseguido pela  polícia sul-vietnamita e tem de fugir,  juntando-se aos vietcongs no interior.  Pouco depois a mãe do menino fica  doente e morre. E ele se vê na contingência de cuidar do irmão menor,  de três anos de idade. 

Para enfrentar a situação ele se torna  engraxate. O filme acompanha sua perambulação pelas ruas de Saigon,  engraxando as botas para ele enormes  dos mais enormes oficiais norte americanos, dos sul-vietnamitas e os  sapatos dos civis, sempre com o irmão  menor a reboque. 

Ele termina encontrando ajuda num  convento de freiras, que passam a tomar  conta do pequeno. O menino mais velho continua a perambular pela cidade,  engraxando sapatos e tentando  encontrar algum sinal do paradeiro do  pai. 

Depois de muita andança e peripécia, a  guerra chega ao fim. Os vietcongs  tomam a cidade. Dias depois as freiras  do convento conseguem enviar uma  mensagem ao menino, pedindo que ele  venha vê-las. Chegando lá, depois de  saudar o irmão menor, uma das freiras  lhe diz que elas localizaram seu pai. Ele  o espera no fim da rua onde fica o convento. “Você pode ir ao seu encontro,  e perguntar-lhe o que quiser”.  

A câmera focaliza o pai, de costas, em  primeiro plano. No fundo, o menino vem  se aproximando, primeiro a passo,  depois correndo. Ele salta no pescoço do  pai e a câmera congela a imagem do abraço. 

A gente ouve a voz do menino, em off,  perguntando: 

-Pai, o que é a paz? 

Esta é a nossa pergunta e o nosso desejo  neste Natal e para 2024. 

Zinka e Flávio.


*Jornalista, analista político e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).

Imagem em Pixabay.

Neste natal, a Rede Estação Democracia (RED) faz suas as palavras do autor Flávio Aguiar nesta mensagem. 

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