O livro conta a história de um aventureiro marinheiro brasileiro, nas décadas de 1930 e 1940, que mergulhava para a Marinha dos EUA, na Segunda Guerra Mundial, armando e desarmando mina submarina, além de consertar hélices e soldar cascos de navios de longo curso e outras embarcações, muitas vezes com o mar infestado de tubarões.
E, nas noites de farras com outros marinheiros, principalmente nos cabarés em vários portos do mundo, gostava de contar que enfrentava os ferozes tubarões “chutando ou batendo com uma madeira na ponta de seus bicos e eles fugiam com medo”, o que, se não fosse falado por aquele velho lobo do mar, poderia ser interpretado como mais uma “inverosímil história de pescador”.
O certo é que ele navegou por todos os oceanos, enfrentou as mais violentas tempestades, e, quando aportava, balançava o corpo de um lado para o outro; vivenciou muitas noitadas de bebedeira em cabarés, testemunhou incontáveis brigas, sobretudo de marinheiros ingleses, franceses, norteamericanos e porto-riquenhos; participou de competições de mergulho livre, em apneia, além de luta de boxe, queda de braço; fumava charutos cubanos e virou comandante de grandes embarcações.
Foi náufrago por três vezes e, em um desses naufrágios — no cargueiro Cerro Ancón, com bandeira do Panamá, supostamente torpedeado por submarinos alemães — permaneceu à deriva em alto mar, no Oceano Atlântico, durante quatro semanas, sobre algumas pranchas de madeira junto com seis companheiros que não tiveram a mesma sorte e foram devorados pelos implacáveis assassinos dos mares.
Em 1936, em um cabaré em Habana Vieja, conheceu outro aventureiro, o escritor norte-americano Ernest Hemingway, de quem se tornou amigo, e ambos ouviram e testemunharam, em uma praia de Cuba, um velho pescador contar que havia pescado um monumental peixe e o matou após dois dias de uma luta tenaz, amarrando-o ao barco, mas os famintos tubarões comeram mais da metade de suas carnes, e, também, o ajudaram a trazer o enorme esqueleto ao lado da canoa para a terra firme.
Anos depois, aquela história originou o célebre livro O velho e o mar, que Ernest Hemingway publicou, em 1952, e o ajudou a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura de 1954; nessa época, o marinheiro e mergulhador havia abandonado a vida mundana e estava de volta ao Brasil; foi fabricante de sapatos no Rio de Janeiro e, meses depois, montou o Bar Tupy, na cidadezinha de Conceição da Barra, norte do Estado do Espírito Santo, e se notabilizou na produção de picolés, refrescos e sorvetes com as frutas da estação; também mantinha um pequeno palco nos fundos do estabelecimento, onde — the best of the night — ele contava as suas aventuras mundanas para os habitués notívagos, poetas, seresteiros, boêmios e demais frequentadores.
Porém o mais surpreendente ocorreu após ambos serem acometidos pelas mesmas doenças — hipertensão, depressão e diabetes, morando a milhares de quilômetros de distância e havia décadas que não se falavam —, quando beijaram a face da eternidade, no mesmo dia e mês, tomando a mesma e dolorosa decisão de precipitar o fim de suas vidas.
E, se você se emocionou com a leitura de O velho e o mar, do consagrado escritor Ernest Hemingway, por certo também irá se emocionar ao ler “O velho lobo do mar”, de Maciel de Aguiar — filho do aventureiro marinheiro e mergulhador —, que, por mais uma provável coincidência ou benevolência do destino, também foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
Foto de capa: Divulgação
Respostas de 3
Excelente história, vou comprar o livro.gostaria se saber onde encontro esse livro aqui em Porto Alegre?
Muitíssimo interessante!!
Notável história!!