Mais um Figueiredo no caminho do Brasil

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Por SOLON SALDANHA*

Ele costumava se apresentar como empresário e hoje afirma ser apenas influenciador. É brasileiro, nascido em 29 de dezembro de 1983, e mora nos Estados Unidos por opção e necessidade. Formado em economia, iniciou sua carreira no segmento de hotelaria de luxo, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse período conheceu Donald Trump, a quem passou a assessorar na construção do Trump Hotel, empreendimento típico da megalomania do atual presidente. Este seria uma das torres que iriam compor o complexo Trump Towers Rio na zona portuária da cidade, ao lado de outras quatro, todas essas com 150 metros de altura e ao custo total de R$ 5 bilhões. O hotel teria 171 quartos, sendo 11 deles suítes com piscinas privativas, piso de mármore importado da Turquia e papel de parede holandês, uma discoteca e spa. Como atração, vistas tanto para o oceano como para as montanhas. Falo de Paulo Figueiredo, neto do último general que presidiu nosso país durante o período da ditadura militar, João Batista Figueiredo.

O sonho trumpista de se estabelecer no Rio de Janeiro, sabemos todos que não deu certo. O conjunto de torres jamais saiu do papel, exceto o hotel, que foi parcialmente construído para as Olimpíadas que a cidade sediou em 2016. Naquele mesmo ano a Trump Organization se retirou do negócio, deixando tudo nas mãos de alguns parceiros brasileiros. Alegou como motivo a demora na conclusão da obra, sendo que na realidade buscava era se distanciar da investigação da Polícia Federal (Operação Greenfield), que apurava fraudes que causaram prejuízos milionários a dois fundos de pensão brasileiros captados como investidores. O CEO na oportunidade era Paulo Figueiredo. O hotel existe hoje em dia, sendo integrante de uma rede que não tem relação com os fundadores.

Em fevereiro de 2025 Paulo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da União por tentativa de golpe de estado. Ele seria o responsável por propagar desinformação golpista e antidemocrática, incitando militares a aderirem ao plano urdido após as eleições presidenciais de 2022. Na realidade, há anos já vinha sendo investigado por prática semelhante e chegou a ser demitido da Jovem Pan, em 2021, quando até mesmo a emissora conhecida por ser difusora de inverdades resolveu não bancar mais os seus excessos. Ainda quando trabalhava para ela, fazia isso à distância, uma vez que reside há mais de dez anos provavelmente em Miami – ele faz questão de nunca deixar isso claro, aparecendo por vezes em outros estados. Sua principal atividade é um programa em rede social, com o qual vende cursos sobre política e história alinhados à extrema-direita. Segue assim o caminho de seu “guru”, o astrólogo que gostava de ser intitulado filósofo, Olavo de Carvalho (1947-2022).

Em 16 de julho deste ano, o influenciador apareceu em vídeo gravado na frente da Casa Branca, ao lado de Eduardo Bolsonaro. Isso foi logo após o anúncio da tarifa de 50% sobre produtos exportados do Brasil para os EUA. Disse, na oportunidade, que essas medidas eram apenas “o início de uma jornada que pode ser tenebrosa para o Brasil”. Segundo ambos declararam, haviam participado de uma “rodada de reuniões” com alguns membros do governo Trump. E que isso era o ápice de uma campanha liderada por eles não apenas contra o atual governo eleito do nosso país, como também contra a pessoa do ministro Alexandre de Moraes.

Na justiça dos EUA, uma empresa de Paulo Figueiredo está sendo objeto de apuração feita com base no Código de Falências e na Lei de Dívidas e Créditos de Nova York. Ela estaria envolvida em um caso de falência que busca a recuperação de transferências em fraude bilionária, liderada por outro muito suspeito trumpista. Trata-se do magnata chinês Miles Guo, já condenado por nove crimes diferentes, entre os quais lavagem de dinheiro e organização criminosa. Lembremos que Guo foi um dos principais colaboradores e financiadores de Steve Bannon, notabilizado como estrategista da primeira campanha de Trump e também quando da eleição de Bolsonaro, em 2018.

Ele também é controlador da rede social Gettr, que patrocinou eventos de apoio à reeleição do pai de Eduardo, de quem é próximo, em 2022. O chinês desviou de seguidores na internet mais de US$ 1 bilhão, levando uma vida de luxo antes da prisão. Nesses negócios sob investigação, Paulo teria recebido quase um milhão. Morando em uma cobertura de 15 suítes junto ao Central Park, avaliada em US$ 67,5 milhões, e sendo ainda proprietário de um iate que tem valor estimado de US$ 37 milhões, Guo declarou ao tribunal não ter recursos suficientes para pagar dívidas.

Paulo Figueiredo agora é considerado foragido da justiça brasileira. E segue liderando, ao lado de Eduardo Bolsonaro, o “lobby anti-Brasil” em curso nos Estados Unidos. A dupla seria responsável pelo esforço junto ao governo daquele país para que fosse aplicado o chamado “tarifaço”. Eles também teriam articulado para que Donald Trump incluísse na oferta de “negociação” a exigência de uma anistia ampla para Jair Bolsonaro – que ainda sequer foi condenado –, desconhecendo a independência entre os poderes. Uma chantagem mais do que clara, além de configurar intervenção indevida que escancara total desrespeito à nossa soberania. Algo que precisa, no caso dos dois brasileiros, ser apontado como traição à pátria.

P.S.: Não deixe, de modo algum, de ver o vídeo que está mais abaixo, com um recorte do programa de Paulo Figueiredo nos EUA. Ele ameaça frontalmente ministros do STF e delegados da Polícia Federal.

Abaixo um vídeo retirado do programa de Paulo Figueiredo, nos Estados Unidos, no qual ele volta a atacar abertamente o Supremo Tribunal Federal e também delegados da Polícia Federal.

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*Solon Saldanha é jornalista e blogueiro.

Texto publicado originalmente no Blog  Virtualidades.

Foto de capa: Paulo e seu avô João Figueiredo| Reprodução

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Uma resposta

  1. O avô era um milico, de direita, obviamente, que teve alguma inteligência quando deixou o poder e se limitou a viver no ostracismo que lhe cabia, éste e um salafrário pé de chinelo,que vive do oportunismo ao se acobertar no poder do dinheiro, dos outros é claro.

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