Por Edelberto Behs*
O Brasil tem figuras que simplesmente cabem melhor nos séculos XVIII ou XIX, mas estão longe do século XXI. Dizem cada bobagem e defendem heresias de fazer corar Jesus junto ao poço com a mulher samaritana. E tem, inclusive, representação no Congresso com uma bancada forte, a evangélica, que defende castigo maior para a mulher estuprada do que pena ao estuprador.
Em pleno 2024, o pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, a mesma da ex-ministra e senadora Damares Alves, que via Jesus na goiabeira, disse, em culto, alertando pais, e ainda por cima aplaudido, que não enviassem seus filhos à universidade. “Vai vender picolé na garagem” que é melhor, recomendou. Filha, então, é criada para ser mulher santa, família, cheia de Deus, mas jamais para “virar vagabunda”, o que vai acontecer se ela for universitária.
Numa toada um pouco diferente, mas machista como Valadão, referida em outro período, foi a recomendação do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ao apresentar sua família, num culto, defendeu que nenhuma mulher deveria estudar mais que o marido, porque a mulher não pode ser a cabeça da família. Onde isso acontece, o casamento está fadado ao fracasso e à infelicidade. Mulher nessas condições serve a si mesma e não a Deus.
A IURD está relacionada, inclusive, a partido político, o Republicano, liderado pelo bispo Marcos Pereira, e tem 565,3 mil filiados. No Congresso Nacional, conta com uma bancada de 41 deputados e quatro senadores. Integra, evidentemente, a bancada evangélica, aquela que condena a mulher que engravida de um estupro, mas que fecha os olhos para o estupro de meninas, adolescentes, praticado por pastores.

É surrealismo em demasia, que busca embasamento em passagens bíblicas, escolhidas de modo a sustentar o seu fundamentalismo, sem qualquer correlação com o contexto da época em que foram colhidas e os tempos atuais. Esses pastores deveriam, de forma coerente, deixar de usar energia elétrica e recorrer a lampiões, esquecer seus carrões, ou até mesmo aviões, e recorrer a mulas e cavalos.
*Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
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