Da REDAÇÃO, com informações do The New York Times
Brasília, 30 de julho de 2025 – Às vésperas da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou uma entrevista ao The New York Times para enviar um recado direto ao presidente Donald Trump: o Brasil “não será manipulado”.
Na conversa com o jornalista Jack Nicas, publicada nesta terça-feira (30), Lula criticou a tentativa de interferência política dos EUA, defendeu a soberania brasileira e alertou para os prejuízos econômicos mútuos causados pela escalada tarifária.
“Brasileiros e americanos não merecem isso”
Segundo Lula, a tarifa anunciada por Trump seria uma retaliação ao andamento dos processos judiciais contra Jair Bolsonaro no Brasil. Ele negou qualquer interferência política nos tribunais e afirmou:
“Quero dizer a Trump que brasileiros e americanos não merecem ser vítimas da política. O povo brasileiro pagará mais por alguns produtos, e o povo americano pagará mais por outros. E eu acho que a causa não merece isso.”
Tentativas de diálogo foram ignoradas
Lula revelou que tentou, sem sucesso, abrir diálogo com o governo dos EUA:
“Pedi para entrar em contato. Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia. Até agora, não foi possível.”
O presidente relatou que o Brasil enviou uma carta formal em 16 de maio, após dez rodadas de reuniões com o Departamento de Comércio dos EUA. A única resposta veio por meio do site de Trump, anunciando as tarifas.
“Brasil não é país pequeno”
Questionado sobre críticas públicas que fez a Trump, Lula foi enfático:
“Não há motivo para ter medo. […] Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil negociará como um país soberano.”
Ele também criticou o tom da política externa de Trump:
“Não se consegue nada estufando o peito e gritando […] nem abaixando a cabeça e dizendo ‘amém’ a tudo o que os Estados Unidos desejam.”
“Vamos esperar o Dia D”
Sobre os impactos das tarifas, Lula foi cauteloso:
“Não estou dizendo que nada vai acontecer, mas temos que esperar o Dia D para saber.”
Afirmou que não há negociação possível sobre o caso de Bolsonaro, por respeito à independência dos poderes, mas está disposto a dialogar sobre comércio:
“Se ele quer uma briga política, vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo.”
China como alternativa
Caso as tarifas se confirmem, Lula disse que o Brasil buscará novos mercados:
“Se os Estados Unidos não quiserem comprar algo nosso, vamos procurar alguém que queira. Temos uma relação comercial extraordinária com a China.”
E completou:
“Trump é uma questão para o povo americano. Não vou questionar o direito soberano deles, porque não quero que questionem o meu.”
Foto da capa: Foto montagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e do Vice-Presidente da República Geraldo Alckmin sobre foto de Ricardo Stuckert/PR.
Tags:
Lula, Trump, tarifas EUA, comércio Brasil EUA, China, soberania, Bolsonaro, entrevista Lula.




