Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*
A recente divulgação da pesquisa Quaest apontando que a desaprovação do governo Lula (PT) havia superado a aprovação (49% a 47%) combinado com o aumento da inflação e a hegemonia da cobertura crítica de parte expressiva dos meios de comunicação em relação a condução da economia instalou um pessimismo antecipado no campo progressista em relação a sucessão de 2026 não condizente com a realidade.
Ao analisarmos a pesquisa divulgada nessa semana pela Quaest sobre a disputa de 2026 constatamos que, apesar dos complexos desafios que cercam o presidente, tal pessimismo é precipitado.
Faltando cerca de um ano para a disputa pelo Palácio do Planalto, Lula lidera todos os cenários estimulados de primeiro turno, com índices de intenção de voto que variam de 30% a 33%, o dobro do registrado pelas alternativas de direita como, por exemplo, o governador de São Paulo (SP), Tarcísio de Freitas (Republicanos); o cantor sertanejo Gusttavo Lima (sem partido) e Pablo Marçal (PRTB); e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). Os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e de Minas Gerais (MG), Romeu Zema (Novo), não chegam aos dois dígitos das intenções de voto.
Nas simulações de segundo turno, Lula derrotaria todos os potenciais concorrentes da direita. Além disso, de acordo com a Quaest, Lula aparece com o maior potencial de votos entre os nomes simulados.
Mesmo que o presidente Lula tenha hoje uma intenção de voto nas simulações de primeiro turno próximo ao piso histórico do PT, que gira em torno de 30%, e pouco mais de 40% nos cenários de segundo turno – índices inferiores ao que o presidente já teve – o favoritismo de Lula permanece preservada pelos seguintes aspectos:
Lula, conforme mostra a pesquisa Quaest, se mantém como o líder político mais popular do país;
Lula venceu as últimas três eleições presidenciais que disputou (2002, 2006 e 2022), além de ter sido o grande cabo eleitoral nas vitórias de Dilma Rousseff em 2010 e 2014;
Lula será candidato no exercício do cargo, tendo a força da máquina a seu favor, além da capacidade de construir uma aliança política competitiva;
A oposição não tem um nome natural para enfrentar Lula em 2026; e
A direita não consegue capitalizar a desaprovação ao governo e está fragmentada diante da insistência de Jair Bolsonaro em tentar ser candidato mesmo estando inelegível;
Porém, isso não significa que Lula terá facilidades até 2026. Muito pelo contrário. Os percentuais de intenção de voto de Lula indicam que o desafio de ampliar os apoios político e social permanecem. Um deles é reconquistar a parcela móvel do eleitorado que, apesar de ter votado em Lula, no pleito de 2022, se desgarrou do governo.
Para reconquistar essa fatia do eleitorado, Lula precisará, primeiro, construir uma marca que aponte uma agenda de futuro, o que ainda não ocorreu. Outro aspecto importante é que não foi exclusivamente o PT e o campo de esquerda que elegeram Lula em 2022, mas sim uma aliança de frente ampla. Entretanto, essa composição teve curta duração.
Assim, dentro do objetivo de reconstruir a frente ampla de 2022, a atração do MDB e PSD é fundamental. Como o Brasil realizou uma guinada à direita desde 2016, buscar o apoio do União Brasil e PP – ou de parte desses partidos – também será necessário.
Outro desafio é a reconexão do PT com a nova dinâmica do mundo do trabalho, onde os trabalhadores assalariados perdem espaço para o empreendedorismo. Essa reconexão indicará a capacidade do governo Lula em dialogar com parte da classe média, que passou a ter uma postura crítica em relação ao lulismo.
Mesmo com grandes desafios pela frente, Lula preserva a condição de favorito para 2026, já que neste momento a oposição não dispõe de um candidato natural. Porém, o presidente terá que lidar com uma agenda difícil até o próximo ano.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).
Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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