A comunicação do governo Lula atravessa um momento de visível reconfiguração. Nos últimos meses, o presidente tem ampliado significativamente sua presença digital e diversificado os temas e formatos das mensagens nas redes sociais, com ênfase em pautas como soberania nacional, isenção do Imposto de Renda (IR) e valorização da economia interna. A estratégia, que mistura linguagem popular, estética de influenciadores e ações publicitárias de grande alcance, tem atraído a atenção tanto do público quanto da imprensa especializada em política e comunicação.
Campanha digital massiva e foco na isenção do IR
Segundo reportagem do G1, o governo federal investiu R$ 85 milhões em anúncios em 30 dias para divulgar a proposta de isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000. As peças publicitárias circularam em plataformas como YouTube, Instagram e TikTok, com linguagem próxima do cotidiano das pessoas e voltadas à ideia de “justiça fiscal” — um dos motes que mais mobilizam a base do governo nas redes.
A Folha de S.Paulo complementa que a comunicação presidencial também passou a incorporar com mais frequência o tema da soberania nacional, especialmente em momentos de tensão internacional, como os discursos de Lula na ONU e as falas sobre a importância do Brasil manter autonomia diante de potências estrangeiras.
Esses dois eixos — soberania e isenção — se consolidaram como pilares da estratégia digital do governo, buscando conectar o discurso político ao sentimento de pertencimento e de proteção econômica nacional.
Troca na Secom e nova fase na comunicação governamental
A mudança de tom coincidiu com a substituição do ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, pelo publicitário Sidônio Palmeira, em janeiro de 2025. Segundo o Planalto, a troca marcou a entrada em um “segundo tempo” do governo — voltado à consolidação de resultados e à melhoria da percepção pública sobre as políticas federais.
Em entrevistas, Sidônio afirmou que a comunicação do governo ainda era “analógica” e precisava se tornar mais digital, próxima e “palpável” para o cidadão comum. Desde então, a Secom tem apostado em formatos curtos, vídeos explicativos, transmissões ao vivo e uma linguagem mais direta.
A nova gestão também lançou uma licitação de R$ 98,3 milhões para contratação de agências especializadas em comunicação digital — valor menor do que o edital anterior, de R$ 198 milhões, suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por suspeitas de irregularidades.
Popularidade digital e apoio às medidas
Os resultados começaram a aparecer. Uma pesquisa da Nexus realizada em julho de 2025 apontou que 71% dos brasileiros apoiam a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000. Entre os entrevistados, 82% afirmaram ter visto ou ouvido falar da medida — e a maioria atribuiu a informação a redes sociais e anúncios digitais.
Levantamentos da própria Secom mostram que, entre agosto e setembro, houve aumento de 37% no engajamento das postagens em perfis oficiais do governo, especialmente no Instagram e no TikTok. O conteúdo sobre “soberania e desenvolvimento” teve o maior número de curtidas e compartilhamentos no período.
Especialistas ouvidos pela Folha e pelo G1 destacam que o governo conseguiu transformar temas tradicionalmente técnicos — como tributação e política externa — em mensagens com apelo emocional, o que contribui para ampliar a conexão simbólica com parte do eleitorado.
Repercussão e debates
A ofensiva digital do governo também despertou debate entre analistas políticos e comunicadores. De um lado, há quem veja a estratégia como sinal de modernização e maior diálogo com o público; de outro, surgem críticas sobre a intensidade do gasto com publicidade oficial em período pré-eleitoral.
Parlamentares da oposição têm questionado o volume de recursos investidos e a eventual sobreposição entre comunicação institucional e propaganda de governo. Integrantes do Planalto, por outro lado, defendem que as campanhas cumprem papel educativo e prestam contas sobre políticas públicas que “impactam diretamente o dia a dia das pessoas”.
Comunicação como ferramenta política
Desde a chegada de Sidônio Palmeira à Secom, o discurso de Lula nas redes passou a ser mais pessoal e simbólico. Vídeos gravados pelo próprio presidente em eventos, imagens de bastidores e posts com mensagens curtas sobre temas econômicos passaram a ocupar espaço antes dominado por peças formais.
Segundo levantamento do O Globo, a frequência de publicações sobre temas econômicos e sociais aumentou dez vezes após a troca na Secom, enquanto as menções à inflação e ao custo de vida ganharam destaque nos últimos meses — um movimento interpretado como tentativa de aproximar o governo de segmentos urbanos e das classes médias.
Desafios e próximos passos
Apesar do alto engajamento e da adesão popular a temas como o IR e a soberania, a comunicação digital de Lula ainda enfrenta desafios, como a necessidade de equilibrar espontaneidade com institucionalidade e evitar críticas sobre o uso político das redes oficiais.
Mesmo assim, a nova fase marca um momento de forte sintonia entre discurso, estética e estratégia digital, com o governo apostando na convergência entre comunicação pública e linguagem popular — uma aposta que, até aqui, tem rendido visibilidade e apoio.
Imagem destacada: reprodução de postagens das redes sociais do gov.br.




