O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca nesta terça-feira (21) para uma viagem diplomática à Indonésia e à Malásia, onde participará da Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) — bloco estratégico que reúne dez economias da região e vem se consolidando como espaço de articulação global entre Sul Global e grandes potências.
Além da agenda econômica e ambiental, o foco das atenções recai sobre a possível reunião entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja confirmação depende apenas de um “alinhamento de agendas”, segundo interlocutores do Planalto. Caso ocorra, será o primeiro encontro formal entre os dois líderes desde o agravamento das tensões comerciais entre os países, deflagradas pelo tarifaço imposto por Washington.
Encontro decisivo com Trump
De acordo com assessores presidenciais, há disposição de ambas as partes para o encontro, que deve ocorrer no domingo (26), na Malásia. A conversa seria a oportunidade para “reorganizar a relação” entre os governos e reabrir canais diplomáticos, após meses de impasse e retaliações econômicas.
No início de outubro, Lula e Trump tiveram uma conversa telefônica de cerca de 30 minutos, quando o brasileiro pediu formalmente a revogação do tarifaço. O presidente deve insistir no tema durante o encontro presencial, reforçando o argumento de que as medidas prejudicam setores produtivos estratégicos do Brasil, como o agronegócio e a indústria de transformação.
Diplomacia cautelosa e pragmática
A orientação do Itamaraty é conduzir a reunião em tom de conciliação, sem abrir mão das posições de princípio do Brasil. Entre elas, destaca-se a defesa da soberania regional latino-americana diante da crescente pressão de Washington sobre Venezuela e Colômbia.
Trump tem intensificado sua retórica contra os governos de Nicolás Maduro e Gustavo Petro, a quem chegou a chamar de “narcotraficante”. Os EUA mantêm operações navais no Caribe sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, mas que, segundo analistas, têm motivação geopolítica.
Lula, por outro lado, deve reafirmar que o Brasil é contrário a qualquer tipo de intervenção externa na América do Sul, defendendo soluções políticas e diplomáticas. “O diálogo e a cooperação devem substituir as ameaças”, resumiu um assessor da Presidência.
Cúpula da ASEAN e novas frentes de cooperação
A viagem do presidente brasileiro terá duração de uma semana. Lula desembarca na Indonésia na quarta-feira (22), onze horas à frente do horário de Brasília. Na quinta (23), participa de um encontro com empresários e, na sexta (24), visita a sede da ASEAN.
O bloco reúne Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã, e busca ampliar a integração econômica e a estabilidade regional. O Brasil tem interesse em estreitar laços comerciais com as economias do Sudeste Asiático, especialmente no campo da energia limpa, infraestrutura e tecnologia agrícola.
No sábado (25), Lula chegará à Malásia, onde participará de uma visita oficial e cerimônia de assinatura de acordos bilaterais. Já no domingo (26), participará da abertura da cúpula, de reuniões empresariais e de um encontro bilateral confirmado com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi — além da esperada reunião com Trump, ainda em negociação.
A leitura entre diplomatas é que Lula aposta na reconstrução da confiança global no Brasil e no retorno de uma política externa ativa e altiva, marcada pela defesa da democracia, do diálogo e de uma ordem internacional mais justa e multipolar.
Imagem destacada: Ricardo Stuckert




