Lula 2.0 e a comunicação, por Luís Nassif

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Por LUIS NASSIF*

No Lula 2.0, a opinião pública entenderia que a frase de Lula sobre Gleisi era contraponto ao ataque de Bolsonaro. No 3.0, não.

A cantora e atriz Selena Gomez publicou, em seu Instagram, um vídeo com crianças imigrantes sendo deportadas pelos Estados Unidos. Começou a viralizar. Imediatamente, a comunicação da Casa Branca prepara um vídeo com crianças, supostas vítimas de criminosos imigrantes, e espalha pelas redes. O jogo vira, Selene passa a ser atacada a ponto de retirar o vídeo de seu Instagram.

Cena 2 – A comunicação de Lula

Bolsonaro fala alguma coisa a respeito da suposta feiura das petistas. Lula respondeu mencionando a beleza de Gleisi Hoffmann, mas em um padrão de frase machista. Nos tempos de Lula 2.0, havia quatro grandes jornais que conduziam a informação. Portanto, teria sido fácil a opinião pública entender a continuidade, de que a frase de Lula era um contraponto à frase de Bolsonaro. Nos tempos de 3.0, não. Cada informação vem isolada e fica no ar a informação mais disseminada.

Quantos souberam disso? Quando começou a viralizar a frase de Lula, a comunicação do Planalto poderia ter recorrido ao seguinte contra-ataque:

  • Informações em massa sobre as políticas atuais de defesa da mulher, feito pela gestão Lula.
  • Vídeos mostrando o maior apoio até hoje proporcionado às mulheres por políticas públicas: a decisão do Bolsa Família, de Lula 2.0, de que os benefícios seriam recebidos pelas mães, não pelos pais das famílias beneficiadas.
  • Vídeos com mulheres beneficiadas pelas políticas públicas de Lula.
  • A indicação de mais uma mulher para o Superior Tribunal Militar.
  • Um vídeo contrapondo a frase de Lula à de Bolsonaro.

No seu Roda Viva, Marina Silva, a Marina Silva – constantemente subestimada pela intelectualidade petista -, fez uma contundente defesa das políticas sociais de Lula, respondendo às críticas sobre a suposta inação do governo. Um trecho viralizou, provavelmente por iniciativa individual de perfis pró-governo.

Outro exemplo: ontem o programa TV GGN  20 horas entrevistou Maneco Hassem, o principal responsável pela coordenação das verbas federais no Rio Grande do Sul. Foi colocada uma montanha de dinheiro no Estado. Mostrou números graúdos de projetos municipais aprovados, de verbas para a recuperação de empresas e apoio às famílias. Enfim, uma lição de republicanismo e, ao mesmo tempo, de profunda ingenuidade: nas últimas eleições, essas informações não chegaram aos gaúchos. O mérito acabou sendo de prefeitos e governador. Indaguei a razão. Explicou que as verbas resultam em obras que precisam estar completas para o gaúcho entender o papel do governo federal. E elas estão sendo completadas só agora. 

Ora, a operação estava sendo tocada por Paulo Pimenta, Ministro da Secretaria de Comunicação, empenhadíssimo apenas em rechear seu perfil com seguidores. Aliás, no início da operação de salvamento, Pimenta deu uma belíssima lição de como usar a rede, rebatendo uma jogada maliciosa de um prefeito bolsonarista. O malandro divulgou uma conversa telefônica com Pimenta, supostamente passando-lhe um sabão, sem mostrar a reação de Pimenta. Imediatamente, Pimenta divulgou um vídeo com ele sendo filmado na mesma conversa, desmoralizando o malandro.

O perfil de @LulaOficial tem 9,4 milhões de seguidores. O da Presidência da República tem 1,2 milhão de seguidores. O da EBC tem 78,2 mil. O do Governo do Brasil tem 670,4 mil. O de Janja Lula Silva, 1,2 milhão. No seu período de Secom, Paulo Pimenta conseguiu turbinar seu perfil, que hoje tem 619,3 mil seguidores. Pouquíssimos souberam que a frase de Lula foi uma resposta à frase anterior de Bolsonaro.

É bobagem achar que a idade afetou o raciocínio de Lula. É só conferir a maneira como reagiu às grosserias do governador mineiro Romeu Zema ou mesmo às fanfarronices de Donald Trump – assumindo a liderança mundial contra aquele que caminha para se tornar o inimigo público número 1 da humanidade. Mas continua sendo o Lula 2.0 – esse é o problema. 

A suposta influência de Janja não livrou Lula de manifestações machistas, de piadas anacrônicas, de formas carinhosas-padrão-Lula de mostrar simpatia pelas pessoas: como chamar o deputado petista de “cabeção”. Tudo isso tornou-se matéria-prima para as redes bolsonaristas. Tudo isso está englobado no conceito de comunicação pública.


*Luis Nassif é jornalista econômico e editor e diretor do GGN

Publicado originalmente no GGN.

Foto da capa: Jeso Carneiro – Flickr

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