Lembrai-vos de 2016!!!

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Isabel Lustosa - Foto: acervo da autora

Por ISABEL LUSTOSA*

Lula disse que se o filho dele estiver metido no escândalo do INSS, vai ser investigado do mesmo jeito que qualquer outro.

Foi assim que tudo começou. Um republicanismo ingênuo fazia com que até a compra de uma tapioca provocasse demissão de ministro. O governo queria ser bem limpinho apesar de ter que compor com um congresso corrupto liderado por Eduardo Cunha.

Veio o mensalão e, a partir da tese do “domínio de fato” as velhas e as novas lideranças do PT que estavam surgindo foram dizimadas com base em ninharias.

Apesar de tudo Lula se reelegeu e ainda elegeu sua sucessora.

Mas o trabalho de destruição de sua imagem pela mídia continuou de forma intensa.

Finalmente, depois que Lula deixou a presidência, conseguiram criar um clima de aversão tão profunda contra ele e o PT que todos passaram a ser xingados em espaços públicos.

A lava jato, conluio entre a justiça do Paraná e a Rede Globo terminou o serviço. Lula não pode concorrer à presidência e ficou quase dois anos preso.

Podem acreditar que mesmo que o filho de Lula não seja culpado, vão dar um jeito de fazer com que chegue nas eleições carimbado como o maior corrupto da face da terra e sobrará para o Lula que, sendo pai, só podia ter o “domínio do fato”.

A classe média de esquerda (inclusive a mais ilustrada) que engole toda a manipulação produzida pela mídia, incorporou a rejeição ou, pelo menos, não defendeu Lula, Dilma e o PT.

E foi então que o pesadelo começou. Temer implantou a ponte para o futuro que nada mais era do que entrega de quase tudo para o mercado e o que sobrasse para os corruptos do centrão e ampliou o espaço de poder dos militares.

Com o apoio da mídia as manifestações contra Dilma e a rápida deterioração de seu prestígio chocaram o ovo da serpente (desculpem o lugar-comum). De dentro dele saiu o Governo Bolsonaro e todos os males que são bem conhecidos.

Parecia que o pesadelo não teria fim, que a angústia existencial que nos acometeu a todos seria para sempre.

O preconceito, a corrupção, a entrega das riquezas nacionais e o estímulo ao crime organizado com a liberação absoluta da compra de armas e munições, sem falar da forma como foi tratada a saúde durante a pandemia davam sinais que duraria para sempre especialmente depois que a extrema-direita venceu nos Estados Unidos ia conquistar o mundo.

Adeus, classe média, pareceria ser a legenda desse sombrio mundo novo.

Mas de dentro da solidão do cárcere da PF em Curitiba, Lula, renasceu mundialmente admirado e respeitado e deu os primeiros passos para ser eleito em 2022.

Quase não foi, a comunhão da turma da lava jato com o bolsonarismo parecia invencível.

Lula ganhou a presidência, mas eles ganharam o Congresso e avançavam para a conquista do STF fazendo nomear seus amigos.

Do 12 de dezembro, passando pelo 8 de janeiro até hoje, a luta tem sido intensa.

Para lidar com uma maioria de políticos corruptos e/ou reacionários só um hábil jogador, um grande negociador que esteve sempre voltado para a defesa dos interesses e necessidades do povo brasileiro. Tão hábil que, mesmo diante da ameaça maior representada por Trump, conseguiu acalmar a fera e reverter as medidas contra o Brasil.

Conseguiu, sempre negociando, pressionando, jogando, arrancar do parlamento votações importantes para o projeto de um Brasil com uma melhor condição de vida para sua população.

Perdeu muitas dessas batalhas, mas, mesmo com uma diminuta representação parlamentar, ganhou as mais importantes.

A campanha de 2026 vai ser dura.

Não dá para voltar ao republicanismo ingênuo que fazia com que qualquer denúncia sem comprovação publicada pela mídia fosse aceita como verdade definitiva.

Alguns exigem de Lula uma atitude mais firme contra o que Trump está preparando contra a Venezuela. Eu também gostaria que fosse possível salvar aquele país da tragédia que se desenha.

Mas qual o preço que o Brasil pagaria por esse enfrentamento? Tudo que Lula obteve até agora foi graças a seus talentos pessoais dos quais faz parte uma atitude firme, como no caso das tarifas, mas sempre aberta à negociação.

Agora o fogo amigo começa por causa da aprovação no Senado do projeto sobre a dosimetria.

Li em algum lugar uma análise curiosa: Jacques Wagner traiu o povo brasileiro que se manifestou em 14 de dezembro, viabilizando a votação, mas não faria isto se não fosse por ordem do Lula. A reclamação da Gleize era só jogo de cena. Os três estariam mancomunados.

Apesar de Jacques Wagner e o PT terem votado em peso contra o projeto, o fato de ter aceitado negociar para que a votação acontece ainda em dezembro fez dele e do governo que representa, representantes na verdade de Bolsonaro, o principal interessado na coisa.

O que Lula ganharia com a redução da pena de Bolsonaro?

A negociação na verdade foi uma chantagem de Davi Alcolumbre.

Ele mandou o seguinte recado: “tanto o PL da Dosimetria quanto o projeto de lei que reduz parte dos benefícios fiscais do governo federal deveriam ser votados nesta quarta no plenário. Segundo relatos, Wagner e Marinho concordaram que nem o governo impediria a votação do PL da Dosimetria, nem a oposição impediria o governo de votar nesta quarta o projeto que aumenta a tributação, aprovado na véspera pela Câmara dos Deputados.”

Foi isto que Lula ganhou.

E nada garante que a pena de Bolsonaro e dos demais golpistas vá ser mesmo reduzida.

*Isabel Lustosa é socióloga, jornalista, escritora e poeta.


Foto da capa: Isabel Lustosa: acervo da autora.

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Uma resposta

  1. A devoção lulo-petista só difere na cor do boné, dos bolsonaristas.Impressionante. A culpa é sempre de terceiros (congresso/STF/pobre de direita…).

    A devoção é sempre sentimento primitivo, embora adotado conscientemente por pessoas “ilustradas”.

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