Edição: quando a política insiste em competir com a comédia — e continua vencendo com facilidade.
1) Ramagem foge, mas continua votando — e Hugo Motta faz cara de paisagem
A fuga de Alexandre Ramagem para os EUA, em pleno turbilhão político, virou o novo marco do surrealismo parlamentar. O deputado sumiu fisicamente, mas continua aparecendo nas votações da Câmara como se estivesse sentado, sorrindo e tomando cafezinho em Brasília. Da Flórida, do aeroporto, do hotel, tanto faz — ele vota. E Hugo Motta, presidente da Câmara, cuja tarefa é zelar por decoro, funcionamento e integridade do processo legislativo, decidiu assumir o papel de planta ornamental: está ali, enfeita o ambiente, mas não intervém. Ramagem transformou o mandato em home office radical, e Motta transformou a omissão em arte performática.
Mundo Surreal: Se amanhã o deputado votar direto da fila da montanha-russa da Disney, ele ainda será computado como “presente”. No Brasil, o parlamentar pode até fugir — desde que não pare de clicar no botão “SIM”.
2) Estadão flexibiliza a justiça: dura para Lula, aconchegante para Bolsonaro
O Estadão, que na prisão de Lula defendia rigor absoluto, austeridade punitiva e a ideia de que “a lei é para todos”, agora descobriu que a lei é, na verdade, uma canção de ninar quando se trata de Jair Bolsonaro. Subitamente, defende prisão domiciliar, conforto, casa, cuidados e um ambiente acolhedor para que o ex-presidente cumpra sua pena — a mesma indulgência que o jornal dizia ser “absurda” quando o réu era Lula. A capacidade de adaptação editorial é tão impressionante que poderia ser tema de estudo em biologia evolutiva.
Mundo Surreal: A lei é igual para todos — mas alguns são mais “iguais” que outros, principalmente quando o editorialista simpatiza com o réu.
3) Trump recua no tarifaço, mas Eduardo Bolsonaro jura que não foi diplomacia
O governo americano voltou atrás no tarifaço que ameaçava setores inteiros da economia brasileira. O gesto foi visto no mundo todo como um recuo diplomático — menos por Eduardo Bolsonaro, que insiste que a decisão não tem ligação com o Brasil. Para ele, foi apenas um fenômeno espontâneo da política americana, um acaso astrofísico, um eclipse tarifário. O curioso é que, ao mesmo tempo em que Trump aplica ghosting nos Bolsonaro — aquele sumiço clássico de quem evita até responder “ok” — Eduardo mantém a fé de que ainda existe uma espécie de “bromance diplomático”, que no caso dele significa: uma paixão política tão unilateral que a pessoa confunde idolatria com geopolítica, acha que ser ignorado é um sinal de afeto e acredita que submissão conta como estratégia internacional. Eduardo não enxerga um presidente estrangeiro — enxerga um pôster na parede.
Mundo Surreal: Trump abandonou os Bolsonaro como quem silencia notificação no celular. Mas Eduardo continua lá, fiel, dizendo que não é desprezo — é estratégia.
4) Derrite e Motta transformam a PEC Antifacção em um manual de facilidades para o crime
A PEC antifacção enviada pelo governo era técnica e robusta. Bastou cair nas mãos de Derrite e Hugo Motta para se transformar numa obra pós-moderna do legislativo brasileiro: cheia de brechas, truques e dispositivos que fragilizam a Polícia Federal, exigem vazamento antecipado de operações aos governadores e dão ao crime organizado a vantagem de saber a hora em que a polícia vai bater na porta. Uma espécie de spoiler obrigatório das ações de segurança pública.
Mundo Surreal: Se o PCC tivesse contratado uma consultoria parlamentar, dificilmente teria conseguido resultados melhores. Derrite e Motta são os Michelangelos da sabotagem institucional.
5) O Consórcio da Paz entra no modo mudo após o escândalo do Banco Master
O tal “Consórcio da Paz”, grupo de governadores de direita que aplaude operações policiais letais como se fossem eventos esportivos, evaporou depois que o Banco Master veio abaixo. Ibaneis Rocha apoiou a compra do banco pelo BRB, enquanto Cláudio Castro aplicou R$ 2,6 bilhões do fundo de previdência — dinheiro dos aposentados, dos velhinhos, do suor de décadas — em uma instituição que operava como pirâmide financeira. Quando o castelo de areia desmoronou, o consórcio silencioso deixou claro: a paz é só para a foto; para o crime de colarinho branco, o protocolo é rezar e torcer para ninguém ligar os pontos.
Mundo Surreal: Para justificar chacinas, eles fazem coletivas. Para explicar rombos bilionários, fazem retiro espiritual.
6) A privatização da EMAE vira boomerang e volta na cara de Tarcísio
A primeira privatização de Tarcísio — a venda da EMAE para o fundo Phoenix — era para ser espetáculo de eficiência, com batida de martelo e discurso sobre “dinamismo privado”. Mas o fundo fazia parte do universo financeiro orbitado pelo Banco Master, que ruiu como castelo de cartas molhadas. Phoenix deu calote, a EMAE quebrou junto e a Sabesp — também privatizada por Tarcísio — teve de resgatar a empresa por R$ 1,13 bilhão. Para completar, descobriu-se que a EMAE havia aplicado quase 6% de seus ativos em CDBs do Letsbank, do mesmo conglomerado, deixando R$ 140 milhões congelados. A cereja do bolo? O cunhado de Daniel Vorcaro, pastor Fabiano Zettel, foi um dos maiores doadores de Tarcísio em 2022, com R$ 2 milhões.
Mundo Surreal: A privatização virou auto-resgate, a eficiência virou improviso e o mercado virou pastel de vento. No fim, Tarcísio privatizou para quebrar e reestatizou para salvar — tudo com o contribuinte bancando o plot twist.
7) Governo taxa criptos e os super-ricos descobrem que também são mortais
Acabou a farra. O governo decidiu tributar pagamentos internacionais feitos com criptomoedas — a joia da invisibilidade fiscal das elites. Agora, quem achava que Bitcoin era um passe livre para escapar da Receita terá de enfrentar a realidade: até o mundo digital paga imposto. A elite financeira reage com indignação, acusando o governo de “perseguição” — como se pagar tributo fosse uma violação de direitos humanos exclusivos para quem aparece na Forbes.
Mundo Surreal: Milionário chamando imposto de “ditadura” é o novo rico chorando no helicóptero porque o champanhe está quente.
8) Lula indica Messias ao STF e a imprensa tradicional entra em crise existencial
Lula indicou Jorge Messias ao STF. Davi Alcolumbre, que trabalhava para emplacar Rodrigo Pacheco, ficou desapontado. E a Folha, numa agilidade notável, publicou editorial sugerindo que o Senado rejeite o indicado. O episódio reacendeu a velha mania seletiva da mídia tradicional: quando a indicação vem de aliados políticos da casa, chamam de “normalidade institucional”; quando vem de Lula, vira “ameaça” e “interferência”.
E, claro, a mesma Folha não reclamou quando FHC nomeou Gilmar Mendes e Nelson Jobim — seus homens de confiança.
Mundo Surreal: A imprensa não é contra indicações políticas — só contra as indicações políticas dos outros.
9) O xilique de Alcolumbre: rejeitado por Lula, ele responde com pauta-bomba bilionária
Depois de não emplacar Rodrigo Pacheco no STF, Davi Alcolumbre entrou no modo birra. Pautou um projeto capaz de provocar impacto entre R$ 20 e 200 bilhões nas contas públicas nos próximos anos. A pauta, claro, não caiu do céu: foi seu recado direto a Lula, um gesto de “vocês me ignoraram, agora lidem com isso”.
Mundo Surreal: O Senado virou playground. E Alcolumbre, que deveria ser adulto, decidiu brincar de sabotagem orçamentária.
10) A birra homérica de Davi Alcolumbre: rompimento, vingança e a ilusão de que o Brasil é o Amapá
Como se não bastasse a pauta-bomba bilionária que ele já usou como instrumento de vingança por Lula não ter indicado Rodrigo Pacheco ao STF, Davi Alcolumbre agora rompeu relações institucionais e pessoais com Jacques Wagner, líder do governo no Senado. O senador entrou em modo birra total — não é mais só recalque, é epopeia! Parece acreditar que o Senado é extensão da sala dele e que o Brasil é o Amapá, onde manda, desmanda, distribui cargos, abençoa verbas e decreta quem merece o sol e quem merece a sombra. Só que desta vez Lula parece ter acordado para o óbvio: amarrar o governo aos humores de barões parlamentares é pedir para governar de joelhos. A birra homérica de Alcolumbre deixa claro que ele não se conforma em perder protagonismo — e agora tenta transformar frustração pessoal em crise institucional.
Mundo Surreal: A bronca de Alcolumbre virou tantrum de dirigente mimado. Ele não aceita ter perdido um cargo no STF — mas perdeu qualquer noção de proporção faz tempo.
11) COP30 vira a conferência do “todo mundo tenta parecer responsável, mas ninguém assina nada”
A COP30 avançou entre discursos inflamados e promessas generosas, mas, na hora de fechar acordos concretos, a diplomacia global entrou no modo snooze. Cada país defendeu metas ousadas… para serem cumpridas por outros. O Brasil tentou costurar um acordo antecipado, mas encontrou a muralha da hesitação internacional: todos querem salvar o planeta, desde que não custe nada e não exija renunciar a nenhum privilégio.
Mundo Surreal: A COP virou sessão de terapia: todos admitem o problema, ninguém quer mudar o comportamento.
12) Miss México transforma humilhação em vitória — política brasileira deveria aprender
Destratada ao vivo por um apresentador durante o Miss Universo, a Miss México poderia ter quebrado o protocolo. Mas preferiu vencer, e transformar sua vitória em um ato de empoderamento público. O episódio escancarou a diferença entre maturidade e vitimismo: enquanto políticos brasileiros choram em live por uma pergunta mais dura, ela encarou o machismo, manteve a postura e levou a coroa.
Mundo Surreal: Os políticos nacionais poderiam assistir ao concurso — não pela beleza, mas pela aula de compostura.
13) Bolsonaro quer prisão domiciliar e descobre subitamente que está “fraco”
Condenado a 27 anos, Bolsonaro acionou sua equipe médica-jurídica para construir o novo enredo: agora ele não tem condições de cumprir pena em presídio. Até ontem fazia lives, discursos, caminhadas, pose de atleta aposentado. Hoje, misteriosamente, está frágil, debilitado e precisa de casa, chá e travesseiro especial. A súbita deterioração coincide, curiosamente, com a decisão sobre onde ele vai cumprir a condenação.
Mundo Surreal: O ex-capitão, que dizia ser imbatível, agora parece feito de vidro. A saúde dele é igual ao discurso dele: muda conforme a conveniência.
14) Bolsonaro pede prisão humanitária antes mesmo de ser preso — e Flávio anuncia soluços apocalípticos
Antes mesmo de o STF determinar a prisão de Jair Bolsonaro, seus advogados já haviam protocolado pedido de “prisão humanitária” — uma espécie de prisão VIP, opcional, com mimos e cuidados especiais para o condenado de estimação da extrema-direita. Logo em seguida, Flávio Bolsonaro apareceu nas redes sociais informando que as crises de soluço do pai pioraram dramaticamente nas últimas 24 horas. O timing é tão perfeito que parece até roteiro: a cadeia ainda nem foi decretada e o corpo já entrou em colapso preventivo.
É possível, claro, que Bolsonaro esteja enfrentando problemas reais de saúde. Mas é igualmente possível que o “cagaço” tenha chegado cedo — muito antes das algemas. Afinal, depois que o ditador chileno Augusto Pinochet enganou a própria Espanha fingindo estar à beira da morte para escapar da extradição, e levantou da cadeira de rodas alegre e serelepe assim que pousou no Chile, todo pedido de “dodói institucional” vindo de golpista frustrado merece pelo menos um pé atrás. Ou dois.
Mundo Surreal: O homem que se dizia imbrochável e tratava Covid como gripezinha agora é quase personagem de novela hospitalar. Milagre ou medo? Cada um escolhe a interpretação.
15) Eduardo Bolsonaro vira réu por tentar envolver Trump nos processos do pai
Eduardo Bolsonaro, que queria ser embaixador nos Estados Unidos com currículo de “fiz intercâmbio e gosto do país”, agora será julgado por tentar pedir ajuda a Donald Trump para interferir na Justiça brasileira. O tiro saiu tão pela culatra que transformou o aspirante a diplomata em potencial réu internacional. É a diplomacia paralela que ninguém pediu — e que agora tem consequências jurídicas reais.
Mundo Surreal: Ele queria abrir portas. Conseguiu abrir processos.




