JK: a dúvida persiste em um trecho da Via Dutra

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Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã

Em um intervalo de apenas dez meses, entre agosto de 1976 e maio de 1977, os três principais líderes políticos de oposição à ditadura militar morreram. Juscelino Kubitschek, na Via Dutra, entre São Paulo e o Rio de Janeiro, no dia 22 de agosto de 1976 João Goulart, em sua fazenda no Uruguai, em 6 de dezembro do mesmo ano. E Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1977. Há quem desconfie muito da coincidência da morte dos três em um intervalo tão curto. E quando já se discutia o fim da ditadura. Um ano depois da morte de Lacerda, em 11 de outubro de 1978, o mais duro dos instrumentos da ditadura, o AI-5, estava revogado. E a abertura começava sem os favoritos que poderiam ser eleitos num retorno democrático.

Nilmário

Entre os que desconfiam de que pode não ser coincidência está o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Por isso, a Comissão de Mortos e Desaparecidos resolveu reabrir o caso sobre JK.

Verdade

“A essa altura, o propósito não é produzir nenhum tipo de responsabilização”, explicou Nilmário ao Correio Político. “Mas tentar restabelecer a verdade. Porque o povo brasileiro tem o direito de saber a verdade sobre a sua história, sobre o que aconteceu no país”.

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Nilmário: “País tem direito à verdade” | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil



O principal motivo pelo qual a comissão resolveu reabrir o caso é um laudo do perito em transportes Sergio Ejzenberg pedido pelo Ministério Público dentro de uma investigação sobre a eventual responsabilidade do motorista de JK, Geraldo Ribeiro, que morreu também na ocasião. De acordo com o laudo oficial da época, o Opala onde viajava Juscelino teria ultrapassado um ônibus. Logo depois, esse ônibus teria batido na traseira do automóvel que, desgovernado, atravessou o canteiro que dividia a pista e foi se chocar com um caminhão em sentido contrário. O laudo de Ejzemberg afirma que não teria havido a batida do ônibus na traseira.

Família

Segundo Nilmário, ainda esta semana as famílias de JK e de Geraldo Ribeiro serão consultadas sobre a reabertura. Com relação ao ex-presidente, a pessoa consultada deverá ser sua neta, Anna Christina, filha de Márcia Kubitschek, e casada com o empresário Paulo Octávio.

Relatora

A relatora do caso será Maria Cecilia Adão, tendo como co-relator Rafaelo Abritta, assessor de Relações Institucionais do Ministério da Defesa. Reiniciada, não há prazo estipulado para as suas conclusões. “O que se deseja é apurar as circunstâncias”, diz Nilmário.

Jango

Se dependesse de Nilmário, também se reabririam as investigações sobre a morte de Goulart. Um ex-agente do serviço secreto uruguaio, Mario Neira Barreto, afirma que os comprimidos que ele usava teriam sido trocados para induzir o infarto que provocou sua morte.

Uruguai

No caso de Jango, a dificuldade é que uma reabertura dependeria do consentimento também das autoridades uruguaias, uma vez que ele morreu no exterior. “É um complicador. Mas, com relação a JK, há elementos robustos que justificam uma nova investigação”.



*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade

Publicado originalmente no Correio da Manhã.

Foto de capa: Morte de JK foi mesmo um acidente? | Gervásio Batista/Agência Brasil

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