Tel Aviv afirma que tropas foram atacadas; Hamas nega e acusa Israel de romper trégua. Mortes e impasse sobre devolução de reféns agravam tensão na região
O cessar-fogo entre Israel e Hamas entrou em crise neste domingo (19), após o Exército israelense acusar o grupo palestino de violar o acordo mediado pelo presidente americano Donald Trump. Segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI), militantes lançaram um míssil antitanque e disparos de armas leves contra soldados israelenses na região de Rafah, no sul da Faixa de Gaza — área prevista como zona de recuo militar no pacto.
Em resposta, Israel iniciou uma nova ofensiva aérea e terrestre contra posições do Hamas, alegando agir para “eliminar ameaças e desmantelar estruturas militares usadas para atividades terroristas”. Segundo autoridades palestinas, pelo menos 35 pessoas morreram nos bombardeios, além de dezenas de feridos.
O Hamas negou as acusações, afirmou continuar comprometido com a trégua e disse não ter conhecimento de confrontos em Rafah. O gabinete de imprensa do grupo, que controla Gaza, afirmou no sábado (18) que Israel já havia cometido 47 violações do cessar-fogo, resultando em 38 mortos e 143 feridos antes da ofensiva deste domingo.
Horas depois da retomada dos ataques, os Estados Unidos e aliados árabes — que participaram da mediação — ainda não haviam se pronunciado oficialmente. O vice-presidente americano J. D. Vance deve visitar Israel nesta semana.
Mortes e retomada parcial da trégua
As FDI confirmaram a morte de dois soldados israelenses durante os confrontos. Após a série de bombardeios, o Exército anunciou que suspenderia temporariamente as novas ofensivas, retomando o cessar-fogo “em conformidade com as diretrizes políticas e os termos do acordo”.
Mesmo assim, o clima é de forte tensão. O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou “firme ação contra alvos terroristas”, enquanto o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, exigiu o retorno total da ofensiva. “A crença falsa de que o Hamas vai mudar, ou respeitar o acordo assinado, está se provando perigosa para nossa segurança”, afirmou.
Impasse sobre reféns e corpos
A fragilidade do cessar-fogo também está ligada ao impasse sobre a devolução dos corpos de reféns israelenses. O acordo previa que o Hamas entregaria os 16 corpos restantes de reféns mortos, mas Israel acusa o grupo de atrasar deliberadamente o processo.
O Hamas afirma que o resgate de corpos sob escombros exige tempo e equipamentos específicos. Até o momento, o grupo entregou 20 reféns vivos e 12 mortos. Neste fim de semana, Israel identificou mais dois corpos recuperados: Ronen Engel, 54 anos, sequestrado no kibutz Nir Oz durante os ataques de 7 de outubro de 2023, e o tailandês Sonthaya Oakkharasri, 30, morto no kibutz Be’eri.
Autoridades palestinas confirmaram que Israel também devolveu 15 corpos de palestinos a Gaza no sábado.
Fronteira fechada e ajuda humanitária
Em meio à escalada, Netanyahu anunciou que a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, permanecerá fechada por tempo indeterminado, contrariando a informação da embaixada palestina no Cairo de que o ponto seria reaberto nesta segunda-feira (20).
Fechada desde maio de 2024, Rafah é o principal corredor humanitário para entrada de alimentos, remédios e combustível em Gaza, onde mais de 2 milhões de palestinos sofrem com deslocamento, escassez e destruição. O acordo de cessar-fogo previa ampliação da ajuda humanitária, mas as novas hostilidades colocam esse compromisso em xeque.
Acordo sob risco
A trégua, firmada em 10 de outubro, era parte de um plano de paz promovido por Trump com apoio de Egito, Qatar e Jordânia. O projeto previa a suspensão mútua de ataques, a libertação de reféns e o início de negociações sobre temas sensíveis como:
- Desarmamento do Hamas, exigido por Israel e rejeitado pelo grupo;
- Governança de Gaza após o conflito;
- Criação de uma força internacional de estabilização;
- Avanços em direção à criação de um Estado palestino.
Agora, com a retomada dos ataques, o acordo fica balançado. Analistas vem a escalada como um revés para a diplomacia americana e um teste à autoridade de Trump, que tenta consolidar uma trégua duradoura em uma das regiões mais instáveis do mundo.
Imagem destacada: Região de Gaza – Reprodução/Google Earth




