Governo não entendeu os recados da Lava Jato

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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã

No final da semana, o governo ainda ruminava os efeitos da crise do Pix, considerada a maior desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023. Na quinta-feira (16), Lula sancionara o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, passo inicial de uma mudança ansiada há mais de 30 anos. Mas não conseguia comemorar isso a contento porque ainda tentava sarar as feridas do episódio do Pix. Por que o terceiro governo Lula quase sempre só consegue ser reativo? Por que não consegue ser proativo e fazer chegar à ponta da sociedade suas realizações? Por que o episódio do Pix evidenciou que há com relação ao atual governo uma crise de confiança? Algumas fichas começaram a cair. De forma nada agradável.

 

Lava Jato

Dificilmente alguém do governo ou do PT irá externar. Mas algumas avaliações internas apontam que essa crise de confiança está relacionada ao fato de que nem o entorno de Lula nem seu partido compreenderam bem como a sociedade os enxerga após a Lava Jato.

 

Redenção

Quando as condenações da operação foram anuladas, incluindo a que levara Lula à prisão e, depois, quando a sociedade emendou elegendo Lula pela terceira vez, o presidente e seu partido pareceram ter entendido isso como uma redenção, uma espécie de perdão.

 

Governo não passa a ideia de que combate a corrupção

Lula impôs sigilo a alguns gastos de Janja | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

 

Não era. Primeiro, Lula venceu uma eleição apertadíssima, o que demonstrava que metade da sociedade estava contra ele. E não venceu exatamente porque a outra metade o perdoara absolutamente. Venceu porque se percebeu do outro lado um risco real à manutenção da democracia. Isso moveu setores mais conservadores, mais ao centro, para Lula. Além disso, as anulações na Lava Jato se deram porque se descobriu que os processos estavam eivados de vícios e combinações políticas. Mas não exatamente porque nada havia de irregular ou errado. O retorno não era uma autorização para que Lula retornasse cometendo os mesmos erros.

 

Coalizão

Pode-se até dizer que há determinadas situações das quais Lula é mais refém do que autor. Mas sua coalizão repete os mesmos problemas que produziram os casos de corrupção anteriores. Está totalmente baseada na distribuição de cargos e verbas orçamentárias.

 

Escândalos

Escândalos têm estourado. A justiça, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) se mexe, mas não exatamente o governo. As investigações sobre o orçamento atingiram o ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Mas ele permanece mesmo assim no governo.

 

Austeridade

O governo também não passa uma sensação de austeridade. Lula está longe de ser um Pepe Mujica. O que pode reforçar a ideia – que estourou no caso do Pix – de que o governo só se preocupa em arrecadar mais, mas não corta na própria carne nem refaz suas contas.

 

Janjômetro

A oposição chegou a criar um site que batizou de “Janjômetro”, para medir os gastos da esposa de Lula no governo. Ainda que o site fosse injusto e muitas vezes distorcesse dados, Lula colocar em sigilo alguns desses gastos, em nada ajuda a dissipar o problema.

 

 

*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade

Publicado originalmente no Correio da Manhã

Foto de capa: Indiciado, Juscelino Filho permanece no governo | Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

 

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