Da REDAÇÃO
A proposta de emenda à Constituição (PEC) que busca limitar investigações e julgamentos contra parlamentares reforça a leitura de que o golpismo no Brasil continua ativo e articulado, agora de forma institucionalizada. Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar sob vigilância reforçada e a deputada Carla Zambelli está presa na Itália aguardando possível deportação, o Congresso Nacional acelera uma agenda que prioriza a autoproteção de seus membros.
Câmara põe em pauta a PEC da blindagem
Nesta semana, a Câmara dos Deputados pautou a votação da chamada PEC da blindagem, que impede que deputados e senadores sejam investigados ou julgados por crimes comuns sem autorização expressa do Congresso. A medida retoma o texto original da Constituição de 1988, mas, na prática, é vista como uma tentativa de dificultar o trabalho de órgãos de investigação e Justiça.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu a proposta como “um direito do Congresso” e disse que ela busca garantir mais independência aos parlamentares. “Discutir as prerrogativas parlamentares também é uma prioridade”, afirmou durante evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico, em Brasília.
Segundo Motta, a medida não é retaliação a decisões recentes do Judiciário, mas uma reação ao que considera “instabilidade institucional”. Ele afirmou ainda que há um sentimento majoritário entre os deputados de que o trabalho legislativo “precisa ser melhor dimensionado do ponto de vista legal”.
Vigilância integral sobre Bolsonaro
A movimentação legislativa ocorre em paralelo ao endurecimento das medidas contra Jair Bolsonaro. Desde o início de agosto, o ex-presidente cumpre prisão domiciliar em Brasília, após violar medidas cautelares. No dia 26, o ministro Alexandre de Moraes determinou vigilância policial integral na casa de Bolsonaro, citando risco de fuga. A PF chegou a recomendar a presença de agentes dentro da residência do ex-presidente.
Além disso, foi encontrado no celular de Bolsonaro um rascunho de pedido de asilo político à Argentina, datado de 2024 — indício de que a fuga chegou a ser considerada seriamente por sua defesa.
Zambelli detida na Itália e sem direito à liberdade
Outra figura central da base bolsonarista, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), foi presa na Itália após deixar o Brasil sem autorização judicial. Investigada por participação ativa na tentativa de golpe de 2023, ela teve negado o pedido para responder em liberdade, mesmo alegando problemas de saúde. Zambelli aguarda decisão das autoridades italianas sobre possível deportação.
Golpismo estendido e reação da sociedade
As manobras recentes no Legislativo, somadas à ausência de responsabilização pela ocupação ilegal das mesas da Câmara e do Senado, mostram que o golpismo não foi contido. Pelo contrário: ele se deslocou das ruas para dentro das instituições. A obstrução dos trabalhos legislativos por mais de 30 horas na ocasião teve resposta tímida e conivente dos presidentes das duas casas, o que abriu caminho para o avanço atual da autoproteção institucional.
Esses movimentos — blindagem, anistia, silêncio frente à ocupação, tentativas de fuga — formam um projeto contínuo de desestabilização democrática, iniciado ainda no mandato de Bolsonaro e hoje mantido com apoio de parte expressiva do Congresso. Somente a mobilização da sociedade civil organizada e de todos os setores comprometidos com a democracia poderá frear esse avanço.
Foto da capa: Bolsonaro em prisão domiciliar, de tornozeleira – Divulgação Redes Sociais
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golpismo, Jair Bolsonaro, Carla Zambelli, Hugo Motta, PEC da blindagem, anistia, Câmara dos Deputados, tentativa de golpe, ocupação do Congresso, democracia





Respostas de 2
Bolsonaro tem que ser muito vigiado para evitar sua fuga.
É triste ver a que ponto a democracia do Brasil chegou , agora com um processo legislativo para acabar definitivamente com ela. Dar mais poder a este congresso é assinatura da sentença de morte ao que resta de civilidade no Brasil.