Alexandre Cruz*
A intersecção entre futebol e política sempre foi um terreno fértil para debates e análises profundas. Neste domingo passado, o mundo foi abalado por um atentado contra o candidato Donald Trump, que sofreu um tiro de raspão. A repercussão foi imediata e global, e a perspectiva das eleições estadunidenses, em novembro, intensificou as especulações sobre seu impacto.
Especialistas já apontam para uma vitória eleitoral antecipada de Trump, mas é muito cedo para afirmar isso com certeza. A história nos ensina que eventos como este podem mudar o curso de uma eleição de maneiras inesperadas e surpresas podem ocorrer até o dia do pleito eleitoral.
Da mesma forma, no campo do futebol, a influência política é inegável. Jogadores franceses como Kylian Mbappé se posicionaram veementemente contra a extrema direita, desempenhando um papel crucial na mobilização popular que resultou na vitória da esquerda nas eleições legislativas, realizadas há dois domingos. A posição de Mbappé e seus colegas foi emblemática da força do futebol como ferramenta de mudança social e política.
Eduardo Galeano, em suas reflexões sobre o esporte das multidões, destacou a capacidade deste de despertar tanto devoção quanto desconfiança. Ele observou que os intelectuais de direita, como Jorge Luís Borges, muitas vezes desdenham o futebol, vendo-o como uma distração que impede o povo de pensar criticamente. Já os intelectuais de esquerda frequentemente consideram um “circo burguês”, criado para desviar a atenção das lutas revolucionárias. Galeano, no entanto, argumentava que desprezar o esporte rei é desconsiderar as paixões do povo. Para entender o povo, é necessário compreender suas paixões, e o futebol é uma delas.
A potência do futebol de campo como força política e social é inquestionável. Quem não se lembra da Democracia Corinthiana, com figuras como Casagrande, Zenon, Vladimir e Sócrates, que transformaram um clube de futebol em um símbolo de resistência e liberdade? Ou do Jogo da Morte em 1942, quando o Dínamo de Kiev enfrentou os nazistas, sabendo que a vitória significaria sua execução – e ainda assim, venceram e foram fuzilados. Mais recentemente, Vinicius Júnior colocou em xeque o racismo nos estádios espanhóis, mostrando que a partida de futebol vai muito além das quatro linhas.
Esses exemplos ilustram como o futebol e a política estão intrinsecamente ligados. Ambos têm o poder de inspirar, mobilizar e transformar a sociedade. O atentado contra Donald Trump e as eleições nos EUA, assim como os posicionamentos de jogadores como Mbappé, mostram que o efeito desses eventos vai além do imediato, influenciando a opinião pública e moldando o futuro de nações inteiras.
A eleição americana ainda está a alguns meses de distância, e muitas águas vão rolar até novembro. É prematuro afirmar que Trump já garantiu a vitória, pois a política, assim como o futebol, é imprevisível. Fatos inesperados podem virar o jogo, seja nos campos ou nas urnas. Em tempos de incerteza, é essencial manter um olhar crítico e atento, reconhecendo a interconexão entre diferentes esferas da vida e a importância de cada ação e posicionamento. O futebol, com sua paixão e impacto, nos lembra que a luta por justiça e igualdade está presente em todos os campos da sociedade.
*Jornalista político.
Foto: Democracia Corinthiana contra o golpe – Pinterest.
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