Por NORA PRADO*
É na hora da morte que uma pessoa mostra o seu legado para o mundo. O Papa Francisco morreu na segunda-feira depois da Páscoa e o mundo inteiro, com algumas exceções, está de luto rendendo homenagens, desde ontem, ao redor do planeta inteiro. Sua trajetória de comprometimento com os pobres, os mais fracos e oprimidos foi a sua assinatura mais visível, embora tenha promovido algumas reformas na Igreja Católica em alguns pontos fundamentais. Aboliu o sigilo para padres, bispos e qualquer autoridade eclesiástica que tenha cometido abuso sexual dentro da sua congregação, impondo penalidades a altura do crime. Abriu investigações sobre movimentações financeiras suspeitas dentro do próprio banco do Vaticano, combatendo a corrupção no coração da instituição. Atualizou ritos nas missas católicas aproximando os fiéis da liturgia sagrada e aceitou de coração aberto e mente serena a união homoafetiva de casais homossexuais.
Francisco também se posicionou a favor dos povos originários do Brasil e alertou sobre os perigos das queimadas e da exploração desenfreada da Amazônia. Defendia a Natureza como o nosso maior patrimônio e era amigo das causas ambientais.
Nas suas aparições perante os fiéis, na praça São Pedro, discursou contra a guerra, sempre em favor da paz e pelas vítimas penalizadas em diversos conflitos armados. Pregou a tolerância entre os povos, promoveu o diálogo e foi um interlocutor político muito ativo nas guerras da Ucrania e no Oriente Médio. Fez mais de quinhentas ligações, nos últimos meses, para uma paróquia localizada em Gaza, que vivia sob constantes ameaças diárias. Era solidário ao povo palestino cruelmente massacrado no Genocídio imposto pelas forças militares de Israel e condenava esse escandaloso abuso de poder.
Era um Papa gentil, modesto e sem frescura do trato pessoal com os fiéis e diante das hordas de fãs pelo mundo inteiro. Aproximou líderes religiosos em inúmeras viagens para os mais remotos lugares do globo. Pregava a união dos povos e sabia que todas as religiões levam a Deus, sem tentar impor a sua própria fé. Era humilde e alegre, emanando vitalidade e jovialidade em todos os eventos dos quais participava. Mostrou que a simplicidade alcança verdadeiramente os corações e fez do seu pontificado uma ponte entre todas as nações semeando amor e a fraternidade, como poucos.
Resta sabermos quem ocupará o lugar imenso deixado por ele agora que uma nova eleição se aproxima. Entre os vários candidatos há os mais próximos a ele, com vocação semelhante para as reformas e o progresso da Igreja Católica, bem como conservadores e até ultraconservadores que se opunham as atitudes e decisões de Francisco. Desejo que o bom senso guie a todos os cardeais e que vença o mais progressista, naturalmente.
Seu legado de bondade, empatia e sensibilidade para com os desvalidos deve servir de referência para o futuro Papa, que terá uma régua bem alta como parâmetro de conduta a partir de agora.
Que a gente se espelhe em exemplos dignos de sua humanidade a flor da pele, sempre disposta a auxiliar os outros e cultive, igualmente, a alegria de viver e o sentido de igualdade e fraternidade, Amém!
*Nora Prado é atriz e poeta.
Foto de capa: Roberto Filho/Eleven/Folhapress
Uma resposta
saudades papa