Estratégias jurídica e política podem entrar em choque

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Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã

A entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro na quarta-feira (26) logo após o final do julgamento na 1a Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) demonstrou que haverá duas estratégias para enfrentar a acusação de golpe de Estado. A jurídica é levada no tribunal por seu advogado, Celso Vilardi. Como comentamos aqui no Correio Político, a linha, pelo menos nessa primeira etapa, nem nega que algo de muito grave andou se tramando no país. Fixa-se mais em negar que Bolsonaro tenha participado dessa trama. A política, levada por Bolsonaro na entrevista e por seus aliados visa o confronto com o Judiciário. É possível que, em algum momento, as duas estratégias possam acabar entrando em choque, e uma atrapalhar a outra.

Recursos

Respeitado criminalista, Vilardi irá tentar todos os recursos possíveis para ganhar tempo no julgamento e atrasar sua sentença. O problema é que cada conquista que ele obtenha nesse sentido enfraquecerá a tese de que se trata de um jogo de cartas marcadas.

Política

Bolsonaro e seus aliados já estimam a condenação. Por isso, trabalharão no sentido de fixar que o STF age como um tribunal de exceção, que o julgamento é uma encenação, e que toda a Corte, que faria parte do famoso “sistema”, já se uniu para impedir seu avanço político.

Zucco enumera o que chama de “jogo dos sete erros”

Vídeo apresentado por Moraes no julgamento | Foto: Antonio Augusto/STF


O líder da Oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), enumera o que chama de “jogo dos sete erros” do Congresso. Embora se vislumbre pontos de choque nas estratégias jurídica e política da defesa, há também pontos de conexão. Os sete aspectos apresentados por Zucco deverão também ser demarcados pelo advogado de Bolsonaro. Na verdade, já se encontraram muito no debate promovido pelo ministro Luiz Fux, que parece será o principal contraponto às posições de Alexandre de Moraes. Mas, de novo, quanto mais Fux prevalecer no debate, mais se enfraquecerá a tese de que tudo o que se inicia agora será uma encenação.

Foro

O primeiro dos sete erros seria o foro do julgamento. Se Bolsonaro não é mais presidente, questiona-se se deveria ser julgado no STF. O segundo, o conflito de interesses de alguns ministros, que, no entender da oposição, deveriam ter se declarado suspeitos.

Delação

O terceiro é a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que Zucco afirma ter sido sob pressão, e alterada nove vezes. O quarto, o desrespeito ao devido processo legal: o vídeo exibido por Alexandre de Moraes seria inserção de prova não compartilhada com as defesas.

Prerrogativas

Como consequência, Zucco enumera como quinto erro o desrespeito às prerrogativas dos advogados. O processo teria 45 mil diferentes peças entregues em o tempo hábil para que as defesas analisassem. Sexto: as defesas alegam que não tiveram acesso pleno aos autos.

Penas

O sétimo erro seria a aplicação de penas altíssimas e proporcionais. E, aí, centra-se na figura da cabeleireira Débora Santos, que pichou a estátua da justiça com batom. Mas Fux demarcou esses pontos no debate. Concluir desde já que será ignorado pode ser precipitação.


*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade

Publicado originalmente no Correio da Manhã.

Foto de capa: Vilardi e Bolsonaro: estratégias diferentes | Gustavo Moreno/STF

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Uma resposta

  1. Flávio Dino já disse q todos tiveram acesso aos autos em tempo hábil, esse tipo de análise parece as análises do mercado/mídia, sobre o crescimento do país, só joga pra baixo.

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