Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, volta a tropeçar em suas próprias palavras. Ao comentar o discurso de Lula na ONU, classificou a defesa da soberania como “um bom marketing” e aconselhou o presidente a “trabalhar no fim do dia” para abrir canais de diálogo. A frase é reveladora: Leite sugere que a soberania seria um recurso publicitário, enquanto o verdadeiro valor estaria em negociar.
Mas não é justamente Lula, com sua trajetória de negociações sindicais, parlamentares e internacionais, quem se tornou referência em diálogo? A pergunta que fica é se Leite realmente acredita ser mais capaz de conversar do que o presidente brasileiro.
A incoerência se repete quando trata de Tarcísio de Freitas. Leite afirma ter “apreço e respeito” pelo governador paulista, embora declare ressalvas à ligação dele com Bolsonaro. Mas Tarcísio só ocupa espaço político nacional porque é, de fato, sustentado por Bolsonaro e sustenta Bolsonaro. Fingir que existe um Tarcísio independente é uma forma de enganar ou de se enganar.
No fundo, Leite tenta se apresentar como moderado: crítico de Lula, mas não agressivo; simpático a Tarcísio, mas com ressalvas. O problema é que esse jogo de equilíbrio se desfaz diante da realidade. Soberania não é marketing e Bolsonaro não é detalhe.
*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.
Ilustração da capa: Eduardo Leite, Lula e Tarcísio de Freitas. Imagem gerada por IA CharGPT.
Tags: Eduardo Leite, Lula, soberania, Tarcísio de Freitas, Bolsonaro, PSD, política brasileira





Uma resposta
Comentário muito claro e pertinente. Muita gente, até de bom senso se engana com o bom mocismo do Leite. Dá pra lembrar muito bem da cara contrariada dele ao lado do Lula, na época enchente. Lula. Contrariado porque Lula prometia soluções imediatas e também por aparecer simplesmente ao lado do presidente.