Editorial do Estadão cobra punição exemplar a parlamentares bolsonaristas por “sequestro” do Congresso

translate

Ilustração gerada por IA ChatGPT

Da REDAÇÃO

O jornal O Estado de S. Paulo publicou nesta sexta-feira (8) um editorial classificado como um dos mais duros contra a atuação de parlamentares bolsonaristas em Brasília. O texto afirma que Câmara e Senado foram “sequestrados” por mais de 30 horas, quando deputados e senadores impediram o funcionamento das duas Casas em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.

Segundo o editorial, a ação ultrapassou os limites da obstrução parlamentar — prática comum e legítima em democracias — e configurou coerção e atentado contra o Estado Democrático de Direito. Os parlamentares envolvidos, afirma o texto, agiram “como traidores da mesma democracia que os consagrou nas urnas”.

Críticas à omissão da cúpula do Congresso

O jornal acusa os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, de falharem em agir rapidamente para encerrar o bloqueio, deixando de acionar a Polícia Legislativa de imediato. O editorial compara a postura dos dois com a de Ulysses Guimarães, que, segundo o texto, teria agido prontamente para proteger a instituição.

Duas medidas urgentes

Para o Estadão, a única forma de recuperar a autoridade moral e política do Congresso é:

  1. Punição rigorosa a todos os deputados e senadores envolvidos.
  2. Rejeição definitiva das demandas dos manifestantes, como a anistia a Bolsonaro ou o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

O editorial adverte que qualquer concessão seria “capitulação” e abriria precedente para que ações semelhantes se repitam no futuro.

Defesa da democracia

O texto encerra com a cobrança para que o Legislativo dê uma resposta clara aos “irresignados com os ritos democráticos” e se posicione contra “aventuras autoritárias” que tentem subverter as instituições. Para o Estadão, o momento exige firmeza institucional, não leniência.


Íntegra do editorial publicado pelo O Estado de S. Paulo em 8 de agosto de 2025:

(mantida conforme publicação original)

Golpismo explícito
A punição dos que sequestraram o Congresso a título de livrar a cara de Jair Bolsonaro tem de ser exemplar. Não se pode premiar com a leniência quem atenta contra o funcionamento de um Poder

O País assistiu, estarrecido, ao sequestro das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado por parlamentares bolsonaristas que decidiram rasgar o Regimento de ambas as Casas, afrontar a Constituição e manchar a história do Congresso fazendo-o refém de uma chantagem. Durante mais de 30 horas – que não deveriam ter durado nem 30 minutos –, os trabalhos legislativos foram suspensos na marra por uma súcia de deputados e senadores que puseram seus mandatos a serviço da impunidade de Jair Bolsonaro, e não do melhor interesse do Brasil. O que se viu não foi nada menos do que uma nova tentativa de golpe no coração da democracia representativa.

Chamemos as coisas pelo nome. Não há outra forma de descrever o que aconteceu em Brasília. Impedir o livre trabalho do Congresso não é outra coisa senão um atentado contra o Estado Democrático de Direito. Pior ainda quando a violência é perpetrada de dentro da instituição democrática por excelência por indivíduos que, malgrado terem sido legitimamente eleitos, agiram como traidores da mesma democracia que os consagrou nas urnas. Um absurdo.

Obstrução parlamentar é prática legítima em todas as democracias maduras. Porém, o que os vândalos bolsonaristas praticaram naquelas horas de caos não foi obstrução, mas coerção. Não foi protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro, foi delinquência. Em última análise, não foi política, foi seu exato oposto: a imposição de vontades por meio da força bruta.

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, falharam miseravelmente em impedir o sequestro. A Polícia Legislativa deveria ter sido acionada minutos após a paralisação dos trabalhos legislativos. Ulysses Guimarães, um dos mais altivos deputados a tomar assento na presidência da Câmara, não teria hesitado em fazê-lo. Já Motta e Alcolumbre, lamentavelmente, mostraram-se menores do que suas cadeiras ao se omitirem por tempo demasiado longo enquanto as Casas que presidem eram violadas por uma turba de parlamentares que, na prática, comportou-se como uma facção criminosa a serviço de Bolsonaro.

Passada a tibieza inicial, o único caminho republicano que se abre diante de Motta e Alcolumbre, se preocupados estiverem com suas biografias, é a restauração da autoridade moral e política do Congresso. E isso só será possível por meio de duas ações. Em primeiro lugar, a imediata e rigorosa punição de cada deputado e cada senador que participou do sequestro do Legislativo federal. O que eles fizeram é intolerável para um país que se pretende sério. Em segundo lugar, os presidentes da Câmara e do Senado devem enterrar definitivamente as demandas apresentadas pelos delinquentes a título de resgate. Avançar com a proposta de anistia a Bolsonaro e outros golpistas ou com o impeachment desarrazoado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes equivalerá a uma capitulação. Não se negocia com delinquentes. A democracia não se rende – ou deixa de ser democracia.

Por ora, é desconhecido o inteiro teor da barganha que Motta e Alcolumbre fizeram com os sequestradores travestidos de parlamentares para a retomada de seus assentos. Mas, se há um cálculo político que ambos têm de fazer agora, é este: caso não punam exemplarmente os radicais bolsonaristas, sinalizarão que sua tática bandida é aceitável e, consequentemente, pode ser repetida no futuro. Por óbvio, não pode. Em uma democracia digna do nome, não é normal o que essa gente fez.

O Congresso precisa dar uma resposta clara e firme aos bolsonaristas irresignados com os ritos democráticos: no Estado Democrático de Direito não há espaço para aventuras autoritárias que pretendem subverter as instituições em nome de interesses particulares de quem quer que seja. Deputados e senadores têm o dever de defender os interesses da sociedade e da Federação, e não do líder de um movimento político que cada dia mais se desvela como seita.

É hora de Motta e Alcolumbre, do alto dos cargos que ocupam, fazerem uma escolha entre a leniência que estimula a baderna e a firmeza institucional que a debela. A Câmara e o Senado precisam se erguer em defesa de sua própria autoridade. O País precisa de paz. E ela só virá se o Congresso não se ajoelhar diante dos que pretendem sabotá-lo.

https://www.estadao.com.br/opiniao/golpismo-explicito


Ilustração da capa: Ilustração gerada por IA ChatGPT


Tags:
punição parlamentares, Congresso Nacional, Jair Bolsonaro, golpismo, democracia, editorial Estadão, anistia, Alexandre de Moraes

Receba as novidades no seu email

* indica obrigatório

Intuit Mailchimp

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia..

Gostou do texto? Tem críticas, correções ou complementações a fazer? Quer elogiar?

Deixe aqui o seu comentário.

Os comentários não representam a opinião da RED. A responsabilidade é do comentador.

Respostas de 3

  1. Excelente! Nunca tivemos um Congresso tão desclassificado, nem na época da Ditadura. Urgente reduzir o fundo partidário e as emendas impositivas , pois são elas que alimentam essa súcia.

  2. Excelente o Editorial do Estadão!
    Os Presidentes do Senado e da Câmara, Alcolumbre e Motta, deveriam ter tido atitudes imediatas, contra esses Vândalos que afrontam nossa Democracia, dentro do Congresso!
    Essa trupe, deveria perder seus mandatos, por desrespeito a Constituição Brasileira. Se não for tomada uma Atitude coerente com a gravidade do que fizeram, a ORGIA, VAI CONTINUAR! Inadmissível a Anistia para Bolsonaro e seus Adeptos, por Crimes com Provas Reais e Impeachment para MORAES, que está cumprindo o seu dever de acordo com nossas LEIS?! Em nome da nossa Democracia, esses arruaceiros devem ser afastados PERDENDO seus Mandatos ficando inelegíveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress

Gostou do Conteúdo?

Considere apoiar o trabalho da RED para que possamos continuar produzindo

Toda ajuda é bem vinda! Faça uma contribuição única ou doe um valor mensalmente

Informação, Análise e Diálogo no Campo Democrático

Faça Parte do Nosso Grupo de Whatsapp

Fique por dentro das notícias e do debate democrático