Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
A pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 22 de agosto de 2025, apresenta um panorama eleitoral em oito estados — São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Goiás — que juntos somam cerca de 66% do eleitorado nacional. Os dados mostram uma fotografia reveladora das forças políticas regionais, especialmente entre os campos da direita, centro-direita, esquerda e centro-esquerda.
Dos oito estados pesquisados, cinco têm governadores alinhados à direita ou à extrema-direita: São Paulo (Tarcísio de Freitas), Paraná (Ratinho Júnior), Goiás (Ronaldo Caiado), Rio de Janeiro (Cláudio Castro) e Rio Grande do Sul (Eduardo Leite). Em apenas um desses cinco — Minas Gerais —, Lula venceu Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, e ainda assim por margem estreita de votos. Essa configuração territorial reflete o desafio que o campo progressista enfrenta para expandir sua influência fora dos redutos tradicionais do Nordeste e de nichos urbanos mais alinhados à esquerda.
Intenção de voto para 2026: números que revelam forças e fragilidades regionais
A pesquisa Genial/Quaest revela uma paisagem política fragmentada e marcada por assimetrias regionais no embate entre direita, centro e esquerda. A seguir, os principais números por estado:
- São Paulo: Tarcísio de Freitas (Republicanos) lidera com 43%, seguido por Geraldo Alckmin (PSB) com 21%. Erika Hilton (PSOL) aparece com 8%, Paulo Serra (PSDB) com 3% e Felipe d’Avila (Novo) com 2%. A direita e o campo conservador estão consolidados, enquanto a esquerda sofre com dispersão.
- Rio de Janeiro: Eduardo Paes (PSD) tem 35%, bem à frente de Rodrigo Bacellar (União Brasil) com 9% e Washington Reis (MDB) com 5%. Mônica Benício (PSOL) aparece com 4%. O dado expressivo de 30% de votos brancos/nulos indica rejeição aos nomes postos.
- Paraná: Sergio Moro (União Brasil) desponta com 38%, enquanto os adversários Paulo Eduardo Martins (Novo), Enio Verri (PT) e Guto Silva (PSD) ficam entre 6% e 8%. A direita segue dominante.
- Minas Gerais: Cleitinho (Republicanos) lidera com 28%, com Kalil (sem partido) em segundo, com 16%, e Rodrigo Pacheco (PSD) com 9%. O cenário está em aberto, mas inclina-se à direita.
- Bahia: ACM Neto (União Brasil) tem 41%, enquanto Jerônimo Rodrigues (PT) aparece com 34%. O embate se mostra mais equilibrado, com base sólida da esquerda, mas sem garantia de reeleição.
- Pernambuco: João Campos (PSB) lidera com ampla margem: 55%. Raquel Lyra (PSD) tem 24%. Aqui, o campo progressista se mostra hegemônico — uma exceção no cenário nacional.
- Rio Grande do Sul: Juliana Brizola (PDT) lidera com 21%, seguida de perto por Tenente-Coronel Zucco (PL), com 20%. Em terceiro lugar, Edegar Pretto (PT) tem 11%, Gabriel Souza (MDB) aparece com 5% e Felipe Camozzato (Novo) com 4%. Brancos/nulos chegam a 20% e indecisos a 19%. A rejeição ao atual governo e a divisão de forças indicam possibilidade real de alternância, com uma candidatura de esquerda ou centro-esquerda podendo crescer se houver unidade e clareza programática.
- Goiás: Daniel Vilela (MDB) lidera com 26%, seguido por Marconi Perillo (PSDB) com 22%, Wilder Morais (PL) com 10% e Adriana Accorsi (PT) com 8%. Apesar da vantagem conservadora, o quadro é mais competitivo do que aparenta.
Análises regionais: territórios em disputa
São Paulo
Tarcísio de Freitas conta com o apoio do bolsonarismo e do Centrão, alavancado pela máquina estadual. A esquerda, fragmentada entre PSB e PSOL, precisa superar suas diferenças para disputar com força o segundo turno. A rejeição ainda não consolidada de Tarcísio pode abrir margem para crescimento de uma alternativa progressista.
Rio de Janeiro
Apesar da liderança de Paes, o alto índice de brancos, nulos e indecisos revela uma população cínica em relação aos nomes postos. A esquerda, com Mônica Benício, ainda aparece com intenção modesta de voto, mas pode se beneficiar de um discurso renovador e antissistêmico frente à polarização local.
Paraná
Com Sergio Moro à frente, o campo conservador parece firme. Mas a direita tradicional pode dividir votos com o bolsonarismo, abrindo um espaço para a esquerda, caso ela se articule em torno de uma candidatura unificada, conectada com demandas locais e alianças sociais fortes.
Minas Gerais
Apesar de Lula ter vencido por estreita margem em 2022, o estado ainda expressa uma tendência de voto conservador. O senador Cleitinho lidera, mas o alto percentual de indecisos e o fato de nenhum nome superar 30% sinalizam espaço para disputa. A esquerda precisa se apresentar com alternativa mais robusta e conectada às demandas populares.
Bahia
Um dos raros estados onde o PT disputa com chance real de reeleição, mas com ACM Neto mantendo força. O desempenho de Jerônimo Rodrigues dependerá da capacidade de mobilizar as bases populares e da atuação coordenada com o governo federal em projetos locais.
Pernambuco
João Campos surge como liderança consolidada, com apoio expressivo. A presença de Raquel Lyra, embora significativa, não parece suficiente para ameaçar o favoritismo do PSB. Ainda assim, o campo progressista deve manter a escuta popular e compromisso com a reconstrução pós-pandemia e pós-enchentes.
Rio Grande do Sul
O cenário eleitoral é atravessado pela tragédia climática de 2024 e pela falha do governo de Eduardo Leite. Apesar de manter 58% de aprovação e 38% de desaprovação, segundo a Quaest, a pesquisa mostra que 54% dos eleitores consideram que o atual governador não merece eleger seu sucessor. Juliana Brizola e Zucco aparecem empatados tecnicamente na liderança, com Edegar Pretto ocupando espaço competitivo. A centro-direita enfrenta o desafio de sustentar um discurso de competência administrativa desmoralizado pelos fatos, enquanto a esquerda pode reconstruir vínculos se articular uma proposta consistente de reconstrução democrática e territorial.
Goiás
Governado por Ronaldo Caiado, um dos mais bem avaliados do país, o estado apresenta um favoritismo conservador consolidado. Ainda assim, a dispersão de votos entre MDB, PSDB e PL pode abrir uma fenda para o crescimento da candidatura de Adriana Accorsi, caso ela consiga mobilizar uma narrativa popular, voltada às periferias e ao campo.
Balanço crítico e estratégico
Os dados da Genial/Quaest sugerem um equilíbrio delicado entre continuidade e rejeição. A direita institucional segue forte em estados-chave, sustentada por altos índices de aprovação e estrutura partidária consolidada. Mas não há hegemonia incontestável: em Minas, Rio Grande do Sul e Bahia, o cenário é fluido. A esquerda precisa se articular com inteligência e unidade para disputar esses espaços.
*A matéria foi corrigida, pois havia um erro nas intenções de voto registradas no Rio Grande do Sul. Agora os números do Rio Grande do Sul refletem os dados corretos com Juliana Brizola e Zucco tecnicamente empatados na liderança e Edegar Pretto em terceiro.
Ilustração da capa: Pré candidatos a governador por estado. Imagem gerada por IA ChatGPT
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