Por BENEDITO TADEU CÉSAR*¹
A direita brasileira vive hoje sua versão mais pobre — não de poder, mas de projeto, de rumo e de liderança com amplitude de visão. Sua presença é forte: está nos Governos estaduais mais populosos, em centenas de Prefeituras, controla parcelas significativas das Câmaras de Vereadores, das Assembleias Legislativas e tem peso determinante no Congresso Nacional. Apesar disso, ou talvez por isso mesmo, mostra-se cada vez mais refém de sua própria fragmentação e da ausência de um projeto de nação capaz de mobilizar a sociedade civil.
Para compreender como a direita chegou a essa posição, é preciso revisitar sua trajetória histórica — desde quando se apresentou como uma força organizada e com pretensão de liderar um projeto de nação, até o presente em que se repete como “direita sem rumo”.
A presença histórica da direita e da extrema‑direita no Brasil
A direita e a extrema‑direita brasileiras não são invenções recentes ou marginais. Na década de 1930, Plínio Salgado fundou a Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento nacional intelectualizado, com capilaridade, simbolismo (“Deus, Pátria, Família”), uniforme e estrutura paramilitar. Esse foi um momento em que a direita e a extrema‑direita formulavam discurso, queriam ser sujeitos políticos e almejavam influência real na constituição da nação.
Na fase republicana, após a Revolução de 1930, a direita, em seu amplo espectro, ocupou espaços reais no conflito político: a Revolução de 1932, denominada de “Constitucionalista”, mas que visava a retomada do poder pelas oligarquias regionais alijadas do governo central dois anos antes; a deposição de Getúlio Vargas em 1945; a eleição de Jânio Quadros apoiada por brados da direita. Durante o longo período de 21 anos (1964 a 1985) de duração da ditadura militar, a direita exerceu diretamente o poder e executou seu projeto. Promoveu o chamado “milagre brasileiro”, nos anos de 1970, e implantou o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), no governo do general Ernesto Geisel. Em todos estes episódios, a direita brasileira esteve como ator — não mero espectador.
Esse protagonismo histórico torna a situação contemporânea mais grave: a direita perdeu o fio condutor, embora não o peso institucional.
As ações da direita no processo constituinte e nos governos de Collor e FHC
Na chamada Nova República, a direita voltou ao centro do palco — mas com duas características centrais novas: primeiro, substituiu uma visão estratégica do país por uma postura de mero enfrentamento político; segundo, deixou de lado a construção de um projeto de nação para adotar ações pontuais de ajuste econômico na perspectiva liberal e um discurso moralizante como bandeira eleitoral.
Durante o processo constituinte de 1987/88, a direita autodenominada “Centrão” reagiu aos avanços políticos, sociais e econômicos propostos pelos partidos e setores progressistas apoiados pelos movimentos sociais e populares então em plena efervescência. A direita viu‑se obrigada a adotar postura reativa, sem explicitar amplamente o projeto político‑econômico neoliberal, que adotara importado pela via do chamado Consenso de Washington — de desmonte das estruturas do Estado e de qualquer projeto de desenvolvimento nacional autônomo e de caráter redistributivo.
Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, apresentou‑se e elegeu‑se como “caçador de marajás” do serviço público, antiesquerdista e antissistema, e governou como promotor de abertura liberal, iniciando as privatizações e realizando a liberalização comercial. O governo, no entanto, virou fiasco: hiperinflação, corrupção e impeachment em 1992.
Em seguida, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo de prestígio, ocupou a Presidência de 1995 a 2003. Elegeu‑se sob o sucesso do Plano Real e aprofundou o liberalismo econômico, as privatizações, a globalização do Brasil e reformas de Estado. Porém, enfrentou críticas de que a posição de “direita” ali praticada era um neoliberalismo frágil, sem reconfiguração estrutural capaz de gerar crescimento econômico significativo, redistribuir poder ou desenvolver soberania nacional. O próprio Presidente, que formulara na academia a teoria do desenvolvimento dependente e associado ao grande capital internacional, pediu à imprensa que esquecesse tudo o que ele havia escrito anteriormente. Tipicamente neoliberal, o governo promoveu o avanço do desmonte do Estado varguista — sem a implantação de um novo tipo de Estado que protegesse a soberania nacional — e o legado foi de crescimento econômico modesto, persistência de desigualdades e perda da audácia desenvolvimentista de proteção ao setor industrial nacional.
O único projeto viável era o de integração subalterna ao sistema econômico global, com desindustrialização crescente e a manutenção da posição de país fornecedor de matérias‑primas e produtos primários — notadamente minerais e alimentos — e com o encaminhamento da então chamada “modernização” dos sistemas previdenciários e de segurança social, geradora de perdas de direitos dos trabalhadores e da consequente insatisfação social. Isso deixou caminho livre para a degradação intelectual que se seguiria.
A emergência de Bolsonaro e da extrema‑direita como antipolítica e antiprojeto
Na esteira do fim de uma direita com visão de desenvolvimento do país no longo prazo, emergiu Jair Bolsonaro, líder da extrema‑direita vindo do escalão inferior do “baixo clero” parlamentar. Sua emergência não foi mero acaso: decorreu da campanha antipetista e anti‑Lula, de uma posição “antipolítica” que se definiu mais pela rejeição do adversário do que pela proposição de uma visão de mundo. Em vez de “direita com projeto de desenvolvimento do país”, temos, com Bolsonaro, o aprofundamento da “direita contra” não apenas os governos petistas, que buscaram construir políticas voltadas para o desenvolvimento nacional com soberania e inclusão social, mas crescentemente contra a democracia representativa e as instituições e práticas republicanas.
O fenômeno se alimentou da crise econômica internacional que fora contornada durante os governos Lula 1 e 2 e que chegou ao país durante a metade final do governo Dilma Rousseff 1 e se agravou durante o início do governo Dilma 2. A ascensão social e o consumo crescente das camadas populares ocorridos durante os anos Lula e a primeira metade do governo Dilma foram estancados de repente e a explosão da insatisfação popular tomou as ruas nas “jornadas de junho” de 2013, largamente exploradas e incentivadas pela imprensa corporativa. A Operação Lava Jato, oficialmente de combate à corrupção, mas especializada em “caçar petistas”, irradiou‑se de Curitiba para todo o país, apoiada pelas diferentes instâncias do poder Judiciário e amplificada pelas mídias tradicionais e eletrônicas de viés conservador. O “anti” virou estratégia: anti‑PT, anti‑Lula, anti‑intelectual, anti‑mídia, anti‑instituição.
Esse fenômeno gerou efeitos nefastos: a deposição de Dilma Rousseff, embora tecnicamente fosse um processo de impeachment, incorporou caráter de manobra política da direita e extrema‑direita contrárias ao projeto de país dos governos petistas, manobra que rompeu com o respeito às regras do jogo político, ao não aceitar os resultados eleitorais e buscar desestabilizar e depor o governo eleito, acabando por enfraquecer as instituições republicanas e normalizar o uso do Estado como arma de facção.
A ascensão de Bolsonaro ao poder foi alimentada pela dissolução da política em espetáculo judicial‑midiático, com a operação que prendeu Luiz Inácio Lula da Silva e o impediu de concorrer — fato que fragilizou o sistema democrático e permitiu o crescimento de uma extrema‑direita teatral que, impossibilitada de explicitar seu programa neoliberal radical e de submissão internacional, por ser impopular e não captar os votos das grandes massas, apontou como causa da insatisfação popular não só os governos petistas, mas todos os governos anteriores e expressou sua negatividade por meio das bandeiras do “antissistema” e do “combate à corrupção”.
No governo Bolsonaro acumularam‑se desastres: estagnação econômica, retorno do país ao mapa da fome, mais de 700 mil mortes no Brasil pela pandemia da covid‑19 (com o país tendo um dos piores desempenhos globais em proporção à sua população), entrega do controle de grande parte do orçamento federal aos deputados federais e senadores, sem controle rígido de sua destinação, por meio das emendas parlamentares, além de, derrotado na tentativa de reeleição, Bolsonaro ter tentado um golpe de Estado com apoio militar, incentivando o ataque direto às sedes das instituições representativas dos três Poderes da República em Brasília. Hoje condenado e preso pela tentativa de golpe, Bolsonaro expressa o ponto de degradação a que chegou a direita brasileira em sentido amplo como liderança de um projeto de Nação.
A implosão da direita tradicional e o reinado da direita de “negócios“
Sem bandeiras eleitorais de ampla adesão popular, a direita tradicional implodiu e o exemplo mais perfeito é o da deterioração e quase extinção do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o mais fiel representante da centro‑direita e o último partido do seu espectro ideológico que procurou alinhavar um projeto para o país além da mera defesa de interesses particulares e de segmentos de classe. Semelhante foi a trajetória do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) que, de partido‑frente, no qual se alojaram as diferentes correntes democráticas de oposição à ditadura, não soube ou não quis formular um projeto nacional próprio e transformou‑se gradativamente em um partido de defesa de interesses das oligarquias regionais.
No lugar anteriormente ocupado por esses dois partidos, emergiu a aliança entre a direita tradicional e a extrema‑direita voltada para a pura e simples tomada e manutenção do poder, encarnada pelo bolsonarismo (agrupado no Partido Liberal, no Progressistas e partidos adjacentes) e pelos integrantes do Centrão advindos das bancadas BBB (Boi, Bíblia e Bala) e embalada pelos partidos de negócios (que têm o Partido Social Democrático/PSD e o Republicanos como expoentes). Todos eles agora fortalecidos pelo uso eleitoreiro, além dos casos de corrupção, das emendas parlamentares, que impulsionam sua reeleição.
Frente a este cenário, algumas das mais proeminentes lideranças ainda restantes da centro‑direita tradicional, órfãos de agrupamentos ideológicos nos quais pudessem se agrupar, mas conscientes dos riscos à democracia representados pela possibilidade de consolidação da extrema‑direita no poder, se integraram à Frente Ampla Democrática que se formou sob a liderança do PT e de Lula, reabilitado para a disputa eleitoral depois que o STF decidiu se afastar do lavajatismo, para barrar a reeleição de Bolsonaro em 2022. Destaquem‑se os papéis desempenhados por Geraldo Alckmin e Simone Tebet. Alckmin, depois de ter sido governador de São Paulo por quatro períodos e candidato à Presidência da República em 2006 e 2018, sempre pelo PSDB, ingressou no PSB e compôs a chapa com Lula como candidato a vice‑presidente. Tebet, senadora e candidata à Presidência da República pelo PMDB naquele pleito, apoiou Lula no segundo turno, assumiu o Ministério do Planejamento no terceiro governo Lula e vem atuando em perfeita consonância com o presidente.
Hoje, aquilo que poderia ser caracterizado como o “projeto” dessa “direita nova” pode ser sintetizado, de um lado, pela reação a qualquer proposta de desenvolvimento nacional mais autônomo e inclusivo, e de outro, pela defesa dos interesses individuais e de classe dos seus integrantes e de seus financiadores. Projeto que se expressou recentemente, por exemplo, na recusa à taxação das bets, fintechs e super‑ricos e na adoção pelo Congresso Nacional do Orçamento Secreto e das Emendas Pix, nas propostas de anistia ampla aos golpistas de 8 de janeiro e/ou de redução da pena de Jair Bolsonaro e na autoproteção dos seus integrantes por meio de instrumentos legais, como as tentativas de aprovação da PEC da “Blindagem”, também conhecida como PEC da Bandidagem, e de adulteração da PEC Antifacção para reduzir a capacidade de investigação da Polícia Federal — ações voltadas para o favorecimento da impunidade parlamentar e do crime organizado.
Contraponto de lideranças ou de competências
Se revisamos diferentes lideranças de direita passadas, vemos que Plínio Salgado montou um movimento de massa, com organização, doutrina e apelo ético‑nacionalista — o integralismo com pretensão de uma abordagem de totalidade. Carlos Lacerda, por sua vez, era um jornalista político‑estrategista, articulador, elaborador de discurso, com capacidade de mobilização real, parte da elite de oposição, com capacidade de liderança. Já Roberto Campos, economista e intelectual liberal, foi defensor de um Brasil inserido no capitalismo global com eficiência e racionalidade administrativa. Miguel Reale também representou uma voz jurídica conservadora influente, com capacidade de formulação doutrinária e influência institucional significativa. Apesar das diferenças ideológicas, esses nomes tinham algo em comum: visavam formular uma concepção de país, com horizonte estratégico e capacidade de articulação institucional.
Em contraste, Olavo de Carvalho, que pode ser chamado de “guru da nova extrema‑direita brasileira”, misturou teorias conspiratórias, negação de fatos, anti‑intelectualismo e caça às elites, formando plateia, não sujeitos políticos formuladores de um projeto. Já Paulo Guedes, como superministro da Economia no governo Bolsonaro, representou a tentativa de encaminhar um ultraliberalismo descolado das condições sociais brasileiras. Sua agenda reduziu‑se a privatizações, cortes e desregulamentações, sem nenhuma mediação política com as realidades nacionais, regionais ou populares. Ives Gandra, embora de trajetória acadêmica reconhecida, contribuiu pouco para a formulação de um projeto de país, agindo mais como legitimador jurídico do conservadorismo institucional e das rupturas antidemocráticas. Esses três, apesar da influência pontual, não ofereceram à direita um projeto estruturado de futuro.
Esse contraponto evidencia o quanto a direita brasileira migrou de “direita com projeto” para “direita sem rumo”, de “direita estruturada” para “direita espetáculo” e para a direita golpista e apropriadora de recursos públicos. Uma direita que nega a própria política e a ação parlamentar, quando rompe acordos estabelecidos e desrespeita compromissos. Vejam‑se o estilhaçamento do “presidencialismo de coalizão”, com parlamentares de partidos de direita e do Centrão, que integram a base governista, votando e boicotando projetos governamentais, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, aprendiz de feiticeiro da antipolítica, traindo recorrentemente a palavra empenhada com o governo federal.
Novas lideranças de direita e extrema‑direita: pontos fortes, fragilidades e a atual dificuldade de articulação pós‑Bolsonaro
Enquanto a família Bolsonaro reluta em renunciar ao protagonismo que desempenhou até a prisão de seu patriarca e se mantém focada obsessivamente na votação de um projeto que o anistie, com os filhos e a esposa se alternando como nomes a serem sacramentados como seus sucessores, emergem hoje lideranças que disputam o legado de Bolsonaro e buscam reposicionar a direita. Por exemplo, Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) tem se colocado como figura de relevo na cena da direita, combinando perfil técnico‑administrativo com herança bolsonarista. Ele possui pontos fortes: experiência ministerial, eleitorado expressivo em São Paulo, e capacidade de mobilização de redes e coalizões. Porém, enfrenta fragilidades: vínculo com Bolsonaro, que limita seu alcance simbólico, e ao mesmo tempo necessidade de demonstrar autonomia e projeto próprio, além de resistências internas na base bolsonarista que ainda disputam sua liderança.
Dois erros recentes de Tarcísio ilustram bem essa fragilidade. Primeiro, ao indicar o deputado Guilherme Derrite, seu secretário de segurança pública, como relator da PEC Antifacção, acabou por permitir a formulação de um relatório que enfraquece a Polícia Federal, abrindo espaço para o governo federal, a esquerda, especialistas da área e setores da mídia o acusarem de proteger facções criminosas, o que o isolou politicamente ao não consultar os demais governadores do seu campo político (também pré‑candidatos à Presidência da República) para a elaboração do relatório. Segundo, seu apoio às medidas de Donald Trump, que impuseram tarifas ao aço e ao alumínio e outros produtos brasileiros, foi lido como uma posição antinacionalista, permitindo que o governo federal e setores progressistas erguessem a bandeira da defesa da Nação — justamente aquela que a direita tradicionalmente reivindicou. Suas declarações recentes, que verbalizam a necessidade de políticas que viabilizem a retomada do desenvolvimento industrial e científico nacional são uma tentativa clara de minimizar os efeitos nefastos das declarações anteriores. Esses erros não se restringem ao percurso pessoal de Tarcísio: suas consequências se projetam sobre todo o campo da direita brasileira, comprometendo sua legitimidade simbólica e dificultando a reapropriação de bandeiras fundamentais, como foi a do combate à corrupção. Hoje, inúmeros deputados e lideranças nacionais e regionais da direita estão sendo investigados pela Polícia Federal por apropriação indébita de recursos públicos.
Academia e imprensa apontam que a direita brasileira está fragmentada — “em busca de nome” em vez de projeto para o país. Outras figuras menores do mesmo campo, como Ratinho Júnior (governador do Paraná), Romeu Zema (governador de Minas Gerais), Ronaldo Caiado (governador de Goiás) e Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul) emergem na “direita nova”, mas também exibem fragilidades: foco em marketing, populismo local, escândalos ou declarações controversas e ausência de construção de aliança nacional sólida. A imprensa já registra que “a direita está fraturada e em busca de sucessor” sem conseguir até agora se unificar.
A atual incapacidade de articulação pós‑Bolsonaro se manifesta em disputas internas pela herança bolsonarista, ausência de programa claro ou de agenda de médio prazo e falta de interlocutor capaz de mobilizar além da retórica da guerra cultural ou do ressentimento. Se essa incapacidade não for superada, a direita continuará forte institucionalmente — bancadas, governadores, prefeitos, vereadores, partidos —, mas irrelevante para a produção de política como direção a ser dada ao país. Claro: essa situação pode ser superada, sem dúvida, se surgirem lideranças com visão, programa e articulação, mas até agora elas não existem.
Democracia exige alternativas com projeto, não apenas lideranças em busca de poder
Essa direita — conservadora, de inspiração neoliberal, populista, seja da escola bolsonarista ou “governista de ocasião” — opera em Brasília, nos estados e nos municípios. Mas ela carece de rumo, de liderança — intelectual e moral — e de projeto para além do ciclo eleitoral, das posturas reativas contra políticas de desenvolvimento soberano e com inclusão social, e da autoproteção para infringir a lei. Olhando para trás, vemos que já houve direita com ideias, mobilização e programa para o país, capaz de fazer acordos e honrar compromissos políticos. Hoje, o que se vê é mais uso da máquina pública e menos visão de país; mais reatividade e menos protagonismo.
No campo da democracia, isso importa profundamente: a existência de uma direita com projeto para o país — e não apenas de uma extrema‑direita sem finalidade senão reação contra — é condição de disputa democrática rica, de pluralismo real, de alternância com significado e de controle mútuo de poder. Defender que haja uma direita com visão não implica adesão à direita: implica exigir que exista contradição democrática genuína, que a política se alimente de visões distintas e que o país tenha alternativas à esquerda e à direita capazes de dialogar, disputar, trocar e propor. Sem isso, a democracia se empobrece.
Se a direita não se reassumir como sujeito histórico, se não redefinir sua base, sua razão de ser e seu papel — e se ficar alheia ao debate sobre soberania, desenvolvimento, justiça social, meio ambiente, participação civil — estará condenada a ser apenas instrumento ou caricatura, não força política viva. E isso é ruim, não apenas para quem se define como de direita, mas para o conjunto democrático do país.
*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Maria da Graça Pinto Bulhões é socióloga e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
1) Este texto contou com observações críticas essenciais de Maria da Graça Pinto Bulhões, a quem agradeço.
Ilustração da capa: Plínio Salgado, Ernesto Geisel, Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro ensinando menina a fazer arminha com a mão. Imagem gerada por IA ChatGPT.





Uma resposta
Artigo de fôlego fazendo uma retrospectiva histórica no comportamento das forças políticas antes, durante e após a ditadura militar e agora resta analisar o comportamento do congresso nacional em confronto permanente com o Executivo tentando inviabilizar suas propostas de desenv. olvimento sustentável, numa queda de braço estéril, e por vezes histérica.
Vamos aguardar ansiosamente os próximos capítulos