Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã
Ao contrário da cogitação inicial, poderá ficar apenas na substituição de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação da Presidência as mudanças ministeriais no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Cogitou-se que a mudança na comunicação seria o primeiro passo de uma alteração mais ampla. Lula anda revendo essa possibilidade. Especialmente porque a ideia inicial significava ceder mais espaços no governo ao Centrão, essa base de apoio fluida, que ora está com o governo ora não está, muito mais de acordo com suas próprias conveniências do que as de Lula ou do governo. Depois que retornou a pleno do acidente que sofreu no ano passado, Lula começou a avaliar o peso dessa mudança.
Pressão
Por que ceder ainda mais à pressão do Centrão se não há garantia de que isso significará mesmo maior apoio? A avaliação é de que Lula passou o ano passado sendo refém desse grupo: quanto mais cedia, mais o grupo pedia compensações e apresentava dificuldades.
Senha
Passou meio desapercebida, mas Lula deu essa senha na reunião ministerial, quando disse que a permanência de um ministro vai depender do que entrega. Inverteu a lógica: esse ministro é que passará agora a ter que apresentar resultados que o justifiquem.
Lula entregaria mais espaço a quem não se compromete
Qual é o projeto de Kassab e outros aliados? | Foto: José Cruz/Agência Brasil
Lula até andou dando sinais esta semana de dúvidas quanto à sua saúde e disposição para disputar novo mandato em 2026, quando estará com 81 anos. O acidente e suas consequências o fizeram refletir muito sobre isso. Mas, por enquanto, o nome é ele. Ou alguém que se construa a partir do atual governo. Nesse sentido, incomoda ao presidente que boa parte dos espaços no governo estejam ocupados por quem não se compromete ainda com o mesmo projeto. Gilberto Kassab, do PSD, já disse isso com todas as letras. Outros, como o União Brasil, têm candidato próprio já colocado na disputa, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Projeto
Assim, a atuação dos ministros dessas pastas visa de fato a construção de um bom governo que se coloque como alternativa de continuidade em 2026, ou visa criar trampolins isolados para alavancar no futuro outras possibilidades? Na falta de clareza sobre isso, não se mexe.
Dificuldades
Claro, ao agir assim Lula talvez tenha de administrar certa ressaca no retorno do Congresso. Se os partidos do Centrão tinham a expectativa de ganhar novos nacos, isso não aconteceu ainda. E pode, talvez, gerar alguma retaliação. Mas os comandos serão outros.
Suave
Espera-se que Hugo Motta (Republicanos-PB) seja bem mais suave do que foi Arthur Lira (PP-AL). Por outro lado, Motta acertou compromissos com nada menos que 18 partidos para construir sua candidatura. Entre eles, está o PT de Lula. Mas também está o PL e a oposição.
Frustração
E as decisões de Flávio Dino frustraram a liberação de emendas orçamentárias. Mas Lula sempre poderá argumentar que no ano passado bateu o absurdo recorde de liberação de mais de R$ 50 bilhões. Lula está disposto a ser menos refém do Congresso.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Publicado originalmente no Correio da Manhã
Foto de capa: Pode ficar só na troca de Pimenta por Sidônio |: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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